A GRANDE FOLIA
Avenida principal da maior cidade do nordeste brasileiro.Rua cheia,tomada por foliões.Um colorido diferente.Seria bom se ainda existisse,confete,mamãe- sacode,lança perfume...Outros tempos né?Antigamente conhecida por mortalha,era uma blusa grande que chegava até o joelhos,mas ao passar dos tempos,foi se modernizando perdendo cada vez mais peças e tamanhos.Hoje chamados de: Abadá.É isso mesmo,uma blusa pequena e colorida e só! Carnaval no passado foi mais ou menos assim.Eu sempre gostei de ir de "pipoca" curtir a festa,pois tínhamos a liberdade de está em qualquer canto,qualquer lugar.Depois pensei experimentar dentro do bloco,achando ser mais seguro e divertido.E não mais interessado a tudo isso,na verdade de saco cheio,certa vez no meio da folia olhei pra alto e disse: Um dia quero está lá em cima do trio elétrico,curtindo ao lado dos músicos,bem de pertinho.
Seria coisa de lunático,seria,mas eu fui buscar o meu sonho.Às vésperas de iniciar a maratona do carnaval daquele ano,comecei a fazer contato,tentando conhecer gente,amizades e tals,na tentativa de dar a sorte e alguém garantir a minha entrada gratuita naquele ambiente.E nessa,conheci um bacana (playboy) numa mesa de bar.O cara era assistente de palco de uma banda famosa que iria tocar no circuito da folia.Ele,todo encantado com o meu papo e dizendo eu ser uma pessoa super agradável e de alto astral,disse que iria conseguir para mim o acesso nos 7 dias de folia dentro do bloco e em cima do trio.Pô,eu fiquei super alegre.Dois dias depois,a avenida principal,já dava os últimos retoques para as apresentações das bandas nos seus respectivos trios elétricos.Placas de cervejas,outdoos,arquibancadas,propagandas de camarotes,etc..Numa quinta-feira de carnaval,1º dia,eu começava a entrar no clima.Tomado banho,peguei meu abadá,meu tênis,bermuda e um colar de Gandhi,fui até o meu quarto preparar-me.
Todo alegre,vestia peça por peça e me olhando no espelho,verificando nos detalhes uma possível falha que pudesse tornar-me menos agradável as mulheres.No final,era um homem-mola,cheio de adereço pronto pra pular na festa.E lá fui eu para a avenida,cumprir os 7 dias de folia.Era uma tarde,um sol de rachar,acho que uns 32º.Antes,parei numa barraca de "capeta",pedi uma dose.Várias pessoas passavam por mim, e eu lá só charlando,com a pulseira colorida e camisa diferente,pois eu iria ficar em cima do trio.Não demorou muito,joguei o copo descartável da bebida no saco de lixo e fui até a concentração onde o bloco iniciara o percursso até o seu destino final.Chegando lá,de cara encontrei esse meu chegado que logo permitiu a minha entrada pra subir e ficar lá em cima,junto aos músicos.Show!Foi uma festa! O trio andando e as pessoas nos seguindo.Quanto mais ele andava,mais gente ultrapassava corda à dentro.Lá de cima,tudo free(livre).Bebida,comida...
Começava a entender o porque que grandes músicos choravam,se emocionavam,viravam crianças lá do alto.Também,ver coreografias simétricas,e um coral cantando suas músicas é de enlouquecer qualquer um.Não tem como!Encostado aos corri-mãos fiquei lá,bebendo,curtindo,conversando,dançando...
Várias vezes olhava para baixo,pra ver a empolgação da galera.E numa dessas,vi no meio daquela multidão uma garota com um cartaz gigante nas mãos,com os dizeres riscado no papel em letra de forma: "EU TE AMO!".
Ela sorria,encantada.Sabia que não era para mim aquele sorriso,mas o sentia como se fosse.Com uma visão de águia,conseguia observar lá de cima cada detalhe do seu rosto,cada gota de suor,a cor do seu batom.Sentia o frescor do seu perfume.Ela simplesmente me encantou.Ficava acenando para ela,como quem dizia: Espere,tô descendo pra gente conversar! Mas ela não me via.No dia seguinte,arrumei-me normalmente,e fui para a festa.E no meio daquela multidão,assim meio sem querer,consigo vê-la de novo,e começo a acenar...e nada! Até que no penúltimo dia,tive a sorte de mais uma vez enxergá-la,e de longe,pedi a um rapaz pra segurá-la,ganhar tempo enquanto eu descia do trio elétrico.Mas ela escapou dele.
No último dia,visivelmente sem motivação pra curtir a festa,fui para a quina do caminhão todo acanhado e lá fiquei.Olhei para o lado,para o outro.Para a banda e nada me fazia entrar mais no clima da festa.Quando olho para baixo,de repente ela aparece,do nada,entre costas,braços e cabeças.Seguir seus movimentos pra não perder mais de vista,lá de cima mesmo,e quando ela se aproxima de um segurança do trio,solto um grito estridente pedindo a este que a agarre pra mim.Enquanto isso,desço em desparada,me batendo com os músicos,roadies,instrumentos,fãs,chegando inclusive a tropeçar e cair nos últimos degraus da escada.Quando já lá em baixo chego,piso os pés no asfalto,de costas para mim estão o segurança e a garota.Ele sai de cena,ponho minhas mãos nos ombros dela e quando esta vira,percebo que ele havia pego a garota errada.Fiquei tão triste.Pois sabia que aquele era o último dia de carnaval,a última chance de conhecer a tal garota misteriosa.E resolvo ir embora arrasado.Arranco a pulseira do braço,retiro a camisa do corpo e quando estou quase do lado de fora do bloco,o segurança me pega no ombro e diz:
-Mandaram eu te entregar isso.
-O que é isto,um bilhete?
-Responde o segurança:
- Não sei,foi passado de mãos em mãos até chegar a você.
Pego o tal bilhete,todo amassado,esticando as extremidades para melhor poder ler o recado,e em letras arredondadas,vejo o que escreveste a garota:
"Não sou uma mulher invisível,uma miragem,na verdade eu sou algo além da sua imaginação.Estive sempre perto de você,a todo tempo do seu lado.Aguçar a mente dos homens é a minha especialidade e a sua não foi diferente.Desejo muito em breve te conhecer,enquanto isso não acontece,devo reconhecer um velho ditado popular nosso..." Sabe,será que não o conheço de outros carnavais?
Ass: Pode me chamar de Lidi.