Uma noite em teus braços (capítulo um)

CAPÍTULO UM

Um telefone tocava insistentemente no balcão da repartição. Desanimada, Kamilah deixou a pilha de livros sob a mesa e foi atender.

— Biblioteca pública, em que posso servir? Disse automaticamente.

— Oi! Que voz cansada é essa? Acho que adivinhei em ligar-te! Que tal sairmos? Perguntou Leila do outro lado da linha com uma voz divertida. Kamilah sorriu e pensou, “a tempestuosa Leila em ação”.

— Olá! Muito trabalho. Você tem alguma sugestão “Senhora Baladeira”? Perguntou serenamente, sabendo bem a resposta.

—Mas é claro que sim, estou a fim de conhecer um barzinho novo do outro lado da cidade, dizem que têm música ao vivo e pista de dança com dois ambientes.

—Como é o nome do bar? Perguntou Kamilah

—“Tavernas scotch Bar”. Exótico não? Isso lembra algo primitivo, de repente encontramos um Neandertal e nos sequestra para alguma caverna. Concluiu Leila. Kamilah deu um risinho suave, e respondeu:

— Leila você é extremamente maluca, eu não gostaria de topar com um homem das cavernas, eles devem cheirar muito mal.

— Que isso menina! Pra que existem pregadores? Olha vou sair do escritório agora, já terminei minha missão por esta semana, estou passando por aí. Beijos... Desligou o telefone sem dar-lhe tempo para responder.

Kamilah colocou o fone no gancho novamente e em seguida olhou para os livros e pensou “coleguinhas vamos para seus lugares” a biblioteca estava solitária e o único barulho que ouvia era de si mesma, colocando os livros nos lugares e de sua respiração. Sentia-se bem naquele emprego, estava ali há quase três anos, antes trabalhou temporariamente em vários lugares, como no comércio local, foi secretária de um advogado, mas quando lhe ofereceram aquele serviço, não pensou duas vezes em aceitar. Seguia colocando os livros de acordo com a ordem, olhando o título, o autor, o assunto, etc.

Enquanto guardava os livros, um em particular chamou-lhe a atenção “O véu azul do Saara”, ela olhou com curiosidade e o folheou, abriu delicadamente aquela obra, uma emoção tomava conta de seu peito, como se o que fosse encontrar fosse algo maravilhoso e que poderia preencher todo o vazio de sua alma. Ela virou delicadamente aquelas páginas, amareladas pelo tempo parecendo um papiro, alguns trechos pareciam-lhes velhos conhecidos, emocionou-se ao ler os trechos marcados...

Há anos não chove no Saara.

De senhores mercadores nos tornaram farrapos humanos da seca.

Não temos mais escravos, mas ainda temos nosso orgulho e nossa honra...

De nobres e livres, hoje somos chamados de esquecidos, de nômades.

Somos descendentes bérberes. Há séculos fugimos dos invasores...

E hoje nos comparam a bandidos e assaltantes.

Não temos território, o nosso território é o deserto.

Ninguém pode enfraquecer o orgulho dos tuaregues, nem mesmo o Saara...

Pois somos um só,

Somos kel tamasheq,

Somos os donos da noite,

Temos as estrelas para admirar,

O vento para sentir

E a areia para nos proteger...

Somos os guardiões da riqueza do deserto.

Somos aqueles que atravessam toda a extensão do Saara

Como os únicos donos,

Porque o deserto e nós somos um só...

Em nossas tendas a Paz e o Amor reinam

Nossas famílias são protegidas por que ela é nosso bem maior

Então somos ricos, somos os verdadeiros herdeiros do Saara...

Então... Não me venha dizer que somos os abandonados...

Enquanto lia, estranhamente visualizou aquela cena, suspirou pensando naquele povo que se perdeu no tempo, como as dunas do deserto. Olhando outras páginas verificou que o livro se tratava de um contexto histórico de um povo que era de certa forma, marginalizado pela sociedade europeia, porém para o ocidente era visto com curiosidade e admiração, enquanto dava uma passada rápida pelo texto encontrou uma página assinada, a letra demonstrava que o autor era um homem determinado e provavelmente seria o de uma honestidade impar, sentiu curiosidade em saber quem era dono de um nome como aquele “Adonai al-Shihab” nome imponente e totalmente diferente, “senhor absoluto” ela pensou no significado enquanto colocava o livro no lugar.

Uma buzina estridente cortou-lhe o pensamento e a fez dar um sobressalto de susto. Era Leila, Kamilah observou da sacada e lhe deu um aceno.

— Pronta!

Leila gritou saindo do carro.

— Suba vem me ajudar. Leila subiu as escadas e entrou na biblioteca.

— Esse lugar tem cheiro de mofo.

— Deixa de besteiras e me ajude. Kamilah falou achando graça, logo ela que ficava também presa entre papéis, falando dos livros. Em menos de dez minutos terminaram de guardar os livros. Kamilah verificou as janelas e o sistema de alarme.

— Pra que isso? Quem vai roubar livros velhos?

— Não é quem vai roubar, o problema maior são os vândalos, podem entrar aqui e destruir ou mesmo incendiar os livros, e apesar de termos alguns realmente velhos temos verdadeiras obras como uma enciclopédia inglesa do século XVII, doada por um empresário importante da região, e sem contar que temos em nosso acervo coisas da história do nosso condado. Isso é vida, é trajetória, o homem não é nada sem sua cultura.

