O CÃO

Num sábado a mãe havia perguntado o que ele estava achando do colégio, e Romulo respondeu numa careta, Está legal mãe, está indo tudo legal, mas a mulher continuou sondando, remexendo as coisas no pequeno quintal, um vaso de planta num lugar melhor, enquanto Romulo parecia permanecer de costas, espiando pelo muro a rua, Está fazendo amigos, perguntou, e ele respondeu, É na medida do possível, na medida do possível, e voltando-se para ela que limpava as mãos de terra das plantas no avental, perguntou, Mãe a senhora conhece uma banda de rock chamada Eslaier? Ela meneou a cabeça num ar oco, Não, nunca ouvi falar nisto, ah, Romulo, eu não gosto muito de rock, seu pai é que gostava, uma época, sei lá, sacudiu os ombros, pegou outro vaso de planta e colocou junto ao portão, ficou olhando de certa distancia para ver que efeito havia produzido tal decoração.

_Quer que eu vá ao supermercado para senhora – perguntou de súbito, fungando.

_Ah, sim, adoraria querido – e entrando, veio novamente para fora com o dinheiro à mão a estender-lhe – está aqui compre: carne moída, batatas, traga refrigerante, e olha não de confiança a qualquer um na rua.

_Ih, mãe parece que eu sou criança – disse pegando o dinheiro e saindo. E foi assim cosendo pelo meio fio, desconfiado mesmo com as caras que ficavam o observando como um estranho, em sua maioria crianças ou moleques. Ouviu uma voz acatarrada de uma janela dizer a outra carantonha que o espiava pela mesma, É neto da dona Lurdes! Prosseguiu lento a caminho da mercearia, mas olhou para aquela rua que cortava a alameda que atravessava, e ficou parado a encruzilhada desta rua, percebendo-a silenciosa aquela hora alta da manhã. Será que ele morava ali mesmo naquela rua ou apenas veio visitar algum amigo, perguntou-se, as mãos no bolso da bermuda um pouco frouxa, mas vinha seguindo atrás dele, mesmo o percebeu bem adiantado um tempo depois, ambos de volta a escola, mas não soube bem de onde ele surgira, mexendo nos seus cabelos longos, os fones no ouvido, a mochila nas costas, chutando pedrinhas com seus tênis all star preto; pensou em acelerar o passo, alcança-lo e dizer, olá Felipe, mas não fez isto, andou ainda mais devagar, e então viu quando ele quebrou naquela rua, mas seguiu a alameda, e só depois pensou em espiar onde ele entraria, bateu na própria cabeça em sinal de reprovação a sua burrice, e então voltou o caminho, porem ele já havia evaporado, e com certeza havia entrado em algum daqueles portões.

Vou espiar agora, pensou consigo agora, excitado, já tremulo como num gesto de grande audácia, entrando na rua, asfalto rachado, parou estarrecido, as mãos nos bolsos, pálido ao sol, ao ver um portão se abrir, mas porem dele sair dois moleques sem camisas com pipas enroladas em linha numa lata. Mal o olharam, seguiram andando, e Romulo seguiu espiando, tentando olhar por cima dos muros, das casas que se podia ver as janelas abertas. Em uma tocava um som alto, um pagode meloso, melancólico, não, não, ali ele não morava, e voltou-se desistindo, com medo. Medo de que?, não sabia bem.

