Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado, Domingo, e Segunda. Autor: Ilusão.
Poderíamos nos reencontrar numa terça-feira qualquer e, como quem não quer nada, conversarmos por horas e horas dentro de um minuto. Eu, mesmo com pressa, iria até a padaria da esquina. Aceitaria seu café, sem fazer cara feia pelo gole quente e amargo além da medida. Não poderia faltar aquela constrangedora hora em que faltaria assunto e eu riria que nem uma idiota enquanto você brinca com os grãos de açúcar espalhados pela mesa. Seguindo de uma cena peculiar onde eu te abraço constrangida e estranhamente desajeitada.
- Então, é isso... – Diria enquanto aquele riso continuava escapando pelos cantos. – Hum... Acho que vamos pra caminhos diferentes, então... Tchau.
Após uma virada brusca, haveria outra. Eu, virada pra você novamente, enquanto você nem se mexeu, iria dizer num impulso totalmente exagerado sobre a gente se encontrar no dia seguinte.
Mal perceberíamos, mas aquela quarta se tornaria rotina. Eu até começaria a amar o gosto do café, só por você estar naquela cadeira desconfortável ao lado que eu também passaria a amar.
E mesmo nas quintas chuvosas, chatas, ou deprimentes, conseguiríamos tirar um sorriso um do outro. Tanto sentados naquelas cadeiras, ou em outras, de restaurantes que você não iria se eu não insistisse no mínimo umas quatro vezes antes de você dizer que pensaria sobre. E eu nem me importaria sobre conversar sobre todas aquelas coisas que você diz e eu não faço idéia do que se tratam... Eu até pesquisaria alguma resposta, mas depois me entregaria.
Na sexta, poderíamos ter nossos programas diferentes. Ou até mesmo um dos dois ficar em casa, esperando qualquer sinal de vida um do outro. Ah, pelo menos eu esperaria. Mesmo que quem estivesse fora em qualquer lugar agitado com música e bebida que me fariam esquecer. Eu juro que me sentiria mal pelo cheiro de cigarro, e ao chegar em casa lavaria a mão cerca de vinte vezes até perceber que o cheiro de culpa e saudades não saem com perfumes florais.
E no sábado eu até acordaria cedo só pra beber um café na cozinha, com a cadeira vazia ao lado zombando da minha cara de ressaca. Quem sabe você não me ligaria, marcando pra assistir qualquer filme chato. Eu também passaria a amar filmes chatos por lembrar-me dos teus beijos.
E no domingo, talvez a gente pudesse brigar por qualquer coisa pelo telefone. Me faria alugar aquele filme chato, e assisti-lo chorando como se eu realmente estivesse prestando atenção em qualquer uma das dezenas de vezes que você me fez assistir.
Eu amaria até as segundas, se seu abraço estivesse lá na mesa ao lado.
É triste não haver culpa na sexta a noite, abraços na segunda de manhã, cafés na terça, rotinas na quarta, e minhas quintas se resumam apenas em chuvosas, chatas, e deprimentes, na maior parte do tempo sem jantares muito menos padarias pela manhã. Ah... Também é triste meus sábados acabem em palavras feitas da mais pura e genuína ilusão.