— Chega! Você não pode empolgar. Leila cortou-a entre sorrisos. — Estou realmente louca para tomar um banho e dar uma relaxada.

— Pelo que vejo você tem planos pra hoje à noite. Respondeu Kamilah com um leve inclinar de pescoço

— Hummm, quem sabe, tudo é possível. Respondeu Leila com um brilho no olhar.

Seguiram pela via conversando animadamente, Leila olhou para Kamilah, inclinando-se para ela e fez uma observação,

— Você parece que não está animada a sair?Aconteceu alguma coisa?

—Não. Estou cansada, o chefe resolveu catalogar os livros mais antigos, estou digitando as fichas para arquivar no sistema, é um trabalho minucioso, requer atenção.

— Não me fale em trabalho, preciso esquecer um pouco da tensão da semana.

Chegaram ao apartamento de Kamilah, e Leila concluiu:

—Você está precisando é de ficar com alguém, precisa se aventurar, acho que já está pronta para novas emoções.

—Me aventurar? Não. Preciso de sossego e não de um homem.

—Bom isso é só uma sugestão, às vezes fico preocupada com você, só isso.

—Eu sei, mas não se preocupe, estou bem. Deu um suspiro e concluiu:

—Agora posso dizer que estou bem. Que horas vai passar por aqui?

—Lá pelas oito horas tudo bem? Se vista para guerra, porque hoje o combate promete.

—Então está combinado. Despediram-se com uma troca de beijos, e Kamilah saiu de dentro do carro.

Depois do banho abriu o guarda roupa lentamente e pensou no dia em que chegou à cidade de “San Antonio” estava desorientada, não tinha noção de onde estava, quando saiu de “Austin” e pegou a rodovia interestadual só pensava em sumir, porém estava exausta quando parou em um posto de combustível e observou uma cena inusitada, uma mulher, meio alcoolizada, e zangada com alguém, a mulher tinha os cabelos pretos e longos, estavam em desalinhos, deveria ter um metro e setenta de altura, era esbelta e tinha uma cor linda de pele, não era branca como a maioria dos habitantes em Austin, mas era de um tom de dourado fascinante, de onde estava deu pra perceber que tinha os olhos escuros como a noite, não dava para distinguir a cor exata dos olhos, mas era um contraste naquela com aquela pele dourada e aqueles cabelos negros, Kamilah observou a cena pitoresca enquanto abastecia o carro, quando viu que o homem empurrou Leila e a fez cambalear para o meio fio, antes que ela esborrachasse no chão Kamilah correu e a segurou colocando-a sentada no banco de seu carro e foi atrás do homem,

— Hei você! Ficou louco? Você a agrediu! Você não pode fazer isso com uma mulher, ela poderia ter se machucado. Falou Kamilah.

— E daí! Você acha que ela vai lembrar-se disso amanhã, tenho certeza que não vai saber nem onde estava. O homem falou com muita amargura na voz tentando amenizar a cena ele olhou para Kamilah e concluiu. — Veja, eu tenho mais o que fazer, do que perder tempo com esse porre. O homem virou as costas e saiu. Kamilah olhou para trás e viu Leila, ela realmente estava mal, o melhor momento era levá-la para algum lugar. Mas primeiro precisava saber quem era e onde morava aquela mulher exótica.

—Oi? Você pode me ouvir?

Falou suavemente observando os traços bem delineados daquele rosto perfeito, Leila abriu os olhos como quem precisasse ter certeza que estava ouvindo mesmo aquela voz que mais parecia uma melodia, ela olhou em direção da voz e definitivamente acreditou que era uma visão, aquele rosto era idêntico ao de Tin-Hinan, a lendária mulher que governou os tuaregues, mesmo depois de morta ainda se fazia presente nas leis dos tuaregues impondo sua presença através das lendas de seu povo.

—Você precisa de ajuda.

Aquilo não era uma visão, era realmente alguém querendo lhe ajudar, pensou Leila “que os feiticeiros do deserto me protejam, ou eu estou enlouquecendo ou a maldita vodca subiu pra minha cabeça, mas na minha frente está a rainha dos meus antepassados”. Serenamente Kamilah insistia em obter resposta falando suavemente com a jovem.

—Para onde posso te levar? A voz continuava doce e sem alteração no timbre, aquilo era bom...

—Você tem um endereço?

Enquanto falava, Leila olhava para aquele rosto angelical, “decididamente os feiticeiros do deserto me enviou alguém” e então lhe entregou uma bolsa de mão. Kamilah entendeu que ali deveria ter informações, abriu a bolsa meio sem jeito e viu a carteira dela, dentro havia os documentos e um cartão de visitas “Leila al-Ismail”, olhou o endereço e decidiu levá-la para casa. Entrou na cidade e foi dirigindo até encontrar um taxista, parou e perguntou ao chofer onde era aquele endereço, ele lhe explicou e cinco minutos depois estacionava diante de um chalé de estilo inglês muito lindo, tipo casa de boneca, mas em tamanho gigante. Desceu do carro, com as chaves que estavam na bolsa de Leila abriu a porta, e voltou para pega-la, com dificuldades Kamilah conseguiu leva-la para dentro e coloca-la na cama. Ela literalmente desmaiou ao chegar a seu quarto. Depois disso, Kamilah foi até a cozinha, e procurou um chá para fazer, depois de fazê-lo tomou e pensou “e agora? Fico por aqui ou vou procurar algum lugar?” Porém, estava tão exausta que resolveu encostar-se ao sofá e acabou adormecendo.

