NOSSO TEMPO NOVO?
NOSSO TEMPO NOVO?
Cheguei a meu apartamento e, como de costume, deixei minha mochila sobre minha cama, quase sempre com a metade quase ocupada pelo acúmulo de livros que vou lendo aos poucos. Observei, sobre um deles, que havia um bilhete de minha mãe, que, quando cheguei, não estava mais. Ela, quase todas as tardes, da uma passadinha por lá e desfaz um pouco da minha bagunça, alem de deixar algo preparado para meu alimento noturno.
Dizia o bilhete:
“Ana me ligou no celular. Queria o numero do seu ou o telefone do seu apartamento, porém disse que não me recordava e pedi para que me ligasse à noite. Não quis falar sem lhe consultar”.
Liguei para minha mãe. Disse-me então que ela queria saber algo sobre estagio na empresa em que trabalho. Sabia que a finalidade não era essa, mas consenti que passasse meus números, sob a alegação de que veria o que se poderia fazer. Fiquei a pensar o que a levou a me procurar, passados quase dez anos de nosso ultimo encontro.
Ana foi um grande amor do passado, oito anos mais nova que eu, mas experiente o suficiente, bem acima das mulheres de sua idade. Nossos pais não permitiam o nosso relacionamento seguir em frente, pois, por sermos primos de primeiro grau, havia aquele mito de que jamais poderíamos formar um casal. Seguimos o nosso caso escondido de ambos, até que não foi mais possível. Tínhamos que fazer uma escolha. Magoar nossos pais ou abandonarmos o nosso amor. Infelizmente, a nossa insegurança sobre o futuro insólito nos levou à segunda opção. Desde então optamos por nunca mais nos vermos.
Estava preparando-me para dormir, quando finalmente meu celular tocou. A mesma voz doce e rouca de anos atrás me soou ao ouvido:
- oi menino! Ainda se lembra de mim?
Surpreso e ainda sem acreditar, respondi:
- com certeza! Jamais esqueceria essa voz tão delicada, mesmo que se passassem dezenas de anos!
- sua mãe lhe falou sobre estágio e tudo mais? Eu tinha de encontrar uma desculpa para pedir seus telefones...
- disse exatamente como você - falou para ela. Eu assim que soube já deduzi que era apenas um meio de me encontrar... Afinal lhe conheço bem apesar nos tantos anos sem nos falarmos...
- minha vida está muito difícil, menino... Muita coisa mudou... Ando também muito carente... No impulso resolvi te procurar de alguma forma...
- que bom que ainda lembra-se de mim – respondi. Pois não me esqueci de você. Apenas preferi manter-me isolado.
- menino! Gostaria de lhe encontrar e poder conversar um pouco. Seria possível?
- com certeza. Sabe aquela pracinha que a gente se encontrava? Encontro-lhe lá, sábado, às duas da tarde.
No dia marcado, cheguei uma hora antes. Queria admirar aquele lugar que foi palco de tantos encontros, arriscados, mas felizes enquanto puderam acontecer. As imagens ocorriam em minha memória exatamente com aconteceram. Algumas lágrimas escorreram-me pela face. Na hora combinada, Ana chegou.
Fez sinal para que eu entrasse em seu carro, que prontamente obedeci. Encontrei ali a mesma mulher de outrora, bela e jovial, o mesmo sorriso nos lábios que tanto beijei. Conversamos sobre muitas coisas... Recordações do passado... O rumo de nossas vidas até então. Eu a observava e desviava meu olhar, feito menino tímido. Ela, ao contrario, mantinha seus olhos sempre fixos em direção a mim... Algumas horas se passaram... Precisava ir... Mas pediu para que pudesse me levar ate próximo de meu apartamento...
Ao entrar em meu bairro, pedi para que me deixasse um pouco distante de meu destino, pois ainda queria caminhar um pouco... Parou o carro... Despedimos-nos e fiz menção de beijar seu rosto. Ao chegar bem perto, não resisti e fui de encontro a seus lábios, que não resistiram e também tocaram os meus. Desci e com um aceno me afastei e segui pensativo. Seria aquilo o inicio de um tempo novo para nós dois?