Na segunda feira encontrou-o longe do portão da escola, distante dos outros colegas, dos grupinhos, bem isolado, no final da calçada, encostado em uma arvore, os cabelos resvalando nos olhos, com uma revista nas mãos folheando, a mochila nas costas, os fones sempre nos ouvidos. Pensou em se aproximar, Romulo, mas abaixou o rosto afogueado, assustado, com medo. Felipe tinha um sorriso de um canto só dos lábios, assim entre as madeixas lisas do seu cabelo escuro que deslizava pelo seu rosto, e teve um gesto de afastar os cabelos e o jogar para trás, levando a revista aberta mais junto aos olhos. Romulo levou a mão à boca, roeu as unhas, contraiu o rosto, sentia o peito arder, arfar, percebeu que os olhos de Felipe desviaram obliquamente mal humorados para ele, mas voltou a se injetar na revista, aprumando-se mais, empertigando-se, jogando os cabelos para trás num meneio leve de cabeça. Romulo aproximou-se, tremulo, ouvindo o burburinho da conversa e risada dos colegas mais distante, atrás de si, ficando cada vez mais distante. Deu mais um, dois, três passos trêmulos e ficou bem em frente a Felipe, e este desviou fugidiamente os olhos da revista para ele, suspirou num ar saturado, fechou o semblante, contraindo os lábios rispidamente. Romulo se ateve na estampa da blusa preta dele embaixo do jaleco branco aberto: uma caveira cabeluda de dentes arreganhados, e em cima o nome da banda, sim, está Romulo conhecia de nome, Iron Maiden, leu baixinho, e Felipe levantou os olhos da revista e disse suspirando, virando-se para o que o contemplava parvo.

_Qual é a sua cara, fica o tempo todo me encarando, eu hem – disse Felipe mal humorado, os olhos injetados de desdém – sai de mim, cara.

_Eu...eu... – tentou Romulo gaguejando, tremendo, mas não conseguiu dizer nada, estava afásico, e no momento que o sinal tocou e o portão foi aberto e todo tumulto se formou na porta de entrada, Felipe fechou a revista, rindo num ar debochado, virou as costas para Romulo abanando as mãos em sinal de pouco caso, e foi caminhando em direção à entrada, embora devagar, esperando o tumulto diminuir, mas Romulo demorou-se um pouco ali junto a arvore, o olhar perdido, a boca aberta, os olhos se umedecendo, a boca seca, o peito arfando como um afogado.

Durante a primeira aula, Romulo deu uma espiada rápida nele, que estava assim ao seu lado, ouviu Luciano falando alto, o roqueiro estava ontem lá no fliper, quando me viu deu um jeito logo de perder e sair fora, sabia que ia zoar ele na frente daqueles pirralhos lá, eu o P.C, o Junior – tacou uma bolinha de papel na direção de Felipe, acertou-o na cabeça, mas ele não se voltou – não finja que não está me escutando, seu mané; olha se eu te ver naquele fliper de novo, vou tirar suas calças na frente daqueles pirralhos, você vai para casa pelado, tiro até sua calcinha – gargalhou junto com as garotas, e os outros, Felipe não se voltou, nem ao menos levantou seus olhos do caderno como atento ao questionário de Biologia. A professora fumava sentada à mesa, e pediu a Luciano que ficasse quietinho, parasse de provocar o outro, desviou seus olhos estrábicos para Felipe, que ruborizava levemente, mas com o cenho franzido.

Durante o intervalo na hora da distribuição da parca merenda, Romulo sabia que Felipe não estaria àquela fila, nem tampouco na quadra, onde acontecia uma roda de capoeira que estava sendo apreciada pelos professores, então seguiu esquivo, escorregadio e amedrontado para o lado baldio, vindo da direção aos fundos, e o avistou de pé, debruçado sobre o muro, com os fones nos ouvidos logo mais adiante. Sentiu medo de se aproximar, mas foi se aproximando, fingindo que andava à toa, os olhos nos pés, na grama um pouco alta ali. Parou junto a uma arvore, levou as mãos ao bolso, e Felipe sacudiu os cabelos, tocou a guitarra imaginaria, contraindo o rosto. Sabia que Romulo estava o olhando, mesmo virou-se para ele fez um gesto assim com uma das mãos: \m/!, e colocou a língua rosada e grande para fora junto. Romulo sorriu atordoado, ficando levemente perturbado, mas Felipe voltou-se para o muro dando-lhe as costas. Então se aproximando um pouco, Romulo disse gaguejando:

_Eu... eu só queria saber... da blusa... da banda... da banda na blusa...