Acordou com Leila dentro de um robe branco parada na sua frente.

—Bom dia! Falou inclinando um pouco a cabeça, para olhar Kamilah encostada de mau jeito no sofá. —Achei que eu tivesse sonhado, mas você realmente existe. Deve estar cansada. Aqui não é lugar de dormir, mais tarde você estará com dores na coluna. Pode-me dizer como vim parar em minha casa e na minha cama? E você? Quem é? E o meu carro onde deixei dessa vez?

Kamilah ainda confusa ordenou o interrogatório na mente em poucas palavras respondeu o questionário e concluiu dizendo, meu nome é Kamilah Thompson, vim de Austin, estou procurando emprego e um pouquinho de sossego em algum lugar para recomeçar minha vida. Fez uma pausa, esperando mais alguma pergunta, mas Leila apenas a olhava-a em silêncio, como se tivesse avaliando-a. — Quanto a seu carro não sei onde está, porque a encontrei em uma loja de conveniência, enquanto abastecia você discutia com alguém.

— Entendo... Respondeu olhando para o jardim de sua casa, e por um momento pensou nas últimas palavras de Nicholas antes de se embebedar. Em seguida suspirou dizendo: — Acho que dessa vez eu exagerei. Estou com uma dor de cabeça... Vou procurar uma aspirina e já volto para conversarmos sobre você. Kamilah ficou olhando para ela enquanto afastava rumo ao banheiro. Depois de um tempo retornava com uma bolsa térmica na testa, então olhou para Kamilah pensativa “realmente não delirei, essa menina é muito parecida com a rainha Hoggar, só pode ser coisa dos feiticeiros” e pensando nos costumes de sua raça, ela percebeu que de alguma forma deveria retribuir o bem que recebeu e lhe falou abertamente:

— Se você quer se estabelecer, por que não fica por aqui por um tempo, de repente podemos ser útil uma para outra. O que você acha?

Kamilah achou aquelas palavras imprevisíveis demais, mas não tinha nada a perder, com o passar do tempo Leila tornou-se uma aliada e fiel escudeira; o tempo diminuiu à dor que sentia em relação a Rick. Foi difícil aceitar a dura realidade que se cercava em torno dele, ele era o par ideal, o homem lindo que toda mulher queria pra si, inclusive ela. Rick era o maior galanteador do campus universitário, não faltava a uma festa, além de lindo era de uma bondade incrível, era impossível não se apaixonar, mas nem tudo é perfeito, Rick tinha um segredo devastador que o consumia lentamente, e isso magoava Kamilah, o relacionamento deles nunca existiu somente a esperança no coração de Kamilah a mantinha por perto, cega não enxergava a verdade, jamais imaginou que o carinho dele fosse fraternal, platônico, nunca a tocara, nem quando a beijava, sempre no rosto ou na mão, dizia que jamais a machucaria como haviam feito no passado, apesar disso, ele a queria por perto, ele a mantinha como a namoradinha linda, por um lado era bom por que afastava alguns idiotas, mas em compensação a solidão que sentia começava a arruinar seu coração; então em uma bela madrugada, se encontrava sem sono decidiu ir atrás dele em uma das festas que frequentava, e o que viu dilacerou seu coração, as pessoas bebiam, se beijavam, homens com homens, mulheres com mulheres, estavam todos nus, corpos se envolvendo uns com os outros, uma verdadeira orgia repugnante, então ela viu ele com um casal, eles estavam copulando como animais, aquilo foi bestial demais...

Nessa noite decidiu partir, ela não podia aceitar aquilo como uma coisa normal, ele não a tocava, mas se entregava a inúmeros homens e mulheres do campus, isso era vergonhoso, ela não teria cara de olhar para os outros depois do viu, precisava partir...

Enquanto arrumava suas coisas, ele chegou, encostou-se ao batente da porta e ficou olhando ela juntar as coisas, ficou em silêncio, não disse nem um “sinto muito”. Nada. Não justificou sua loucura. Nem ao menos pediu para ela ficar e entender o que havia acabado de ver. Ela pôs as malas no carro, olhou pra ele e só o vazio pairou naquele instante. Então partiu. Pelo retrovisor ainda pode ver o rosto dele meio contrariado e ao mesmo tempo aliviado, pela partida dela.

Três anos, já não pensava nele com mágoa, e tão pouco se sentia usada, a crise havia passado, tinha sua casa, seu emprego e isso tudo com ajuda de Leila, com o passar do tempo elas se tornaram muito mais que amigas tornaram-se irmãs. Sempre teve curiosidade em saber quem era aquele homem que discutiu com a amiga, porém como ela nunca tocou no assunto acabou esquecendo-se do episódio, mas nunca se esqueceu da dor que viu naqueles olhos masculinos ao esbravejar sobre o porre da amiga. Depois deste episódio nunca mais viu Leila de porre, era como se alguma coisa tivesse mudado na vida dela, às vezes achava que havia testemunhado o final de um relacionamento, Leila se relacionava superficialmente com os homens, evitava qualquer coisa que pudesse virar comprometimento.

