MEUS SONHOS, MEU CONSOLO

Ed afastou a cortina da janela do quarto e olhou através da vidraça. O tempo frio e nublado quase o fazia retornar ao leito, mas dali a algumas horas estaria voando para São Paulo, onde participaria de uma reunião com empresários em uma grande empresa. Olhou para a cama e viu que a esposa ainda dormia, o dia estava mal começando.

O café da manhã fora servido pela governanta e Ed estava feliz na conversa com Sara, sua esposa. Dessa reunião poderia surgir uma grande oportunidade dele auferir ganhos milionários e investir em sua própria empresa. Sua felicidade estava estampada no rosto e contaminava Sara, que sempre sonhara com um padrão de vida melhor, apesar de não reclamar do luxo que usufruía, mas queria um pouco mais.

Ed desembarcou do automóvel no estacionamento do aeroporto e entregou as chaves do veículo para Sara, que seguiria para o seu trabalho, onde gerenciava uma empresa do ramo de telecomunicações. Era assídua no cumprimento de suas atividades.

O avião decolou e Ed dava a impressão de estar rindo à toa, cumprimentando as comissárias de bordo quando passavam pelo corredor da aeronave ou conversando com o passageiro vizinho. Afinal era um dia muito importante para ele. Quase uma hora havia se passado do vôo quando subitamente o piloto anunciou sobre um problema, pedindo calma para todos, que já percebiam que o avião não voava normalmente. O pânico foi gerado, homens e mulheres começaram a gritar. O aparelho perdeu altura e em poucos minutos caiu em uma área de mata fechada, se espatifando e pegando fogo. Infelizmente ninguém escapou, o que foi constatado após as buscas pelas autoridades competentes.

Sara fora informada do ocorrido e se desesperou, sentindo profundamente a morte do marido. Todos os seus sonhos foram por água abaixo. Perdera o ânimo e até a vontade de viver e durante dias permaneceu sem se alimentar direito.

Passados três meses do acidente, Sara teve um sonho com Ed, que pedia para que se acalmasse, informando que a visitaria com frequência em sonhos e que fora necessária aquela partida repentina, mas ela não se conformava e chorava abundantemente após esse sonho. Com efeito, quase todas as noites Sara sonhava com o marido, que lhe dizia palavras bonitas, lhe deixando bastante comovida e conformada. Se acostumou a dormir mais cedo para poder sonhar mais tempo, para ter essa “companhia” tão desejada e que a deixava feliz. Essa foi a razão de Sara tomar gosto pela vida, de não se sentir mais só, agradecendo a Deus quando a noite chegava, certa de que em sonho o seu homem a cortejaria, esse era o seu consolo.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 24/07/2012
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