Rita e Luis Fernando haviam decidido separar-se. 

 

Era uma separação onde ainda existia amor, porém a convivência era difícil. Ele se tornara, entre outras coisas que a desagradavam, obeso e compulsivo por comidas, principalmente à noite, quando atacava geladeira e armários, à cata de guloseimas e não aceitava nenhum regime ou tratamento. 

 

Luis Fernando era  excêntrico e  ainda egoísta. Não cedia espaço para ninguém, a começar na sua cama.

 

 Dormir com ele, um sacrifício, pois, por diversas vezes, Rita se viu atirada ao chão, claro, sem que ele percebesse. Ele ocupava quase que todo espaço daquela enorme cama deles.

 

Tinha ciúmes do tempo dedicado  ao trabalho dela e queria exclusividade em tudo. E a tinha, porém, brigas e brigas enormes aconteciam, pois ele não confiava em seu taco...

 

Assim, no dia em que a mudança dele saiu da casa, entre choros, fizeram um trato onde ele , pra variar, deu as diretrizes:

 

"  Quando eu te ligar cantando aquela velha canção, sabes bem qual, sabes que te espero para que passemos uma noite juntos .Sozinhos,sem celular tocando, sem ninguém! E então , podes me fazer uma surpresa e levar um lanche, feito por ti, para que eu mate as saudades...

 

Rita concordou, como sempre:

 

_Tá bem meu véio! Assim ela  o chamava... Se veriam sempre, mas quando ele o quisesse!  

Era mesmo assim, meio ditador! 

E ela, por o amar tanto, nem se dava conta da prisão invisível que vivia.

 

A vida seguia normal, trabalho, casa, tudo andando. Saudades de Luis Fernando? Muitas! Mas até que estava gostando daquela liberdade , não podia negar! 

 

Na primeira semana, falavam-se todos os dias, apenas conversas.Nas segunda, terceira...

 Ela sem querer perguntar nada, sentia-se indesejada, pois a tal de música não aparecia no telefone nunca.

 

 Uma bela tarde, enquanto ela ainda trabalhava, o celular toca...

 

Ao atender, ouve apenas a música, a famosa música, cujo refrão era: Mata o véio, mata o véio!

 

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Toda feliz, radiante, chega do trabalho,toma um banho demorado e bem caprichado, escolhe as "roupitchas" bem especiais  e vai ao encontro...Claro, não podia esquecer o lanche surpresa, preparado com carinho...

 

Foi maravilhoso, como sempre era quando se encontravam...

 

E assim seguiam-se as semanas e os encontros.Sempre que o telefone tocava, ela sentia-se viva novamente...

O tempo passou e ele continuava engordando, não se tratando...Parecia inflar a cada encontro...

 

As coisas entre eles, estavam cada vez mais difíceis e num dos últimos encontros, ele, ainda na sala,  pede que ela escute a que a partir de então, seria sua nova música :  

"O caldinho de mocotó!"
A coisa tava braba...Só com caldinho,rs...

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Como  resposta, após ter entendido o recado, Rita foi até a cozinha. 

 

Ao invés de um caldinho de mocotó, preparou um panelão de chá de camomila, para terminar de acalmar o marido .

 

 Foi em direção à antiga vitrola que ele fazia questão de manter por lá, remexeu, remexeu, procurou um LP, colocou-o e deixou-o tocando.....

( Ciao amore, Ciao amore...)

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deu um beijo , virou as costas e nunca mais lá voltou! 

 

Agora nada mais tinha a fazer ali e pensando bem, viu que até  seus gostos musicais, eram completamente diferentes.

Não sentia nem culpa, pois tudo fizera para que ele se tratasse...


Estava curada daquela doença, que pensava ser amor! 

 

Vira a esquina, pega o celular e avisa Lili, irmã dele que era médica...Talvez alguém de fora o conseguisse tratar...

 



*Essa foi uma participação num Projeto que participo tendo como tema:

 

 "Quando eu te ligar cantando aquela velha canção "

 

 

 

 

Rejane Chica
Enviado por Rejane Chica em 30/05/2012
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