Olhou suas vestes e pensou “Tavernas scotch-Bar” pede algo ao estilo country, colocou uma minissaia de couro e uma camisa branca, terminou o look com uma jaqueta de couro e botas pretas até as coxas. Olhou se no espelho para se maquiar e observou que estava sexy demais. Modelou seus olhos com rimel e cajal e completou com uma sombra, passou um Baton vermelho e colocou um par de brincos e pulseiras. Estava linda. Os olhos verdes pareciam duas esmeraldas contrastando com seus cabelos cor de ébano e sua pele clara. Era muito exótica, ela sabia que mexia com os sentidos masculinos, quando caminhava pela calçada, eles a observavam e sempre de modo cortês a cumprimentavam, mas nunca chegavam ,era como se a beleza dela os afugentasse.

Leila chegou pontualmente às oito horas, Kamilah abriu a porta e a amiga deu um gritinho de felicidade.

—Minha querida você está maravilhosa, hoje você vai arrebentar corações.

Kamilah sorriu para a amiga enquanto descia as escadas e entravam no carro seguiram para o bar que ficava fora da cidade.

No caminho falaram de coisas banais, então Kamilah lembrou–se da assinatura no livro que encontrara na biblioteca o nome era imponente, ela teve curiosidade em conhecer o dono daquela caligrafia marcante. Leila observou a cara de viagem da amiga e perguntou o que ela estava pensando, Kamilah olhou para ela e comentou sobre o texto que havia lido, disse que às vezes imaginava estar em uma tenda no Saara ao lado de um lindo Sheik Tuaregue. Leila fez uma careta e disse- lhe:

—Os belos sheiks minha amiga, você só vai encontrar nos romances e a maioria deles não são Tuaregues, são descendentes de tribos bérberes e vou te dizer, lindo e sensual só na sua cabecinha de vento. Os verdadeiros são machistas e fanáticos, além dos cargos políticos que ocupam são extremamente despostas e arbitrários e a maioria das mulheres são verdadeiras escravas, submissas e parideiras, quase nunca tem voz ativa, as que conseguem tal feito são perseguidas pela língua e difamadas por entre as tribos. Salvo os descendentes europeus. Esses pelo menos são mais maleáveis com as mudanças, entendem melhor a posição da mulher, além de dar mais espaço, permitindo a elas estudarem e talvez se casarem por amor. Por que o casamento é como um enlace político, através dos noivos há uma continuidade de poder e dinheiro. A maioria acredita nisso, outros já acham que tudo tem haver com o destino, nada acontece se não for da vontade de Alah e o amor só pode acontecer com a convivência mútua.

Apesar do quadro desolador que a amiga lhe pintou, Kamilah lhe perguntou:

—Você está me dizendo que não existe Sheik Tuaregue?

—Não, não é isso. Talvez até exista, mas ser Sheik significa uma posição importante dentro do islamismo, ser tuaregue significa pertencer a um grupo étnico, a maioria não leva o Corão ao pé da letra.

—Sério? Eu imaginei que todos eles fossem mulçumanos.

—Nada. Se fossem, não tratariam a mulher com tanto respeito, isso é o que difere os tuaregues dos bérberes.

—Interessante.

—Numa tribo tuaregue, a mulher tem direito a escolher, a dizer não e ainda saber ler, cuidam da moradia, dos filhos e o marido cuida dela. Por que você acha que eles cobrem o rosto?

Leila falou sorrindo, como se aquilo fosse uma vitória.

—É mesmo, eles diferem dos outros.

—Enquanto a maioria das mulheres precisam se esconder do olhar masculino, as tuaregues se mostram e ainda tem o direito de possuir um amante. Não é legal?

—Você conhece Adonai al-Shihab? Leila ficou muda, balançou a cabeça para se sintonizar e lhe respondeu com uma pergunta:

—Quem?

—Leila! Você ouviu bem, Adonai al- Shihab.

—Por que o interesse? Você por acaso o conheceu?

—Claro que não! Mas confesso depois que vi a assinatura dele fiquei tentada em descobrir quem é este homem, além de um nome interessante, a caligrafia dele é maravilhosa...

Leila pensou um pouco para responder, escolhendo as palavras para falar do meio irmão sem dar demonstração de intimidade.

—Ok, o que poderia falar pra você de al-Shihab, digamos que ele seja um homem que se mantém longe, é um empresário muito importante que não tem pátria definida, é meio árabe, meio francês, meio americano, um mercador como seu velho pai.

—Você o conhece?

—Sim, ele um homem que se divide entre as obrigações com seu povo e o mundo dos negócios.

—Ele deve ser bem interessante, empresário, homem do mundo, caligrafia maravilhosa, deve ser bonito.

—Ele tem muitas qualidades, e a beleza é uma delas, tem vários projetos na área social e cultural no estado, inclusive, acho que ele tem alguma coisa com a fundação onde você trabalha. Como lhe falei antes, vive do comércio de pedras preciosas e da mineração, não tem casa fixa, ora está aqui na América, ora está do outro lado do mundo, só aparece por aqui de vez em quando, “que saudades”! Pensou enquanto continuava a falar: — Tem poucas amizades, apesar de ser um grande investidor, não confia em quase ninguém, ele é muito reservado quando se trata da vida pessoal dele.

— Você fala como se tivesse conhecimento de causa. Falou Kamilah olhando nos olhos da amiga, essa desviou o olhar e perguntou:

—Mas porque você está perguntando sobre ele?

