Confidências (final)

Continuação....

Então pude sentir minha espinha gelar por completo ao som daquelas palavras, que me estacou de tal maneira como uma arvore ao criar raiz e só me dei conta do que acontecia quando senti sua mão tocar a minha e assim fechar a porta e a me dizer:

Será que pode voltar à mesa? Não entendi por que saiu daquela maneira? Parece estar fugindo? Venha temos tanto o que conversar ainda.

Ainda fiquei parada ali por alguns instantes sem qualquer reação até que tomei consciência do que acontecia e sem ter coragem de dirigir meu olhar ao seu, pois meu olhar era de quem esta amedrontada, mas no fundo sei que esta me dirigindo aquele olhar costumeiro que tanto me acolhe e ele vem acompanhado de um sorriso encorajador que tanto me faz bem. Vejo você com sua insistência bem como característica sua e não recua um milímetro se quer apenas aguardando minha resposta, mas sem forçar minha vontade deixando que eu mesma decida.

É pedir muito a você que retorne a mesa comigo para conversarmos? Eu entendo você, sua cabeça deve estar um turbilhão só com tudo isso e também não faz ideia do que esta acontecendo, mas também não pode deixar as coisas como estão. Por que isso feriu a mim e a você. Mas deixo que decida o que for melhor ficarei aqui esperando sua decisão qualquer que seja.

Ainda em defesa me retraio por um momento quando sinto você me puxar pela mão, tenho medo do que possa vir a seguir e meu coração encontra-se descompassado sinto como se ele fosse saltar pela boca e se quer faço ideia do que fazer em seguida. Quando vejo seu semblante cair em desalento e me dizer com voz embargada e sentida carregada de tristeza:

Ainda vejo que tem medo, se mantém afastada o tempo todo. Por que faz isso? Olhe não irei fazer nada que você não queira o que apenas quero de você neste momento é que converse comigo... Por favor, voltemos à mesa. Escute quero muito saber o que esta acontecendo eu consigo ver o medo dominando seus olhos, o que te retém dessa forma, vamos me diga preciso saber.

É quando penso comigo “é injusto da minha parte negar-lhe as palavras depois de que você se dispôs a me ouvir”. Por fim me rendo as suas palavras e deixo que você me conduza à mesa ponto inicial de nossa conversa tomamos as mesmas posturas, você de frente comigo e eu de cabeça baixa olhar distante apenas esperando você dar inicio a tudo, mas não sei por que você ainda se mantém em silencio parece provocar minha ansiedade o que não sabe que isso esta me levando ao desespero e a vontade de sair correndo é gigantesca.

É quando vejo você inclinar a cabeça para frente e a me encarar tentando adivinhar o que se passa em minha mente um sorriso também se faz presente em seu semblante ao que parece você encontrou uma maneira de dominar a situação. Essa sua atitude faz disparar ainda mais meu coração e sinto o rosto ruborizar e com minha falta de coragem abaixo os olhos para que os mesmos não vão de encontro aos seus que nesse mesmo instante procuram pelos meus. Então por fim você decide falar:

Dizer que não sabia de nada estaria mentindo a você, mas o fato é que... Não imaginei que as coisas tomassem esse rumo. Isso tudo saiu do nosso controle. Fui pego completamente de surpresa por suas palavras e por instantes não soube o que fazer... Tentei até procurei algo coerente que fizesse sentido para te dizer naquele momento, mas nada vinha a minha cabeça. Foi quando vi você se distanciar indo até a porta foi ai que tive plena certeza que perdia você.

Ao ouvir suas palavras minha reação é levantar a cabeça e te encarar surpresa, mas você parece já estar esperando essa minha reação e em continuação diz:

Sei que não agi corretamente, que deveria ter te respeitado, que deveria ter esperado seu tempo e agora assumo que errei em todos esses pontos e não me sinto nada bem com isso.

Bem que tento lhe dizer algumas palavras, mas você me cala com um toque de dedos em meus lábios e minha coragem some feito fumaça. O silencio predomina quando você respira fundo e diz de uma vez só:

Não espero e nem vou te pedir que me perdoe ou mesmo que entenda, isso seria muita crueldade minha, mas essa sua atitude me fez ver muita coisa e a entender muitas outras.

Sinto suas mãos tocarem as minhas em um gesto de carinho e afeição, faço menção de me levantar, mas sou impedida por você que segura minha mão fortemente entendendo seu pedido me recoloco na cadeira e me disponho a ouvi-lo. Você por sua vez se larga na cadeira pouco se importando com sua postura lança a cabeça para trás no encosto, respirando fundo e em um momento de devaneio ouço você dizer:

Ah! Se eu não tivesse sido tão inconsequente, se tivesse pensado mais nas minhas atitudes tenho certeza que não precisaríamos passar por isso agora. Essa é uma situação nada agradável e me sinto muito desconfortável com ela, estou injuriado e muito confuso comigo mesmo. Meu Deus quanta bagunça por conta de uma omissão.

