Amor de carnaval

Amor de carnaval acaba em cinzas, (alusão à quarta-feira de cinzas). É o que ouvimos constantemente. Por ter vivido essa experiência de vários namoros fugazes, durante o reinado de momo, rendo-me a tais argumentos. Quem brincou carnaval nos salões dos clubes sociais, ao som de saudosas marchinhas como: Mamãe eu quero, Bandeira branca, Abre alas, A jardineira, etc, aqui em Soterópolis – antes de os trios elétricos aniquilá-los, entende muito bem do que estou falando. Num desses animados bailes conheci uma linda colombina, com a qual brinquei todos os dias da folia. Antes eram três, hoje, a massa ignóbil se entrega à esbórnia durante seis dias. E, se não houver um freio, a turma vai passar por cima da quarta-feira de cinzas como um rolo compressor. Na terça-feira, ultimo dia dos festejos carnavalescos, marcamos um encontro para quinta-feira, às 20 horas no Largo da Madragoa. Conforme combinamos fui ao encontro, porém, meio receoso de que a morena não comparecesse. Dez minutos antes do horário aprazado eu lá estava. Parei o fusquinha bege, na praça pouco iluminada, e me pus a esperar. Após uma tolerância de quinze minutos sem ela aparecer não tive dúvidas e, em solilóquio, falei cá com os meus botões: entrei pelo cano! Quando eu Já me preparava para deixar a praça, eis que se aproximava uma bela morena, muito mais bonita que a que eu estava esperando, vindo em minha direção! Para não perder a viagem, arrisquei. Dei duas piscadas no farol do fusca. Ela, desconfiada, aproximou-se. Abri a porta do carro, ela entrou, cumprimentou-me, dando-me em seguida um adocicado beijo. Meu coração quase saltou da caixa. Naquele momento percebi que nem tudo estava perdido. Estava chovendo em minha horta! Sem perda de tempo começamos imediatamente uma sessão de “amassos” e ardentes beijos.

Em dado momento do idílio ela falou que eu estava diferente.

Diferente como? – Indaguei.

- Não sei dizer, mas estou te achando diferente.

Mais uma vez usei da astúcia comum aos homens, e falei:

É porque estou usando óculos. Argumento este que temporariamente a convenceu. E continuamos a nossa tórrida sessão.

Coincidência ou não, ela devia ter marcado um encontro pós-carnaval, com seu Pierrô, no mesmo local onde eu esperava pela minha colombina.

O namoro ia muito bem, até eu cometer um pequeno deslize. Na época em que este fato se desenrolou não existiam motéis. Namorávamos dentro do carro, sem receios da violência que hoje impera em Pindorama. Claro que tomávamos as nossas precauções porque, como todos sabemos, “seguro morreu de velho, e desconfiado ainda vive.” Convidei-a para tomarmos umas cervejas num barzinho na praia da Penha, ótimo local para se namorar dentro do carro... E essa era a minha intenção. Ela topou. Mas, pediu-me que primeiro passássemos em sua casa. Foi aí que a minha sorte degringolou. Como eu não sabia onde ela morava, perguntei em que rua ficava. Ela percebeu a gafe que havia cometido, encontrando-se com um desconhecido e, com ele se entregando a ardentes beijos e“amassos”, entrou em pânico e me pediu mil desculpas pelo equívoco. Apeou rapidamente do fusca e se enveredou por uma rua no sentido do bairro do Bonfim. E escafedeu-se.

Pelo que supus fomos vítimas de um efêmero amor de carnaval que se acabou em cinzas. E, até hoje rio, quando me vem à mente esse inusitado desencontro-encontro-desencontro.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 25/05/2012
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