uma joia rara
Parou o carro para desembarcar o colega quando de repente avistou uma mulher na calçada com o filho no colo. Reconheceu aquele andar. Ficou paralisado. Seu olhar buscou o dela com a languidez de uma virgem. Ela olhou-o brevemente, mas seu olhar não acusou mais do que estranheza.
Ela passou e ele continuou ali parado, estático, enlevado. Sua memoria rapidamente levou-o aos anos de sua mocidade. Ela era a namorada que ele não quis. Era a única mulher que o havia amado de verdade. E ele não a quis. Era o amor mais desinteressado que ele jamais imaginou que existiria. E ele não a quis. Ela era capaz de ficar feliz com um simples beijo de boa noite em uma noite quente de sábado. E ele não a quis. ela foi agraciada com a beleza das deusas do Olimpo. E ele não a quis.
Do alto de sua tolice juvenil imaginava que a qualquer momento poderia encontrar alguém como ela. Dez anos e muitas mulheres passaram-se e ele jamais encontrou algo parecido. Por isso que a imagem daquela moça com uma criança no colo o fez parecer um avarento quando avista um tesouro. Um mendigo que encontrasse uma joia rara e a trocasse por um prato de comida haveria tido uma sorte maior. Olhou no retrovisor, tentou engatar a ré, mas a marcha não entrou. Ocorreu-lhe que a vida não permite regressos. O tempo é um professor prolixo. Engatou a primeira e foi embora.