~ * COISAS QUE QUERO ESQUECER
Subindo as escadas do metrô Paulista me lembrei de você e de como você odiava fazer esses passeios cult comigo. Livrarias, cafés, museus, filmes esquisitos, eu sempre inventava algo e te obrigava a ser companhia.
Lembrei porque estou indo na livraria, atrás de um livro pra faculdade e toda vez que fazíamos isso, gastávamos horas, eu insistia em procurar o livro por contra própria ao invés de pedir ajuda, só para folhear um por um, enquanto você estava esparramado nas poltronas da área infantil, querendo me matar.
Lembrei também porque estou usando o moletom que você me deu, que está até meio gasto de tanto que uso. Tem um pouco de você nele, é por isso que uso tanto, porque me acostumei a ter um pouco de você aonde vou.
Nossa, quantas escadas tem essa estação, né? Quantas vezes te fiz descer aqui, para me acompanhar em passeatas, te fiz gritar coisas com as quais você nem concordava, queria a todo custo despertar o revolucionário que (não) havia em você... Você se irritava quando não eu não fazia algo que você queria e ainda por cima gritava “antes puta que submissa”.
São coisas que quero esquecer, são coisas que lembram você, que me fazem sofrer e me acorrentar para não ir correndo atrás de quem me fez tão mal, abrindo mão de todas as promessas que fiz frente ao espelho.
Me dizia radical, louca, ideológica, pseudo-intelectual, pseudo-feminista, enchia a boca para dizer que eu pensava demais, era metódica demais, que eu era independente demais e não prestava para casar (mas quem te disse que eu queria casar?) me enchia de adjetivos clichês para criticar minhas atitudes que, está bem, confesso, também eram um pouco clichês, mas que nunca te machucaram.
São palavras que quero esquecer, chavões que lembram você, que me fazem sentir náuseas e me arrepender por ter dito tantas vezes que amava você, que não merecia nada de mim. Nada. Nem minhas ideias revolucionárias, nem meu radicalismo, nem minhas explicações filosóficas nem minhas vontades loucas de você.