A Flor do Asfalto Quente

Era meio dia. O sol de quarenta graus na cabeça, a mochila de dois quilos nas costas, num corpo de cinqüenta. Meu camisão cabia dois de mim e a minha calça me obrigava a levantá-la a cada dois passos se não quisesse mostrar minha bunda e minhas canelas finas no meio da avenida. Aquele sofrimento já tinha virado rotina, por isso nem era mais sofrimento. Eu só queria passar no vestibular daqui dois anos, o resto era o resto. Um lance diferente tinha acontecido naquele dia, a Audicea tava indo comigo até a parada. Ela estudava na minha sala, mas eu nunca tinha falado com ela, mas como a vi sozinha caminhando no mesmo rumo que eu, quase do meu lado, foi o jeito...

- Vai pegar o busão também?

- Aham, ela me respondeu.

Eu olhei pra ela, dessa vez mais de perto do que o de costume. Tentei fazer o que sempre fazia cada vez que olhava uma menina. “Deixa ver se é bonita ou feia”

Olhei o rosto primeiro. O rosto era bonitinho, os olhos eram bem legais, castanho escuro, mas bem penetrantes e meio misteriosos, sei lá. O cabelo também era legal, meio liso até os ombros. Não era nenhuma Juliana Paes de corpo, era até bem magrinha, sem nada definido. Mas quando eu disse uma besteira e ela sorriu, putz. Que sorriso era aquele? Ela tinha a boca meio diferente, o sorriso era bonito pra caramba, sei nem explicar como. Só aquilo fez ela bonita pra caramba. A gente passou em frente a uma pastelaria que eu costumava comer. Ela caminhava reto, segurando os cadernos junto ao peito, com os dois braços. Olhava reto, não observava nada em volta, como se nada fosse interessante e mantinha o mesmo quase sorriso, que nem a mona lisa. Eu arrisquei:

- Quer tomar um suco?- Parei, olhando pra ela. Pensei rapidamente: “Que merda que eu to fazendo?”

Ela olhou pra mim, balançou a cabeça e disse: -Aham.

Fiquei sem ação. Eu nunca tinha feito aquilo na minha vida. E agora? E se eu não tiver grana pra pagar? E se eu não souber mais o que fazer? Droga!

A gente foi, pedi dois sucos. O meu era de acerola, ela pediu de açaí. Ela era mesmo muito diferente, porque eu nunca tinha tomado suco de açaí. Ela parecia meio nerd, falava três línguas e sempre tirava nota boa, que droga o que eu tava fazendo com uma menina daquelas? Ela olhou pra mim sorrindo com aquele olhar misterioso e falou:

- Sempre te vejo passar na frente da minha casa. Acho que a gente mora na mesma rua...

- Sério?

- Aham...

- Legal... Posso te acompanhar até sua casa então...

Daí pensei: Cara, eu to com muita sorte hoje. Já dizia minha mãe: o amor acontece quando a gente menos espera.

Kaê Brito
Enviado por Kaê Brito em 11/06/2012
Código do texto: T3718656