Dia dos namorados
12 de junho, 22h10, César Magno se prepara para dormir, já na cama, envolve-se nas cobertas e em pensamentos sobre o dia, significativo dia...
O que povoa parte do rio de pensamentos desse homem no período antecedente ao sono em um dia como esse? Justamente em tal data, para tantos impregnada de legítima carga emotiva, embora não se possa desconsiderar o lado mercantil, quando tantos comercializam relacionamentos a dois.
Não se trata de nenhuma festa junina, mas sim do dia dos namorados, para César Magno é um dia augusto, revestido de anseios, sonhos, objetivos e necessidade de uma completude específica, que como algumas outras, não depende somente de si para alcançar.
Ele autoindaga:
- "Onde estará minha criatura feminina, companheira constituída de uma constelação de virtudes? Encantadora e recatada; elegantemente simples; com irrisória malícia de coração; sentimentalmente séria mas doce e meiga ao externar-se; dedicada e sem friezas; educada nas atitudes." (certos anseios)
- "Que seja bela, graciosa, distinta e polida nos modos, nas vestimentas, nos encantos, nas feições." (um arquétipo)
- "Que saiba se colocar em qualquer ambiente, e tenha sabiamente o que dizer de instrutivo, irradiando essencial cultura." (imaginado conteúdo)
- "Certamente terá um jeito reservado de ser com os homens e de se revelar na intimidade somente ao escolhido; incondicionalmente se envolver e tratar com respeito o amado." (subjetiva dedução)
- "Havendo o alicerce fundamental, o Amor, que isso desencadeie a coragem decisiva para entregar-se inteiramente, abrindo mão de algumas coisas em prol de outras; que esse sentimento não seja apenas uma bela palavra, e que não se parta o coração nem seja corrompido o amor pela deliberada infidelidade, que fatalmente o compromete irreversivelmente, ainda que se tente rejuntá-lo..." (solidez do vínculo)
- "Aquela que contribua com sua parcela para um resgate, nessa sociedade decaída, dentro do possível, mas acima de tudo, do perfil de mulher virtuosa de Provérbios 31." (uma crença)
- "Já encontrei algumas assim... e quão maravilhosas são... cada uma delas é capaz de tornar verdadeiramente feliz, completo e realizado o seu preferido." (alguns suspiros)
- "Mas não basta encontrá-la, é preciso algo de misterioso, um toque superior em um contexto favorável, sem certas barreiras... Nada é impossível na vida, e que ocorra benevolamente, como uma chuva após o plantio, ou mesmo uma rebrota após a geada." (elevada reflexão)
- "Que seu papel feminino de ajudadora seja retribuído em mão dupla, visto que elo amoroso implica crescimento pessoal, estímulo das virtudes e elevação mútua. Ao menos a tentativa e o esforço já serão válidos!" (missão de vida)
- "Que ela não tenha ares de perfeição, pois ao cotidiano do amor não cabem utopias, e as rosas naturalmente são dotadas de espinhos, e que exista um contraponto por meio de imperfeições, mas que a árvore seja sobretudo boa, seus frutos doces e alimentem amavelmente a quem a ela se achegar: quer seja o marido, filhos etc." (esteio familiar)
- "Mas a minha, aquela tão sonhada... ainda não a tenho hoje, deixo para o futuro, no devido tempo. Quem saberá dizer que experiências a antecederão, ensaios, até mesmo novas desilusões... dolorosas aprendizagens." (apelo à resignação)
- "Já tive namoradas que muito me amaram, mais e melhor do que fui amado nos últimos tempos... vi o outro lado da moeda, as quais extraíram de mim maravilhas superiores, o meu melhor, meu próprio Eu; por tal razão, por contexto, coisas da vida, agora que vou dormir recuperando um saudosismo, os desagravos e desapontamentos amorosos ainda me entristecem, maltratam o coração, insistem em querer afugentar o sono... mas amanhã é outro dia, outro dia... mais um dia..." (triste ansiedade)
Assim ele adormece. Mas não se distingue quando está sonhando, quer de olhos abertos, ou fechados.