JOÃO
JOÃO
Estou aqui, meio sentado meio deitado, numa imobilidade que a distância podem confundir-me com uma estátua. Minha cabeça a mil, tantas idéias, tantas vontades ... todas presas num corpo inerte.
Olho calado a minha Rosa calada e relembro a nossa vida juntos. Vinte anos. Foi uma boa vida. Quer dizer, acho que foi. Algumas vezes me excedi, eu sei. Na verdade se não tivesse bebido tanto, talvez não estivesse aqui agora, um paralítico. Um nada. Talvez tivesse conhecido a mais tempo a minha mulher, conhecido como ela é. Uma pessoa admirável, uma mulher linda e sábia! Além de tudo, tem cuidado de mim com um zelo que jamais conheci ... quando me dá banho, fala o tempo todo e com uma ternura que chega a me emocionar. Adoro ouvi-la, aliás, ouvir e olhar para Rosa tem sido meu único (e grande) prazer. Quisera podermos conversar, mas eu a ouço e ela parece não perceber. Tento fazer qualquer movimento, meus olhos chegam a doer e nada. Ela não sabe, talvez nem imagine que eu a ouço, a admiro, a amo!