O MURO
Era uma vez um muro. Um muro sólido e alto. Tão alto que a vista se perdia. Cercada por esta muralha vivia uma moça. A moça sentia-se segura dentro daquele espaço que a circundava. Era sua zona de conforto, seu porto seguro. Lá dentro a vida era tranqüila e previsível.
Entretanto, neste espaço, havia uma gastura... Um não sei quê, que não incomodava muito; só às vezes. Por isso, vez ou outra, a moça sentia tédio e solidão e, nesses momentos de vida, desejava se libertar daquele espaço em que habitava, para tão logo perder a coragem ante os temores da vida além muros.
Mas, como todo humano, era moça curiosa e o desejo de se aventurar, que nascia lá no fundo de sua natureza solitária, impelia-a a querer escalar o muro. Esperou por um motivo, um impulso...
Num fim de tarde, um motivo surgiu. E a menina encheu-se de coragem e força e rompeu o muro que a “protegia”. O fez com uma volúpia e urgência que sempre a assustava no romper da aurora. Aurora! Foi isso que ela experimentou. Surgiu dentro dela um grande clarão e seus olhos se encheram de alegria. E gostou da sua atitude de se jogar além dos muros. E foi imensamente feliz...
Ainda que por pouco tempo. É que a moça desconfiada percebeu que o desejo dela não voava na mesma cadência do desejo dos outros... Do outro! E, de repente, aquele mundo fascinante e cheio de esperanças, tornou-se ameaçador. A menina então chorou. Chorou lágrimas de uma vida, e recolheu. Esqueceu sua condição borboleta. Não queria mais voar. Tinha medo de se perder no vento forte que soprava depois do muro.
A volta pra casa era inevitável. E assim fez. Ela está quieta agora. Está tentando se desfazer das delícias experimentadas na vida do outro lado do muro. Foi tudo tão rápido e tão intenso. Intenso, a ponto de deixar saudades. Uma saudade que acompanha a solidão que nasceu junto às suas asas. Asas de borboleta que não deseja mais o voo.
A moça amadureceu mais um pouco, é verdade, mais a cada dia pensa que, talvez, não devesse mais transpor seus muros. Lá existe amor e muito amar. Mas, existem também decepções e desencontros que a moça não está certa de que vale a pena arriscar.
E assim vive a moça... A perambular pelos caminhos circulares de sua própria órbita...
* Conto publicado no livro Curvas & Poesia- 2011 pela Paco Editorial _ Jundiaí SP
Entretanto, neste espaço, havia uma gastura... Um não sei quê, que não incomodava muito; só às vezes. Por isso, vez ou outra, a moça sentia tédio e solidão e, nesses momentos de vida, desejava se libertar daquele espaço em que habitava, para tão logo perder a coragem ante os temores da vida além muros.
Mas, como todo humano, era moça curiosa e o desejo de se aventurar, que nascia lá no fundo de sua natureza solitária, impelia-a a querer escalar o muro. Esperou por um motivo, um impulso...
Num fim de tarde, um motivo surgiu. E a menina encheu-se de coragem e força e rompeu o muro que a “protegia”. O fez com uma volúpia e urgência que sempre a assustava no romper da aurora. Aurora! Foi isso que ela experimentou. Surgiu dentro dela um grande clarão e seus olhos se encheram de alegria. E gostou da sua atitude de se jogar além dos muros. E foi imensamente feliz...
Ainda que por pouco tempo. É que a moça desconfiada percebeu que o desejo dela não voava na mesma cadência do desejo dos outros... Do outro! E, de repente, aquele mundo fascinante e cheio de esperanças, tornou-se ameaçador. A menina então chorou. Chorou lágrimas de uma vida, e recolheu. Esqueceu sua condição borboleta. Não queria mais voar. Tinha medo de se perder no vento forte que soprava depois do muro.
A volta pra casa era inevitável. E assim fez. Ela está quieta agora. Está tentando se desfazer das delícias experimentadas na vida do outro lado do muro. Foi tudo tão rápido e tão intenso. Intenso, a ponto de deixar saudades. Uma saudade que acompanha a solidão que nasceu junto às suas asas. Asas de borboleta que não deseja mais o voo.
A moça amadureceu mais um pouco, é verdade, mais a cada dia pensa que, talvez, não devesse mais transpor seus muros. Lá existe amor e muito amar. Mas, existem também decepções e desencontros que a moça não está certa de que vale a pena arriscar.
E assim vive a moça... A perambular pelos caminhos circulares de sua própria órbita...
* Conto publicado no livro Curvas & Poesia- 2011 pela Paco Editorial _ Jundiaí SP