Felipe não se voltou, os fones nos ouvidos, os braços em cima do muro simulando com as mãos uma bateria, não o ouvia, então saltou alterado, quando sentiu dedos cutucando-o no ombro. Romulo recuou assustado, tenso, vendo Felipe enfezado, uma careta contorcida de ódio, tirando os fones do ouvido, cruzou os braços.

_O que você quer cara? – hem e foi se aproximando como que ameaçador, Romulo foi recuando assustado – para de ficar atrás de mim, pô – abriu ao braços num gesto largo – qual é a sua, o tempo todo atrás de mim, me olhando, me olhando.

Romulo abaixou a cabeça, tremulo, gaguejando, Eu... eu... eu, e não conseguia completar sentindo faltar-lhe o ar.

_Fala logo o que você quer, ou então não me aborreça – disse Felipe, passando por ele e seguindo para fora dali, deixando Romulo ali assustado, tenso, engolindo em seco a saliva grossa, uma amargura roendo-lhe as entranhas, a boca aberta salivando.

Tinham aula de Educação Física no segundo tempo. Deviam seguir para a quadra, acompanhados pela professora, alta, corpulenta em uma roupa discreta de ginastica, mas acontece que tanto Felipe quanto Romulo se esquivaram desta aula. E como a sala ficou vazia, Rômulo ficou nela, sozinho, curtindo sua amargura, mesmo pegou seu caderno, arriscou escrever algo, mas o peito doía, uma dor estranha, os olhos de Felipe chisparam de ódio. Estava aborrecido, e bom devia ter razão, Mas se me desse à chance de dizer, pensou, e dizer o que?, acreditou desanimado, triste. Felipe entrava a sala, sacudindo a cabeça com os fones nos ouvidos, perscrutando o ambiente vazio, lançou um olhar evasivo e mal humorado para Romulo, ficou lá ao fundo, sentado sobre uma mesa, com os pés na cadeira, olhando para a janela, fazendo a guitarra imaginaria, arriscando cantar o refrão. Romulo virou-se, olhou, mas antes com medo, por sobre os ombros, e Felipe fez lhe de novo o gesto com as mãos: \m/, e expos a língua numa careta debochada, sacudindo os cabelos. No que estava virado totalmente para a janela, voltou-se sentindo uma sombra ao lado dele. Romulo o olhava, embora com os ombros tensos, tremulo. Felipe tirou os fones do ouvido, e suspirando perguntou:

_Que foi cara, fala logo, qual é o seu problema – foi num tom de impaciência, cansaço, as mãos sobre os joelhos – isto está me grilando, pô.

Romulo abaixou a cabeça e gaguejando, tremendo recomeçou:

_Eu... eu... só queria... bom – sacudiu os ombros, engoliu saliva em seco – ...desculpa...

Felipe riu, arqueando-se um pouco para trás, sacudiu os cabelos.

_Desculpa de que cara, você não me fez nada, pô – disse, e Romulo calou-se sem encará-lo, arriscando um pouco um olhar, Mas você estava aborrecido, balbuciou tremendo o queixo.

_Claro, pô, você fica me seguindo o tempo todo; me olhando fixamente – arregalou os próprios olhos como para mostrar que intensidade – sou tão esquisito assim – e riu, Romulo enrubesceu, pensou baixinho, “Você é bonito”, mas se assustou com o próprio pensamento, ficou aturdido. Felipe levantou-se num salto, cruzou os braços de frente a ele, Eu acho que vou sair fora, você vai ficar ai, disse ajeitando a mochila nas costas, Não, não, respondeu Romulo atônito, pegando suas coisas, colocando a mochila por sobre um ombro.

_Vem – disse Felipe tocando-lhe o ombro, e Romulo seguiu-o continente, tremendo, arfante, emocionado. Atravessaram o corredor com alguns alunos a circular vagamente, mas era preciso que Romulo apressasse o passo, pois Felipe andava mais depressa, e chegando junto ao portão, ele desenrolou com o porteiro, que abriu o portão para que os dois saíssem.