—O livro que encontrei, deveria ser dele, seu nome estava na contracapa.

— Talvez ele tenha doado para a biblioteca, Shihab às vezes surpreende as pessoas. Espero que essas informações tenha esclarecido sua curiosidade. Olhou para a jovem e sorriu.

—Sim e não. Você ainda não me falou por que sabe tanto dele.

— Quer saber? Vamos nos divertir, outro dia falamos mais sobre ele.

Ainda dirigindo, Leila pensou na conversa e quase ficou com remorso ao pensar que poderia ter falado sobre a ligação fraterna que tem com o seu meio irmão Tuaregue, porém desde a última viagem no deserto ambos haviam decidido que assuntos pessoais só pertenciam a eles, por essa razão poucos sabiam do parentesco dos dois.

Chegaram ao scotch-bar, estava bem movimentado, era inauguração tinha gente de todos os lados naquele lugar.

O lugar era um bar que possuía vários ambientes, havia um loft que era um ambiente descontraído para curtir shows e o melhor da música pop nacional e internacional. O lounge que era um ambiente moderno, agradável e arrojado, com atendimento exclusivo, boa música e espaço para reservas. A pista house onde um DJ embalava a noite tocando desde os clássicos pop até os hits eletrônicos do momento, e a chopperia jungle onde além de ter uma pista de dança totalmente de caráter country possuia também mesas de bilhar e pistas eletrônicas de boliche, ali estava concentrado o maior número de pessoas.

—Que lugar fabuloso!

Leila comentou com entusiasmo. Kamilah também ficou empolgada com o movimento, muita gente bonita, pessoas que ela nunca viu na cidade, passavam e comprimentavam ambas, alguns Leila apresentava a Kamilah, outros elas só dava um pequeno aceno com a cabeça.

A pista estava repleta, a música alegre contagiava o público, que se empolgava em aparecer no enorme telão colocado na parede oposta da mesa do DJ.

Kamilah se entregou aos acordes daquela música eletrônica como um ritual no deserto, ela se desprendeu e deixou-se levar pela magia, por um momento imaginou-se uma odalisca ao som dos alaudes, percussores e teclados, aquela música árabe mexia com seus sentidos, ela não tinha idéia do quanto estava sendo observada e do quanto estava mexendo diretamente com os sentidos masculinos a sua volta. Seu sorriso era contagiante, estava feliz, pela primeira vez Leila viu a amiga solta, isso lhe deu paz, pois ela sabia que a amiga trazia uma grande dor na alma, só que não tinha idéia, apesar de deduzir que deveria ser por causa de um homem, porque ela sempre se esquivava de relacionamentos. Kamilah sentiu sede e a chamou para beber alguma coisa, Leila deu sinal a ela para ir sozinha, estava conversando com alguém no celular. Então kamilah foi para o balcão do scoth bar, um garçom elegante se aproximou com um meio sorriso e ela pediu uma cerveja gelada.

— Uma dama não deveria tomar cerveja sozinha em um bar como este.

Uma voz baixa e bem marcada falou na altura de seus ombros. Um arrepio percorreu todo seu corpo. Quem seria? Seria com ela? Ela se virou lentamente e se deparou com um par de olhos tão verdes quanto os dela. Na sua frente estavam quase dois metros e dez de homem, lindo, como um deus grego, ela nunca tinha visto olhos tão transparentes como aqueles, demorou um pouco para assimilar que aquilo não era uma visão e então respondeu a ele com certo humor na voz pensando que aquela abordagem tinha sido inusitada.

— Estamos na América, aqui somos livres para fazer o que quisermos. E se isso for uma cantada, é mais estranha que já ouvi. Ela respondeu a observação dele com meio sorriso e continuou a olhá-lo, para quebrar aquele instante onde os dois se avaliavam fisicamente, instintivamente ela levou o gargalo da garrafa até aos lábios como um convite inconsciente na face, ela lhe perguntou muito sensual:

— Você aceita beber?

— Talvez. Mas lhe ofereço algo melhor que isso, porque beber cerveja com você definitivamente não combina.

—Brincadeira, não é?

— Não. Não é.

O sorriso dele estimulava-a desafiá-lo, ele sentiu que ela estava adorando ser provocada, e o que era pior ele também estava.

—Caso você fosse beber comigo, o que sugeria?

—Talvez um bom vinho em um lugar mais calmo, mais sugestivo.

—Meu Deus! Em que planeta você vive? Kamilah respondeu-lhe quase que horrorizada.

—No mesmo que você, mas de onde eu venho consideramos as mulheres como joias, por isso cuidamos delas, é claro que às vezes precisamos lapidar algumas, mas isso vai de acordo com a situação.

Respondeu zombeteiramente. Ela sorriu balançando a cabeça não acreditando na figura que estava na sua frente. Novamente ela pegou a garrafa e olhou para ele como um todo, depois foi fracionando o olhar, primeiro olhou para boca, os lábios pareciam desenhados de tão perfeitos, os olhos eram expressivos, o rosto bem talhado, fino nas extremidades, o queixo quadrado era marcado por uma pequena fenda redonda, quando sorria aparecia mais duas nas maçãs do rosto. Teve uma vontade louca de beijá-lo, se controlou e com um suspiro olhou para a pista de dança retornando o olhar para aquele par de olhos. Ele também a olhava do mesmo modo.

