SUELY ESPOSA E SUELY AMANTE

Conheci Suely quando ela tinha 17 anos, no colégio onde estudava. A aluna novata que acabara de chegar quase no meio do ano tornou-se a minha melhor amiga. Seu jeito alegre logo conquistou os demais colegas de classe, o que me causava bastante ciúme, pois eu com meus 20 anos achava que essa amizade em demasia deveria ser só comigo. Achava então que estava flertando com ela, só pelo fato de termos uma amizade mais chegada. Mas Suely era muito expansiva, ria com todos, era uma criatura que cativava todo mundo, o que me deixava muito enfurecido, apesar de não demonstrar isso para ela, nem para ninguém. Aguentava aquela barra resignado.

No final do ano a nossa classe organizou uma festinha de despedida, nos divertimos bastante e eu estava pra lá de eufórico, sempre ao lado de Suely, admirando a sua beleza, o seu sorriso, pegando na sua mão, fazendo de conta que existia um namoro, pois até aí não tinha nada de concreto, não nos beijávamos, coisa que eu desejava ardentemente, sonhando sempre com essa cena. Ela povoava meus sonhos quase todas as noites. Morria de vontade de chegar para ela e confessar o meu amor, de assumir com ela um namoro oficial, mas ela sempre se saía, dava um jeito de me agradar, tomando o devido cuidado de me manter sempre de alto astral, o que me deixava de certa forma satisfeito.

O ano letivo se iniciou e continuamos juntos na mesma classe, a alegria era a mesma, apesar de alguns colegas terem ficado em outra sala e outros terem se matriculado em outros colégios. Nesse ano eu planejava falar seriamente com Suely, saber da sua real decisão, enfim ouvir um sim ou um não, porém convicto de que um não seria como se o mundo desabasse sobre minha cabeça.

Certo dia cheguei na classe e não encontrei Suely. Achei que ela estava atrasada e aguardei impaciente. A aula transcorreu normalmente e ela não apareceu. Fiquei preocupado, mas aguardei ansiosamente o dia seguinte. Também não apareceu, o que me deixou super chateado e querendo saber o que teria acontecido. Como nunca tinha ido na sua residência, localizei o seu endereço e fui até lá. Para o meu desespero Suely já estava bem longe, seus pais haviam se mudado para outro estado e ninguém soube informar mais detalhes. Só fiquei sabendo depois que não houvera tempo para informar o colégio, pois o seu pai havia sido transferido de emprego e teve que viajar às pressas. Nunca mais vi Suely.

O tempo passou e essa garota não me saía da cabeça. Tentei namorar outras jovens mas continuava pensando nela. Várias namoradas até percebiam a minha indiferença.

Dez anos depois eu estava com uma namorada firme, já pensando em casar com Suely, que coincidentemente tinha o mesmo nome daquela por quem me apaixonei. Noivamos e marcamos o casamento, que não demorou a acontecer. Dois anos depois nasceu nosso filho.

Larguei do trabalho numa noite de chuva e aguardei o ônibus embaixo de uma marquise. Chovia forte e comecei a me molhar, tendo que me espremer junto de algumas pessoas, quando um olhar feminino me fulminou, acompanhado de um sorriso. Meu coração palpitou descompassadamente. Dois braços me envolveram e esqueci que era casado. Um longo beijo selou esse encontro, me deixei envolver com essa demonstração de carinho e nada mais tinha sentido para mim. Era Suely, aquela a quem amei verdadeiramente, que me fez sofrer com sua ausência. Chorei sem querer. Não queria mais saber da chuva e não me preocupei com o retorno ao lar. Suely estava ali na minha frente, ou melhor, nos meus braços. Não tivemos tempo de falar um do outro e para mim a emoção foi demais.

A noite parecia interminável para mim naquele quarto de motel, amando loucamente Suely, aquela que tanto desejei nos tempos da mocidade. Já amanhecia quando voltamos à realidade, quando falamos um do outro. Ela saíra de um casamento mal sucedido e ficara sabendo da minha condição de casado, mesmo assim continuamos o romance, continuamos a dar prosseguimento naquele amor que sequer havia começado. Não tive coragem de acabar meu casamento mas também não consegui resistir a esse amor que tanto me fez sofrer e que agora estava vivenciando com muita intensidade.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 21/07/2012
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