Quase treze...
Hoje sei que não vou mais te encontrar. O meu maior erro foi esse. Tentei te encontrar em outras pessoas. Nunca me conformei. Não era assim que tínhamos combinado, lembra? Nós cuidaríamos uma da outra. Mas, eu falhei. Não percebi o quanto você estava doente e se sentindo solitária. E, então, você decidiu ir. Abandonou o tratamento que estava dando certo. Optou por aguardar a morte. Quando fechei os olhos, quando quis cochilar...você se foi, para sempre. Os anos passaram. Voaram. Já fazem quase treze anos. E, durante todo esse tempo eu procurei, como covarde que sou, para não enfrentar a vida sozinha, alguém que cuidasse de mim. Alguém que entendesse essa minha cabeça transtornada, estranha e que talvez, só você entendia. Mas, infelizmente, este alguém não existiu. Eu fantasiei, confundi os teus gestos e atitudes com os de pessoas, que são apenas elas. Não tem nada a ver comigo. Elas já têm os seus próprios problemas e filhos. E quem, neste mundo de hoje, vai querer outro filho? Preocupar-se e cuidar de outra pessoa que não é nada sua, que é apenas “ela”? A dor forte passou. Achei que nunca iria passar, mas passou. No lugar dela ficaram os erros, os enganos. A sensação que eu tenho é que vago pelo mundo, sem rumo. Quando penso que vou estabilizar...quando acho que vou ter: “a minha casa no campo”...ou apenas a minha casa...seja lá aonde for, na cidade, na praia ou no campo...tudo muda. Estou aqui, mais uma vez, acordando e voltando a viver neste pesadelo que é esse mundo para mim. Por todos os lados, o que vejo são pessoas grosseiras, más, egoístas, insensíveis com a dor alheia. Insensíveis com a fragilidade dos outros seres. O que importa é o vil metal. Correm para o trabalho. Trabalham correndo. Correm para casa. O que acontece neste ínterim não tem valor. As pessoas, no meio, são apenas objetos. Objetos desprezados, chutados, odiados. Confundir você com outros foi minha saída, foi minha fuga. A maneira que encontrei de assim, enfrentar a dor de não tê-la mais por perto. Consegui viver durante todos estes anos me iludindo, me enganando...não querendo enfrentar o pesadelo. Mas, enfim, hoje reconheço que é urgente encarar a realidade. Antes que este trem fique sufocante demais e...eu precise...seja obrigada a descer. Felizmente, nesta volta a vida e volta a luta, encontrei pessoas que ainda me fazem acreditar que dias melhores virão. Pessoas que não se ocultaram. Desta vez, eu sei que estas pessoas não são como você, nem tão pouco como eu...São melhores. São o que são, sem qualquer complicação e, por isso, contribuem, de alguma forma, para que este mundo seja um pouco melhor...talvez, não como eu gostaria, mas pelo menos...ainda digno de se viver.