—Aceita dançar?

Perguntou-lhe meio sem jeito com o rosto em brasa por ter sido tão atirada. Ele achou graça ao perceber que ela ficou constrangida, em ser tão explicita ao olhá-lo de cima em baixo, num convite silencioso ao pecado, quem era aquela mulher? Seu instinto lhe dizia que ali havia um vulcão de sensualidade ao mesmo tempo uma mulher doce e talvez reservada.

Um contraste da beleza com a sutileza da magia, ela era toda encantos, ele se viu preso aos olhos dela no momento em que entrou ali e a viu dançar, se sentiu um verdadeiro bérberes no deserto, ele viu a semelhança dela como algo inevitável com o destino, ele precisava possuí-la, mais do que isso ele a queria em seu harém. Olhando em direção à pista de dança ele focalizou Leila, ela cruzou com olhar dele, mas ele desviou o olhar, pois naquele momento seu objetivo era outro. E olhando para Kamilah, pegou–lhe suavemente na mão, tão suavemente que Kamilah não fez nenhuma objeção quando ele a puxou para sair dali.

—Quero fazer algo melhor que isso. Venha!

A noite estava quente, o céu estava sem nuvens e todo estrelado, Kamilah ainda pensou enquanto caminhava ao lado daquele completo estranho que poderia estar ficando louca em sair assim, sem ao menos saber para onde estava indo, mas por alguma razão, ela não estava com medo dele. Era como se soubesse que deveria ir, era como se esperasse esse encontro por séculos.

—Entre no carro, vou levá-la para ver uma coisa.

Ela olhou para o esportivo estacionado ali, ainda sem entender por que aquela força a impulsionava em querer descobrir o que era. Eles entraram no carro e ele dirigiu sentido à cidade, em silêncio ela só curtia aquele momento, a todo o momento afastava os pensamentos ruins que vinham em sua mente, agora já era tarde para pensar no assunto.

— Não fique apreensiva não tenho nenhuma intenção de lhe ferir ou mesmo sequestrar.

—Acredito que você não fará isso.

Ele sorriu, enquanto estacionava o carro na garagem de um edifício enorme, localizado perto da Rivercenter Mall. “Bom pelo menos estou no centro da cidade, é mais fácil para pedir socorro”. Pensou enquanto soltava o cinto de segurança e olhava o ambiente pouco iluminado daquela garagem, ele falava de modo tranquilo, era imperceptível descobrir o que ele realmente queria através de sua voz, não era descontrolado e nem tão pouco afoito, parecia ser direto e claro em suas ações.

—Você pode achar estranho, talvez até piegas o que vou lhe mostrar, talvez também pense que seja uma desculpa para te levar para cama, apesar de que se você quiser, eu vou achar muito bom, não se descarta alguém como você, mesmo que isso seja primeiro encontro.

— Espero que tenha algo muito interessante para me mostrar, por que apesar de lhe parecer natural, não tenho hábitos de seguir estranhos pela noite, sem esquecer que deixei minha melhor amiga para trás e nem lhe disse aonde ia, com certeza ela ficará preocupada comigo.

—Calma, vou lhe devolver sem nenhum arranhão. A menos é claro que você deseje experimentar as garras do leão. Enquanto falava dirigia sentido ao elevador.

—Por acaso o que vai me mostrar tem garras? Perguntou de forma divertida.

Ele sorriu. Mas não disse nada. Entraram em silêncio no elevador, ele apertou o último andar, o elevador subia e com ele os batimentos cardíacos de Kamilah, de repente uma ponta de preocupação a assombrou, “meu Deus, o que estou fazendo?” olhou para o sinal luminoso dos números que ia acendendo conforme subiam como uma contagem regressiva até que chegaram ao seu destino final à porta se abriu para um apartamento ricamente mobiliado, ela ficou impressionada com o requinte dos móveis e da decoração.

—Seja bem-vinda a minha humilde casa.

Ele falou a ela do mesmo modo de antes, suave e tranquilo, o timbre de voz dele não modificava, não podia se dizer o que ele estava tramando. Ela o olhou curiosa, então ele pegou nas mãos dela e a levou para o interior do apartamento. Caminharam por um corredor, depois entraram em uma sala onde havia uma enorme janela. Mas ela não se impressionou com aquilo, ela ficou impressionada foi com a decoração, parecia um museu, mas com um toque pessoal marcante.

— Eu a trouxe aqui para lhe mostrar isso.

Ela levantou a cabeça e viu uma enorme tela pintada a sua frente, ela ficou muda com que viu; diante dela tinha um grupo de homens árabes com lanças e escudos, esses homens tinham o rosto tampado, como os tuaregues, eles estavam em um acampamento no deserto, a frente deles havia uma mulher morena que estava sentada em um trono, ela usava uma rica túnica azul encrustada de pedras preciosas, nas mãos trazia um leque feito de penas de pavão, seus braços possuíam braceletes amarelos e cor de prata, no pescoço trazia um lindo colar, que a adornava ricamente, seu cabelos longos e negros como a noite, cobertos por um lenço e uma joia suspensa no alto da testa, ela deveria ser da realeza, não sorria, seus lábios carnudos eram cobertos por um batom de cor azul que contrastava com os olhos verdes desenhados por finos traços negros, os grandes brincos terminava o conjunto maravilhoso que a adornava a beleza daquela mulher, seu rosto de detalhes finos combinavam com o lindo nariz reto sobre a face, a imagem a petrificou.

