AS GOTAS DO MAR FÚNEBRE

Enquanto alguns se despediam dela á distância,junto a lápide e aos prantos,um jovem rapaz contorciava todo,não aceitando o acontecido.Dava pena,era muito amor que existia entre os dois.Comentara alguém.Na verdade,ninguém sabia quem amava mais,se era ele ou ela.E naquele labirinto fúnebre,depois de uma longa e demorada tarde,começavam todos a seguir numa direção só,rumo a suas casas.E com aquele volume de gente que aos poucos dispersavam,uma senhora decidiu ficar,meio que escondida,observando o tal rapaz junto ao concreto e mármore,o desfecho daquela história que acompanhara tão de perto o romance ente os dois.E naquela pequena cidade,lá ficou ela,entre estátuas e capelas,só observando.Aquela senhora não sabia onde o homem encontrara tanta lágrima para derramar.Dos bolsos,retirava ele vários bilhetes,poemas,rabiscos,anotações,aonde ao mesmo tempo em que recitava,conversava com a amada,agora no sono profundo abaixo da laje tumular fria.Já se aproximava dás 18:00hs da tarde e o sol preparava-se para se esconder no horizonte,e de longe a senhora em alerta total,só acompanhava os passos do rapaz.Os primeiros brilhos celestes começaram a apontar no céu,a lua caprichosa deu o espetáculo de está tão cheia de graça estava,iluminando na lápide a data do início,e logo o fim do romance entre aquele casal.Ela só tinha 25 anos,nova demais.Exausto fisicamente e emocionalmente,o homem levanta do solo barrento e grama rasa,e apoiando-se na mármore,firme,leva a mão aos lábios beijando,e num leve sopro direciona a amada em tom da última despedida.Convencido,arruma a camisa de manga comprida,o colarinho,a calça e andando de costas,segue despedindo,olhando firme aquele que agora é só um retângulo florido e cimentado.Vira-se para a frente e em linha reta,segue agora sentido o portão principal do cemitério à fora.

A senhora,o acompanha ainda que de longe.Pensou inclusive ir embora antes,mas preferiu ver com seus próprios olhos o tal rapaz retirar-se do recinto primeiro,o que valeu muito a pena esperar.O rapaz segue seu curso,rumo ao portão.Desolado,chutando as latas e os galhos secos do chão vermelho,e ainda mesmo muito cansado,consegue olhar para o lado e ver uma pá deixada pelo coveiro que numa atitude inesperada,junta suas mãos,e firmes á aquela ferramenta,leva-a até o ombro retornando ao túmulo da amada.Começa a ventar e muito,um vento frio.Um cheiro de dejeto é notável.Umidade por todo o canto.Ele arrasta a laje e começa a cavar,desesperadamente,e junto a esses movimentos mecânicos,conversa com a amada dizendo ter voltado para te buscar.Depois de algum tempo cavando,percebe a caixa que envolvia aquela anatomia feminina,que descansava abaixo do solo fétido.Desce o primeiro pé e apoiando-se ás margens,logo o outro.E de lá,arranca-lhes,e já acima do cavado,olha para trás e num cuspe certeiro ao antro,deixa lá,como um recado de total desprezo á morte.Com a amada nos braços,assustado,olha ao redor num ângulo de 360º,alguma possível testemunha da loucura que acabara de fazer.Vai até os fundos do cemitério aonde consegue ver um carro funerário.Aloja a amada embaixo de uma árvore enquanto faz uma ligação no motor,na tentativa de uma ligação direta.E consegue! Depois de por sua mulher dentro,abre os portões na calada da noite e em disparada segue sem destino.A senhora,que bestificada assiste aquele inusitado fato,provida de automóvel segue o alucinado.

Seguindo-o por mais de 1km aqueles faróis traseiros acesos pela estrada,percebe o carro diminuir a velocidade,encostando logo adiante numa área litorânea.Sempre o acompanhando,agora a pé,a senhora se esconde.Com a mulher nos braços,o rapaz,(sempre chorando)segue à beira da praia,deixando pegadas no escuro da areia fofa.Encosta e sobe numa pedra alta,mas ainda bem perto das ondas e lá ficam os dois.Ele e a amada,agora mais fria que uma mulher frígida.A senhora,temendo ser reconhecida,atrás de uma pedra lá fica.Em direção ao horizonte azulado-escuro,clareado somente pela luz da lua cheia e em distâncias razoáveis, ficam lá os três: a senhora cansada,o jovem rapaz e a sua linda mulher.Sonolenta,a senhora percebe seus olhos baterem numa forma menos frenética,querendo dormir,mas ela resistia,não queria perder o final daquilo.Amanhece,acordada pelos raios do sol,a senhora logo vê que foi vencida pelo sono e desesperada com a mão sobre a sobrancelha cobrindo,olha em direção ao casal sob luz forte,que antes nas pedras fora a última visão.E não os veem.Corre até o local e ao redor deste,encontra vários papéis,alguns molhados,noutros despedaçados.Pega um desses,e lendo em voz alta,reproduz o poema deixado ali a esmo:

MATRIMÔNIO AO MAR

Ó mar,extensão salgada lindamente chamada de oceano!

Transparente,verde,azul ou cinza-branco,

Milhões de chuva,marca horizonte vida adentro,

Canções da noite,som de um piano alento.

Divisão,criadora do mundo,

Onda do Pacífico ou do atlântico absurdo,

Sereia talhada do amado astuto,

Colchão do mar,formando nosso casulo.

Casa de Netuno,abrigai mais um casal teimoso,

Deixe-nos ser confundido a mar revoltos,

Ou marolas modificadas a maremotos,

Cartilha climática de um Mar Morto.

Sabido do meu-bem-querer,insisto!

Leva-nos contigo e não mais repito,

O meu amor,minha amada e meus caprichos,

Da brusca espuma,arranca-nos pedra abismo.

*** Dedico este Conto Romântico a gerações futuras,pois como sempre me importando com o sentimento maior perdido à décadas,o AMOR,vejo este a cada dia ser sucumbido na sua essência através dos tempos,vingando hoje somente o sentimento de mesquinhagem,atrelado ao que seja descartável,vivido por muitos de nós.

MARCONI MACHADO MENEZES
Enviado por MARCONI MACHADO MENEZES em 08/07/2012
Reeditado em 20/09/2012
Código do texto: T3766333
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