_Que foi mesmo que você disse a ele – perguntou Romulo já lá fora, ambos andando pelo meio fio, sendo que Felipe em cima da calçada.

_Disse que ia te levar para casa, que você estava com dor de barriga e vontade de vomitar – respondeu sacudindo os ombros, rindo, e Romulo riu compartilhando, mas silenciou-se assustado, tremendo, colocando as mãos nos bolsos.

_Mas diga ai, cara, o que você tem – foi Felipe perguntando, passando a mão pelos cabelos – você fica me encarando, me seguindo.

_Nada – respondeu Romulo perturbado, quase sem ar – eu fiquei assim... fascinado por estas blusas que você...você usa.

Viraram a esquina, entravam na alameda, Romulo começou a perceber, mesmo sem coragem de encarar o companheiro.

_São de bandas que curto. Iron Maiden, Metallica, Slayer – então não é eslaier, pensou Romulo – Tem Sepultura também, que é uma banda Thrash porradeira, brasileira, hem – e cerrando os punhos entusiasmado em discursar – tem muita coisa, uso sempre estas camisas, tenho também os discos e CDs originais dessas bandas – mostrou a munhequeira no pulso esquerdo – olha ler aqui, e Romulo tentou balbuciar o que estava escrito, atrapalhou-se, Felipe riu, continuou – é Motorhead, cara, porra, você tem que ouvir Aces spades, vai enlouquecer mano – e ganhou espaço, chegando mais próximo ao seu tímido e tremulo interlocutor, que se encolheu com os ombros tensos – você curte rock também?

_Ah... ah sim, claro – falou atônito, gago – Legião Urbana.

Felipe gargalhou, Legião Urbana, mano, fala sério, bateu na própria testa, Legião Urbana é pop demais, musiquinha mela cueca, saca, a parada é arma de destruição em massa, broder – estalou os dedos junto aos olhos dele – entende, parada possante, brutal, Death metal, Obituary, Napalm, saca, maneiro.

_Desculpe – balbuciou confuso, pestanejando, o coração descompassado. Felipe deteve-se ao atalho, e disse num meneio de cabeça, Valeu broder, vou entrando por aqui, fui, e virou-lhe as costas sem mais. E Romulo ficou ali um demorado tempo, os braços esticados ao longo do corpo, cabisbaixo, abatido pelo choque emocional do contato. Recomeçou a andar em direção a sua casa, com o andar pesado, os ombros ainda grandemente tensos, embaixo do sol morno.

No dia seguinte ao colégio encontrou-o, e estavam lá a mesma sala em balburdia, enquanto o professor tentava dar explicação, Luciano se amostrando, fanfarrão em companhia de P.C com seu topete, Junior de touca, o caladão do rap, só sorrindo, Michelle, Sheila e outra mulatinha magricela rindo alto. Lá na frente, uma garota de óculos protestou, Dá para vocês fazerem silencio, estamos tentando prestar atenção aqui na frente. Luciano perguntou, de pé, Estou atrapalhando professor, o homem meneou a cabeça num gesto que sim, se dessem para maneirar, ou se não tivessem a fim se retirassem. Então Luciano ordenou silencio a turma, sentou-se, rindo baixinho com os outros. Felipe mais a frente, prestava atenção ao professor à frente, percebendo que Romulo olhava fixamente para ele, mas quando desviou os olhos obliquamente, Romulo fugia, então Felipe sentiu uma bolinha dura acertar sua nuca em cheio, voltou-se com semblante fechado, percebendo que fora aquela turminha. Michelle disfarçou concentrando-se no canudinho do seu copão de milk shake, então Felipe ousou fazer um gesto obsceno com as mãos para eles e virou-se enfurecido. Luciano olhou para os amigos, estes se entreolharam, P.C balançou a cabeça, Junior meneou os ombros, Michelle segurou um gritinho quando Luciano tomou seu copão de shake de morango ainda cheio, levantou-se decidido e despejou na cabeça de Felipe, causando uma troada de gargalhadas, um susto no professor que ficou atônito, e Romulo ficou olhando aquilo arrasado. Felipe sentia aquele caldo melado escorrendo pelos seus cabelos, caindo sobre seus ombros, sua blusa, cerrou os punhos, ofegante, levantou-se aturdido, cambaleante, deixou a sala debaixo das risadas, correu para o banheiro, e se olhou assim lambuzado daquele leite, humilhado por aquele babaca, seu orgulho muito ferido. Não, não, isto já foi demais, foi esfregando as unhas no espelho, contraindo o rosto numa careta amarga de ódio e de dor.

