O Baile das Moças
As flores do jardim amanheceram mais alegres, o perfume mais intenso e os girassóis sorrindo inquietos. E o sol? Ah! O sol... Mais brilhante que nunca, chove ouro sobre aquele recanto colorido.
Ao abrir a janela do quarto, Luciana aspira toda a energia benéfica que a natureza lhe oferece. Está radiante. Pode-se notar no caloroso “Bom dia, sol!”, “Bom dia, flores!”. “Eu amo vocês!” Seus olhos brilham, sua voz canta, todo o seu ser vibra naquela manhã de luz. Está feliz. Muito feliz. Recebera de véspera, um telegrama de seu pai, dando consentimento para ir ao “Baile das Moças”. “É uma forma de vivenciar melhor e tornar menos monótona a vida neste lugar sem opções de lazer... Mesmo assim, é o mês de maio, mês das flores, mês da mulher, das mães e por que não das moças?”_ diz, beijando o telegrama e mostrando às pessoas de casa. À noite, estará nos braços do namorado a dançar, feliz como se fosse uma princesa de conto de fada! É o seu primeiro baile. Não tivera uma festa de quinze anos. Dessa data, guarda somente uma foto postal que colocou em seu álbum e um broche de ouro com nome e data gravados, que sua mãe lhe dera de presente. Está agora com dezoito anos, mas no seu coração, este baile lhe soa como se ainda fosse uma debutante.
O dia está curto para tanta euforia e longo para a hora de começar a festa. Luciana, de vez em quando, verifica o vestido azul-piscina que lhe cai muito bem na cor morena-clara, contrastando com os cabelos pretos. O colar, os brincos, as pulseiras, a deixam em dúvida... Quais ficarão melhores? Os de pedras vermelhas ou os de pedras brancas? Os sapatos, à Luís XV, em cetim preto, são guarnecidos por uma fivela de prata. O cabelo ficará entregue a uma cabeleireira, para um lindo penteado à moda, com muita altura e bastante laquê perfumado. Claro que um bom laquê das casas de cosméticos, não aqueles artesanais à base de breu e álcool, que deixam um péssimo odor!
Enfim, 22 horas. O clube, iluminado. As pessoas se dirigem para o recinto, ostentando belas roupas e jóias. O ambiente descontraído, os sons de mambos e boleros, a suavidade de perfumes franceses e outros da época, guardados para esses momentos, despertam um colorido no sorriso dos dançarinos ávidos por um acontecimento tão raro em suas vidas.
A orquestra inicia os sons de uma valsa, e os jovens escalados se apresentam no salão. Desta vez, os rapazes não fazem o célebre convite: “Senhorita, quer dançar?” É a festa das moças. Será delas a iniciativa. As senhoritas vestidas de azul convidam os rapazes para dançar e cada uma oferece ao seu par uma rosa vermelha: “Quer dançar comigo, cavalheiro?”
Os jovens dançam ao som da valsa “Danúbio Azul”, de Johann Strauss. Luciana valseia feliz nos braços de Márcio, seu namorado. Sente-se bem, no vestido azul, tendo como complemento os adereços de pedras vermelhas. Ele faz elogios à sua beleza:
_ Você é a mais bonita da festa – diz gentilmente, fitando-a nos olhos.
_ Você também está muito elegante. Sabe, tive receio de que não aceitasse o meu convite para dançar...
_ Jamais faria isso! Foi uma surpresa para os homens o serem convidados a dançar, pelas mulheres, já que somos dados ao machismo, mas confesso que fiquei lisonjeado e, por que não dizer, muito feliz pelo fato de ter sido você...
_ Gostaria de ter sido assim, o meu baile de 15 anos... Mas, o importante é que estou feliz agora... Com esta música linda, o brilho da festa e o prazer de sua companhia... Parece que estou sonhando!
Conversam e dançam alegremente ao compasso voluptuoso da bela valsa vienense, como se houvesse nuvens em seus pés e corações aureolando seus corpos, numa felicidade de aves voando... Uma profusão de perfumes envolve o local numa espécie de magia, fazendo daquele momento lindo uma comunhão de mútuas emoções. Luciana entrega-se à fantasia do sonho e do delírio.
De repente, sua irmã entra de penetra no salão. Fala e chora, puxando-lhe o braço. Algumas pessoas tentam afastá-la, mas ela não cede. Luciana quer defender o mau procedimento da irmã, com a desculpa de ser ingenuidade, mas Márcio rebate contrariado: “Ela é muito é mal educada”! Constrangida pelo desagradável acontecimento, Luciana pára de dançar. Uma nuvem de tristeza faz-lhe escorrer lágrimas pelo rosto, deixando transparecer todo o dissabor que lhe sufoca a alma. Sob a interrogação de olhares curiosos, retira-se do clube em companhia de Márcio.
Aqueles momentos de felicidade foram interrompidos pela insensatez de uma “desmancha prazer”, sem nenhuma explicação!
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Maria de Jesus Fortaleza, 19/07/2012