A sensação que sentia ao olhar para aqueles olhos era uma mistura de medo, de poder e respeito. Ela ficou parada olhando, como se tivesse recordando de alguma coisa. Como se soubesse que ao olhar para aqueles olhos estaria olhando para a própria alma. Ele observou as reações que ela teve diante do quadro, e viu nitidamente a emoção dela ao ver os detalhes, ao ver o acampamento e os guardiões daquela mulher.

—Dizem que até nos dias de hoje, ela mantém um efeito mágico sobre as pessoas que a olhão.

Ele falou trazendo-a de volta para a imensa sala.

— Quando a vi dançando, eu vi a semelhança de vocês duas, fiquei maravilhado com a cena, se estivéssemos no deserto, com certeza algum sultão já haveria de ter lhe sequestrado e a levado para os confins de algum palácio.

Ela ouviu aquelas palavras e sentiu medo, pela primeira vez ela pensou que isso poderia lhe acontecer.

— Calma! Essa não é minha intenção. Não tenho nenhum palácio e tão pouco tenho um harém. “Apesar de realmente desejá-la colocar em um particularmente meu”, pensou enquanto falava com um sorriso de fazer derreter qualquer geleira. Ela olhou para ele e por momento desejou descobrir o que tinha debaixo daquela roupa, desejou experimentar o gosto daquela boca, imaginou como seria fazer amor com ele.

— A nossa semelhança é incrível. Não tenho palavras para dizer a respeito. Quem é ela afinal?

—Ela é uma rainha, foi líder de uma tribo tuaregue. Até nos dias de hoje ainda é venerada por todos, por essa razão, as mulheres tuaregues tem alguns privilégios; nas tribos tuaregues, ao contrários das outras tribos de origem mulçumanas, elas não precisam ser submissas, elas têm um papel importante no grupo, podendo escolher o marido, o dote, entre outros privilégios.

—Sério? Quanto mais ouço sobre os tuaregues, mais me interesso no assunto.

—Então, normalmente quando se fala do povo do deserto, é natural generalizar, mas para quem conhece, sabe muito bem que não é assim, um bérbere não é um beduíno e tão pouco um tuaregue, apesar de serem grupos nômades e geograficamente localizados quase na mesma região, a diferença entre eles é bem definida, tanto na política quanto na religião e costumes, por exemplo, muitos tuaregues não levam o corão ao pé da letra, são mais místicos e acreditam mais nas forças da natureza que qualquer outro grupo étnico do deserto. O deserto é um mundo totalmente desconhecido do ocidente, mesmo com toda essa tecnologia que nos cerca e também a globalização. É impossível se cercar dos segredos e hábitos do Saara.

— Muito interessante, mas confesso que fiquei impressionada com nossa semelhança, muito estranho e muito misterioso.

Ela concluiu já se virando para sair daquele lugar, olhou o lindo tapete sobre o chão da sala, viu que o ambiente apesar de bem decorado era frio, não tinha vida, aquilo há incomodou um pouco. Caminhou até uma poltrona para se sentar, colocou sua pequena bolsinha de mão sobre uma mesa de centro, e suspirou tentando avaliar aquela situação inusitada.

— Eu não diria estranho, mas mágico, acredito que isso seja obra dos feiticeiros do deserto.

Ela sorriu pensando no livro que havia visto na biblioteca. “coincidência demais para um só dia, só falta ele ser um sheik, ou melhor, um tuaregue, perdido no deserto do Texas”. Ele ficou curioso, ela se iluminou enquanto sorria, ele se pegou imaginando o que teria ela pensado para se iluminar daquele jeito. Então decidiu convida-la para um drink antes de leva-la de volta, mas um estrondo fez a luz se apagar, ela se assustou, levantou-se depressa, ele tranquilo, tratou de acalmá-la.

—Psiu! Não precisava temer, vou ligar o gerador e tudo estará normal novamente. Ele já ia saindo, mas ela o segurou pela manga da camisa e completou:

— Esse negócio de ficar sozinha aqui não me agrada, odeio o escuro.

Ele a ouviu, mas seus sentidos estavam em alerta, as mãos dela queimavam seu antebraço, algo estava acontecendo naquele momento, ele percebeu que era impossível se comportar como um homem sensato aquele momento representava uma oportunidade em cem, para seduzir aquela mulher, uma magia incandescente começou a manipulá-los, o perfume que ela exalava mexia totalmente com os sentidos, e ela não estava indiferente a ele, então como numa reação química a aproximação dos corpos se deu com longos beijos e sussurros de palavras inteligíveis para Kamilah.