A sala ficou uma balburdia imensa, o professor perdeu o controle diante de total anarquia, e pegou seu material e abandonou tudo. Romulo assustado pensou no mesmo, recolhendo suas coisas, enquanto Luciano, P.C, Junior, as garotas lá atrás batiam nas mesas e nas carteiras, fazendo batucada. Romulo recolheu também a mochila e o material de Felipe, que ele abandonara ali na mesa, e saiu da sala, escapulindo, apavorado, enquanto via a diretora, a inspetora, mais dois homens aproximando-se continentes da sala.

Romulo entrou no banheiro, percebendo que os alunos das outras salas saiam , ou olhavam pelas janelas tentando se inteirar do que acontecia. Encontrou Felipe com a cabeça enfiada debaixo da torneira aberta do lavabo, lavando os cabelos, e quando levantou o rosto molhado, os cabelos ensopados agora de agua, viu então Romulo refletido então no espelho baço.

_Trouxe... suas coisas, cara – disse Romulo com dificuldade, cabeça baixa. Felipe passou as mãos pelos cabelos encharcados, e vendo sua mochila nas mãos de Romulo, sorriu com um crispar sarcástico nos lábios.

_Achou graça, também, né – disse áspero apontando lhe o dedo em riste, e Romulo recuou assustado, confrangido, Não, não, se defendeu – Mentiroso – vociferou Felipe – deve estar explodindo de rir por dentro. Você é igual a todos eles, apenas um mané, mas é igual a eles todos.

_Juro que não – balbuciou tremulo Romulo estendendo-lhe a mochila – eu... eu... desculpe.

Felipe pegou a mochila das mãos dele com veemência, dizendo num tom um pouco agressivo, Você só sabe pedir desculpas, desculpas, e abriu a mochila, conferindo suas coisas, seu walkman, suas fitas, seu caderno, a revista de Heavy Metal, estava tudo ali.

_Eu trouxe tudo, fui rápido – gaguejou sem encará-lo, pestanejando, tremendo. Ajeitando a mochila nas costas, Felipe virou-se para o espelho, sacudiu os cabelos ainda molhados, cerrou os punhos, franzindo o rosto irado, Valeu broder, disse por fim Felipe.

_Por que você não denuncia eles para direção – opinou Romulo num tom desarmado.

_Cala a boca – vociferou Felipe sem se voltar – você não ver que isto não adianta, não adianta nada. Aqui é cada um por si – e virando-se para ele, espetou-lhe o indicador no peito num tom que parecia ameaçador – e você, carinha, trate de mudar um pouco este seu jeitinho delicado, ou logo, logo vai sofrer mais do que eu. Eles me odeiam por que sou headbanger, e você eles vão odiar por que... bom – perscrutou lhe de cima abaixo – não preciso falar nada – e virou-se seguindo na direção da saída.

_Desculpe – balbuciou melancólico. Felipe voltou-se por sobre os ombros, rindo, Para de me pedir desculpa, caramba, você não me fez porra nenhuma.

_Eu posso ir com você – perguntou inopinadamente Romulo, fazendo Felipe voltar-se de novo.

_ Para onde você quer ir comigo – inquiriu num tom amargo e mal humorado.

