ELA/ELE

Era uma manhã comum de agosto. O calor tomava conta da cidade, contundo naquele horário uma neblina tornava o clima ameno. Na segunda cadeira do ônibus do lado direito Ela não prestava muita atenção nas imagens que passavam rápido lá fora. Sua atenção estava voltada para o que iria fazer naquela noite.

Existia um cara, ao qual Ela acreditava amar desde o ínicio do ano anterior. Ela estava enganada, há uma semana, depois de entrar no perfil dele em uma rede social surpreendeu-se com a mudança de status, agora havia namorando. Ela não conseguiu se conter e ao entrar no perfil daquela que seria a namorada do seu suposto amor percebeu que os interesses amorosos dele tinham um nível inferior ao dela. Foi como se todas as trocas de olhares e todos os meio sorrisos tivessem partido apenas dela. Se sentiu uma idiota.

Ela estava no segundo ano do ensino médio e aquele ano estava sendo um pouco complicado antes mesmo daquela notícia. Os amigos de Ela estavam em salas diferentes e alguns haviam descoberto sua homosexualidade recentemente. Ela ainda era uma menina inocente, tinha 15 anos e nunca tinha sequer beijado alguém. A frustação do amor não correspondido a fez aceitar uma proposta.

Seria naquela noite o seu primeiro encontro e possivelmente seu primeiro beijo. Nada demais uma garota de 15 anos ter um encontro, não fosse pelo fato do encontro ser com outra garota. Ela estava confusa e com medo. Não queria dar para trás e ser chamada de fraca. Entretanto não tinha certeza se era aquilo que queria. Sempre sonhou com o primeiro beijo em uma pessoa que sentisse algo por ela.

Seus pensamentos corriam mais rápido que o ônibus. Era como se nada em volta existisse, até que em meio a tanta gente e tantas paradas algo lhe chamou a atenção. Ele estava parado fora do ônibus sentado no banco com a farda da escola que Ela sempre quis estudar. Ele tinha algo que prendeu a atenção de Ela. Seus cabelos eram cacheados e sua pele tinha um tom avermelhado, algo no olhar que era difícil de decifrar, mas que não a deixava desviar. Ela passava por ali todos os dias naquele mesmo horário e nunca tinha o visto. Passou o resto da manhã pensando nele. Tinha gravado todos os detalhes do seu rosto e não sabia bem porque, mas tinha que saber mais sobre Ele.

Naquela tarde entrou em uma rede social e procurou pela escola do garoto, encontrou um grupo e por impulso chutou um nome. Não apareceu nada. Tentou novamente e lá estava Ele. Mexeu em tudo. Precisava saber tudo. Sentia como se já o conhecesse. Ele gostava das mesmas coisas que Ela. Ela queria ser jornalista e Ele advogado. Ela era apaixonada por cachorros e Ele também. Ela não queria um cara da sua cidade e Ele veio de outro estado. Ela ouvia rock dia e noite e Ele não queria saber de outra coisa. Ela era de virgem e Ele de câncer. Ela jogava videogame com o irmão e assistia comédias e Ele fazia exatamente o mesmo. Ela era perfeita para Ele e Ele era perfeito para Ela.

Foi naquele momento que Ela percebeu que esse quase encontro não foi por acaso. Ele poderia estar em qualquer lugar, mas estava ali e Ela poderia nem tê-lo precebido, mas algo a fez sentar exatamente naquele lugar naquela manhã.

Se Ela e Ele ficarão juntos, só o tempo dirá. Mas mesmo que isso não aconteça Ele ajudou Ela em segredo e a salvou de si mesma quando as pessoas que a amavam não sabiam o que fazer.

Maria Destemida
Enviado por Maria Destemida em 29/07/2012
Código do texto: T3803774
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