A urgência deles se misturava ao barulho dos zíperes descendo, botas sendo arrancadas, ele a despiu tão logo também o estava; então a ergueu como uma pluma nos braços e a levou para o quarto. Era um sonho, aquilo não podia estar acontecendo, há muito tempo não tocava uma mulher como ela, toda macia, o perfume dela era embriagador, ele se sentou na cama diante dela e lentamente começou a beijá-la, levantou seus cabelos sedosos alcançando as curvas de seu pescoço e foi marcando a trilha do prazer, ele estava louco, mas não poderia voltar atrás, o que estava ali era um presente dos deuses e ele iria aceitar o que estava escrito. Deitou-a devagar em seus braços para sugar-lhe os seios e sentir a suavidade de seu abdômen, nunca tivera algo tão majestoso assim, lentamente foi descendo suas mãos para o triângulo do prazer localizado abaixo, ela se retraiu ante o toque, ele sorriu e voltou beijá-la como que chicoteando sua pele com a língua, foi emocionante sentir a umidade quente no meio das pernas dela, ele sabia que ela estava pronta, mas ele queria mais, então voltou a beijá-la e a acomodou em cima do colchão, enquanto descia para o meio daquele triângulo, ela percebeu a intensão, tentou lhe segurar a cabeça, com um sorriso baixo ele a olhou, ela meio que entorpecida, perguntou o que ele pretendia, ele não respondeu voltou a beijá-la, e de repente ela já estava acariciando os cabelos dele enquanto a sugava deliciosamente, ela se entregou, deixou-se ser levada por aquela insensatez e se pegou gemendo como uma gata no cio. “Perfeito” ele pensou, enquanto voltava a lhe acariciar os bico dos seios, duros como pedras, àquilo era volúpia do prazer; era isso, ambos já não tinham mais o controle da situação, ele sentiu que estava próximo de explodir, mas se segurou, precisava eternizar aquele momento, foi uma tortura para ele ao se introduzir dentro dela, ela era magnífica, encaixou-se perfeitamente em seu membro como se fosse uma única peça, seu quadril acompanhava sua cadência como as ondas do oceano, ele se desligou completamente por um momento só sentindo a reação do seu corpo naquela mulher, ela ia e vinha junto dele, remando, remando, então involuntariamente, ele a girou deixando-a numa posição de quatro, quando ele observou aquele trazeiro todo duro empinado ele ficou louco, ele agarrou os cabelos delas e a montou como um cavaleiro e ela correspondeu às investidas como uma verdadeira amazonas, ele estava embriagado, ora beijando, ora mordendo-lhe o pescoço, ora massageando-lhe os seios, ora massageando-lhe o triângulo quente no meio das pernas, então já não restava mais nada para eles, o êxtase já estava além do limite, explodiram em um gozo frenético.

Ao longo de sua vida sexual, ele nunca tinha estado com uma mulher tão receptiva assim, ela o levara aos píncaros do prazer, aquilo tinha que ser repetido novamente. Ainda assustada, ela jamais imaginou que poderia ter tanto prazer com um homem da forma com teve. A respiração de ambos estava descompassada, nada passava na cabeça deles exceto a onda de prazer magnífica que sentiram.

A energia ainda não havia voltado, ele acariciou a face enfogueada de Kamilah ciente do prazer que ambos haviam desfrutado, perguntou:

—Você está bem?

Ela apenas balançou a cabeça para dizer que sim. Ele compreendeu que ela deveria estar um pouco constrangida com a pressa dos dois, ele também estava apesar de sentir o cara mais sortudo por ter se deliciado com aquela beldade, ele percebeu surpreso que queria mais que apenas uma noite. Então ele beijou-lhe a testa e falou:

— Melhor dormirmos, amanhã eu a levarei para sua residência. Fica aqui, gostaria de acordar ao seu lado pela manhã.

Ela não respondeu apenas se aconchegou naquele corpo quente, estava confusa e fraca para tomar qualquer decisão naquele momento, então adormeceu nos braços daquele estranho, ele afagava os cabelos sedosos dela, sentindo um perfume que ele jamais esqueceria, onde fosse aquele odor estaria impregnado em sua pele como tatuagem... Então adormeceu.

Já passava das quatro horas da manhã quando Kamilah despertou; em princípio meio confusa em relação ao lugar, mas depois se lembrou de que ao seu lado estava o homem que quase lhe matou de tanto prazer, ela levantou bem devagar daquela enorme cama, enquanto sua consciência lhe acusava a todo instante, “que falta de juízo, depois de velha irresponsável” “preciso dar o fora daqui”“ não vou ter coragem de olhar pra ele novamente” “não depois de ter deixado ser seduzida por ele” “não depois de não ter me protegido” “merda! Nem lembramos de usar preservativo” correu pelo enorme corredor e conseguiu achar a sala, foi pegando peça por peça e a colocando apressadamente, depois de colocar o sutiã percebeu que não encontrava a calcinha, então calculou que deveria estar no quarto, oscilou entre o desejo de voltar ao quarto ou a fuga sem calcinha, achou a situação hilária e sorriu, então terminou de calçar as botas, pegou sua bolsa e saiu sem olhar para trás. A energia havia voltado, desceu pelo elevador até ao saguão cumprimentou o porteiro e pegou o celular, verificou que havia oito chamadas da amiga, mas decidiu que iria tomar um táxi para casa, quando o dia estivesse claro ela retornaria a ligação e se explicaria. Mas por hora desejava um bom banho quente e uma xícara de leite bem fumegante.

Depois de bom banho, Kamilah se dirigiu a cozinha aqueceu o leite e foi para o quarto, olhou para sua cama e colocou a xícara na mesinha ao lado da janela, não resistiu ao convite silencioso caiu sob o colchão e enrolou-se no edredom para se aquecer, precisava dormir, mas a sensação daquele homem em sua pele estava impregnada. — Foi um sonho! Um doce sonho... Murmurou enquanto fechava os olhos.

madeleine di angelo
Enviado por madeleine di angelo em 20/06/2012
Código do texto: T3733787
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