_Desculpe – disse de novo, baixando os olhos, e Felipe gargalhou, deu lhe as costas e seguiu andando, saindo da escola escorregadio ao encontrar o portão aberto, e já ia bem distante na rua quando percebeu que Romulo vinha atrás dele, voltou-se com os braços cruzados sobre o peito, o semblante carregado.

_Eu moro nesta direção também – disse Romulo recuando amedrontado, tremendo, pestanejando muito.

_Esta bem, mas siga do outro lado, não fica andando atrás de mim não – e virou-se arquejando irritado.

_Desculpe – balbuciou novamente Romulo desviando de lado, e Felipe sorriu ironicamente, Você só pode estar de sacanagem com minha cara, mano – e voltando-se para ele, irado – o que você quer hem, fica me olhando o tempo todo na sala de aula que eu percebo; pelos cantos, e agora ai. Romulo acuou-se, amedrontado, tremendo, os braços encolhidos, Desculpe, desculpe, gemeu, e Felipe urrou guturalmente na cara dele, fazendo-o se encolher mais tremulo, mas o deixou, virando-lhe as costas e entrando na rua a sua direita, sem olhar para trás, mas escutou os passos atrás de si, voltou-se e Romulo estava parado, encolhido, cabisbaixo a poucas jardas de distancia dele.

_Você tá me seguindo cara – inquiriu irritado. Não, não, gemeu tolhido, eu queria saber se posso ir com você; se a gente pode conversar, perguntou tartamudo, sem encará-lo. Felipe arfou exaurido, Cara some, gritou, me deixe em paz, eu não tenho nada para conversar com você.

_Eu... queria saber do ace espeide – disse ele desajeitado, arquejante, lívido – você-me-disse-tentar-enlouquecer – atrapalhou-se pestanejando muito. Felipe riu, aproximou-se um pouco, mexeu nos cabelos, Mano, vai para sua casa, eu quero esfriar minha cabeça, ouvir meu som Thrash nas ultimas, mas não quero sua companhia, ok – e virou-se novamente, decidido, em passos largos até que parou, voltando-se ao sentir que a mão dele o segurava pelo braço.

_Tira a mão de mim cara – esbravejou furioso Felipe desvencilhando o braço com veemência, e voltando-se enérgico, dedo em riste na cara do assustado Romulo – cara, não faz mais isto, não coloque mais sua mão em cima de mim, ou eu vou ter que esquecer que você foi maneiro comigo e sentar a mão na tua cara, ouviu, foi esbravejando mais de perto, e Romulo resmungou baixinho, Desculpe, fazendo Felipe virar-se enfarado, em passos mais largos a prosseguir seu caminho, mas sentiu novamente a mão de Romulo em seu ombro, ao mesmo tempo em que tentou dizer, Cara, por favor, vamos... mas Felipe virou-se enfurecido e sem pensar largou a mão fechada num safanão na orelha do outro com vontade, fê-lo cair desabonado no chão, tolhido, arquejando, ainda acertou dois pontapés nos fundilhos dele dizendo veemente, Some, some, eu já pedi, me deixa em paz diabo, e virou-se seguindo seu caminho correndo, enquanto Romulo deixou-se ficar ali atirado, encolhido, assustado, sentindo arder-lhe na face o safanão e no traseiro os pontapés, com os lábios junto ao asfalto rachado, balbuciou de queixo tremendo, Desculpe, desculpe... E uma senhora passando por ali, parou assustada, Meu filho, você está se sentindo mal, perguntou, alguém te machucou, perguntou preocupada, oferecendo-lhe a mão para que se levantasse, mas Romulo desabou o rosto de vez no asfalto sujo e sentindo a dor aguda, interior, como uma lança o atravessando o peito, berrou chorando, Desculpe, desculpe, desculpe...

Rodney Dos Santos Aragão
Enviado por Rodney Dos Santos Aragão em 09/07/2012
Código do texto: T3768785
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