:::: Apenas Ame - Cap 4 ::::

No carro

Os quilômetros que passam não voltam

Discursos que te mudam

Imagens que passam

-Sei parte de me – Zero Assoluto

SINTO UMA IMENSA VONTADE DE RIR, de mim, das pessoas e desse infame destino. O meu destino. No entanto, as pessoas nem notam a garota de 24 anos, alta e sorridente que caminha sem direção rumo à própria sorte. Então, de repente, começo a correr e não ligo para o que as pessoas estão pensando, vendo a menina bem arrumada parecendo um moleque. Meu cabelo está despenteado, meu rosto está desbotado e uma lágrima que pende dos meus olhos faz o rímel ficar levemente borrado. Ainda estou correndo, quase chegando ao meu carro, quando sinto um baque ao meu lado. Caio sentada no chão do estacionamento.

_Olha por onde anda moleque! - Grito.

_Desculpa, caramba... Desculpa... - Ele diz, suavemente.

Então sou obrigada a olhar o dono daquela voz tão doce, ainda perturbada e com as mãos tremendo, quase sorrio com aquela visão. Dois olhinhos puxados olham preocupados, o lábio inferior tem um piercing pequeno de argola pendurado. Os cabelos são tão pretos e arrepiados, a barba por fazer esconde um rosto de menino. Ele usa uma camisa xadrez, qualquer outra pessoa me pareceria estar indo para uma festa junina, mas ele ficava muito bem naquela camisa.

_Tudo bem. - Falo, secamente, ajustando meu tom de voz. Ele estende a mão, mas eu ignoro e abro a porta do meu carro quase acertando-o. Ele se afasta rapidamente e me olha enquanto acelero o carro em direção a rua. Ainda arrisco olhar pelo retrovisor e ele está lá, coçando a cabeça e olhando meu carro fazer a curva e desaparecer pela avenida.

O semáforo fecha e eu me contenho para não chorar. "Três meses", o som grave da voz do médico preenchia meus pensamentos inócuos. Droga! Um carro quase bate na traseira do meu e eu começo a rir desesperadamente, como se isso fosse um daqueles sonhos ruins que não fazem sentido. Mas eu não iria acordar, era real. Estava mesmo acontecendo.

No escritório, fiz de tudo para que ninguém ficasse sabendo, mas uma hora ou outra a verdade viria a tona.

_Tudo bem, Pam?

_Tudo. - Respondo para Jorge, que tira os óculos escuros para me olhar melhor.

_E como foi lá?

_Lá aonde?

_Como assim aonde? ... No médico, Pam...

_Ah... Sim - Falo me virando para olhar por cima dos ombros - tudo bem, era só uma indigestão, ele me receitou alguns remédios, só pra passar a dor na barriga...

Termino de falar, mas ele continua me olhando desconfiado.

_Sem gravidez?

_Claro. Sem.

Eu sei que ele não deixaria isso passar, logo ele perguntaria outra vez e faria aquele interrogatório imenso sobre tudo. Eu tinha que ser firme, mas sinto uma onda de emoção percorrer meu corpo e num instintivo movimento, levanto bruscamente e saio correndo para o banheiro. Fecho a porta e escorrego por ela, chorando compulsivamente. Meu corpo todo pesa, meus pensamentos estão dispersos e ouço Camila chamando meu nome do lado de fora.

_Pam, o que aconteceu? Pam! Abre, me deixa entrar... Pam?

Vou até o espelho e o que vejo é algo prestes a cometer uma loucura. Tateio o bolso da calça, nada. Pego minha bolsa que está jogada ao chão, nada.

_Droga!... O meu celular.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 29/06/2012
Reeditado em 29/06/2012
Código do texto: T3751235
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