::: Apenas Ame - Cap. 3 :::

É estranho partir de novo do início

Com bons propósitos

Que nascem daqueles momentos únicos

-Quattro Cose - Zero Assoluto.

AS PESSOAS ANDAVAM MUITO SORRIDENTES. As minhas mãos no volante estavam ficando levemente avermelhadas devido a força que eu fazia para segurá-lo. Meu estômago revirou, uma ânsia arrepiou os pelinhos do meu braço e o frio cortante daquela manhã fez minha cabeça latejar.

"Não, óbvio que não estou grávida." - Pensava enquanto dirigia pela avenida até o consultório médico. Tudo bem, os sintomas eram muito prováveis, mas eu me recusava em "sequer pensar" no fato de estar grávida - o pior - daquele imbecil completo.

DROGA! Trânsito totalmente parado, olho no relógio digital no painel do carro: 06:29. Depois de ficar quase vinte minutos parada, acelero bruscamente a fim de chegar em tempo para a consulta. Encontro uma vaga no estacionamento e percebo que tenho apenas dois minutos. Saio correndo, com meus saltos tilintando no piso de cerâmica do Hall de entrada e quase escorrego no tapete de crochê estendido na soleira da porta.

Passo por uma janela de vidro fumê e quase tenho um "treco", meu cabelo está detestável, todo arrepiado, como se eu tivesse acabado de sair de um furacão. Meu coração está tão acelerado, que penso conseguir ouvi-lo por debaixo da pele. Ele parece estar batendo dentro da minha cabeça e isso me causa enjoo. Coloco a mão no tórax e me sinto cansada, muito cansada. E olhe que só dei uma corridinha, do meu carro até aqui. Mas estou, definitivamente, cansada.

_Pâmela Gouveia, pode entrar. - Ouvi a voz rouca da recepcionista, um pouco exaltada, abrindo a porta enquanto lia pela terceira vez meu nome na lista de espera.

Quando dei por mim, estava em pé feito uma doida, desvanecendo em sonhos e pensamentos. Fui tomada por um frio na barriga, daqueles que sentimos quando vamos pela primeira vez no dentista. E não era nada bom. Vou até onde ela está e olho meio desconfiada pela porta que ela ainda segura.

_Pode entrar. - Suspira, de saco cheio.

_Obrigada.

--Duas semanas depois--

Sinto meus olhos encharcados, não sei o motivo ao certo, mas me sinto estranha, muito estranha. A recepcionista, dessa vez um pouco mais amigável, me chama. É o dia das respostas. Acho que não demora tanto assim para se descobrir que está grávida e então entro, quase que na ponta dos pés, como se atrás da porta existisse um monstro. Ou uma confirmação do que eu não iria ouvir. "Pâmela, você está gravida, parabéns mamãe!". Não, não foi essa a frase que mexeu com meus nervos, nem com o meu destino. Quem me dera se fosse uma vida dentro de mim, nascendo, florescendo cada dia mais... pelo contrário. Eu estava retrocedendo.

_Três meses.

_Ahn?

Meu mundo desabou.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 28/06/2012
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