A mulher e o pássaro
Ela estava ali sentada com o livro no colo. O olhar distante traía-lhe a atenção. Seus pensamentos repousavam no verde com pequenas variações da vegetação tropical que vestia o parque. Suas mãos distraídas cobriam o livro adormecido em recanto tão acolhedor.
O perfume das flores de jasmim próximas, envolvia o ambiente como uma auréola perfumando-lhe sua beleza divina.
Pus-me a imaginar-lhe o tom tranqüilo de voz, o jeito de caminhar, o toque macio das mãos, a contemplação doce do olhar, o calor aconchegante de um coração apaixonado por alguém cujos lábios da sorte expressaram o nome.
Mulher, cujas deusas deviam-lhe invejar a beleza imaculada, quedava-se ali absorta, distante, esquecida do mundo, viajando por algum lugar inalcançável por este mortal qualquer.
O canto do pássaro despertou-lhe da meditação. À procura de seu dono, permitiu-me apreciar-lhe o perfil sereno, emoldurado pelo cenário de paz do local.
O canto voou para mais longe. Os olhos da mulher procuraram acompanhar o som e por um desses mistérios da vida, fui agraciado com o encontro de seu olhar.
Tímida, abaixou-o para logo depois certificar-se de que os meus olhos já eram seus. Devolveu-me um pequeno e lindo sorriso. A minha alma elevou-se aos céus. Mas, o meu coração despreparado fez com que os meus pensamentos se confundissem em emoções tumultuadas. A boca secou-me as palavras, as pernas ficaram pesadas e os meus olhos estanques limitaram-se a mirar olhos que me diziam do desejo de amor, de cumplicidade, de paixão disponíveis naquele vaso raríssimo e valor incalculável desenhado pelas mãos do Criador.
Não sei bem o que houve depois disso. Senti-me incapaz de qualquer reação. Hipnotizado, pude vislumbrar suas costas alvas e elegantes sobre pernas perfeitas, num caminhar silencioso, que a levava para bem longe de mim igual, que foi, ao canto do pássaro.
E, então, só, fiquei.
Luiz Alberto G Vasconcellos - 31/05/2012 - revisado