Sem saber o que fazer diante de suas palavras apenas observo, vendo cada detalhe, cada gesto seu, e ter plena certeza que nunca tinha te visto tão a vontade em uma conversa como se encontra neste momento. Você que sempre teve as palavras bem medidas, seus gestos meticulosamente bem cuidados e sem tirar sua preocupação para que tudo saísse perfeito, mas o vendo agora nestas condições pouco se importando aos seus dizeres consigo sentir sua sinceridade a cada palavra. Você volta de seu devaneio e balança a cabeça de um lado para o outro tentando encaixar os pensamentos e se refazendo das loucuras, você me olha fixadamente por longos instantes quando eu resolvo quebrar o silencio.

Não quero que pense que fiz tudo isso com qualquer intenção, mas é... Que eu precisa falar tudo àquilo ou acabaria por ficar maluca e também era direito seu saber delas, mas não quero de maneira alguma que se sinta pressionado por elas.

Aquelas palavras saíram quase que em suplicas para que você as entendesse e para que sentisse o mesmo que eu naquele momento. Então você passa a mão sobre meu rosto em carinho e me olha gentilmente e sustenta meu nervosismo com sua delicadeza. Eis que de repente vejo sua fisionomia mudar em um misto de surpresa e confusão e como a justificar minhas palavras você diz:

Pressionado? Eu? Não querida.

Jamais me sentiria pressionado por você ou por suas palavras, lembra-se que quando iniciamos essa conversa me pediu sinceridade em meus gestos e franqueza em minhas palavras, é o que estou fazendo. Conhecemos-nos há tanto tempo não é mesmo? Tantos foram os detalhes passados despercebidos e tantos outros momentos desperdiçados. O que fizemos com a gente? Hein, me diga?

E é nesse momento que sinto meus olhos naufragarem em lagrimas até tento sustenta-las para que você não as veja, mas é tudo inútil sinto um filete presente a cortar meu rosto tão vivo quanto os meus sentimentos. Já não penso em mais nada apenas escuto suas palavras ecoarem em meus ouvidos e perco noção de tempo e espaço e só o que me importa é esse momento. É quando ouço você dizer com voz embargada de tristeza:

Era esta cena que não queria presenciar, esse semblante riscado pela tristeza, esses olhos encobertos da forma como estão agora. Tentei tanto não te machucar e olhe agora o que acabo de fazer se soubesse como isso me corroí por dentro da culpa que eu sinto por vê-la assim.

Seco as lagrimas com as mãos e me recomponho das emoções e te respondo:

Ninguém tem culpa de nada aqui, mas foram nossas escolhas que nos levaram a isso. E não há nada o que se fazer agora.

Bem ciente da situação e na certeza de que nada pode ser feito me acalmo e novamente sinto suas mãos tocar as minhas e a me dizer:

Menina se soubesse o bem que me faz com certeza pararia de pensar essas bobagens que sei que perambulam por sua mente neste momento.

Engulo seco e passo a te encarar ao impacto de suas palavras, demoro um pouco até conseguir processar tudo que ouvi enquanto isso recebo de você um sorriso bem largo e satisfeito e enquanto eu procuro entender o que acontece ali. E ouço você repetir as palavras.

Você me faz um bem danado com esse seu jeito, um bem que és incapaz de imaginar.

Eu ainda meio aturdida com tudo pareço não acreditar e te pergunto o que quer dizer com tais palavras e então você ainda segurando minhas mãos diz.

O que estou tentando dizer já faz um bom tempo e que você teimosamente nega entender é que... Gostar-se-ia de fazer seu futuro ao lado meu?

Minha primeira reação é soltar-me de você e te encarar surpresa enquanto sinto o coração disparar ainda mais e você a continuara dizer:

Estou sendo sincero, estava sem coragem para lhe demonstrar tudo que sentia e por conta disso estava perdendo-a, então quando vi você se levantar e ir embora percebi que aquela era a hora de me decidir e assim provar todo meu sentimento por você, e quando vi aquelas lagrimas correndo por tua face em uma dor profunda e ainda vi teus olhos murchos e tristes foi a gota final para dar um basta , não aguentaria vê-la naquela condição ainda mais sabendo que era por mim. Foi ai que tomei a decisão. E a decisão que tomo agora é que... Quero fazer meu futuro com você.

Vejo você sair da cadeira e vir em minha direção sua fisionomia agora é de angustia, porém repleta de ansiedade, você para a minha frente e diz:

Diz que aceita... Que quando cruzarmos aquela porta estará junto comigo? Não me de seu silencio não agora.

Aquele pedido cai sobre mim feito concreto e fico sem reação por alguns instantes, tento pronunciar alguma coisa, mas sou impedida pela emoção do momento a única coisa que consigo te dar como resposta é meu sorriso (aqueles instantes foram para você como anos na eternidade). Então você me abraça fortemente e eu o retribuo depois me olha profundamente nos meus olhos e beija minha testa em sinal de respeito e diz:

Daqui para frente será diferente de tudo que foi até agora.

Saímos então de mãos dadas daquele pequeno estabelecimento e unidos agradecemos aquela dona que tão gentilmente nos cedeu seu espaço e partimos rumo ao nosso futuro, cruzamos a porta na certeza de ter deixado o passado para trás.

Bruxinha Faceira
Enviado por Bruxinha Faceira em 10/07/2012
Código do texto: T3771171
Classificação de conteúdo: seguro