Lágrimas de um palhaço ..............................
-Eu... - Ele era engraçado, era muito inteligente, tinha um patrão rígido, mas era seu amigo. Certamente Will era o bobo da corte mais engraçado de todos os reinos, fazia todos sorrirem, de crianças a idosos, homens e mulheres. Nunca com gestos obscenos, ou palavras baixas. Em fim, o melhor bobo de todos os tempos.
Numa noite enquanto ele se apresentava, numa festa, no salão real entrou uma garota, perfeitamente perfeita, com seus cabelos negros caídos sobre os ombros, seus olhos maravilhosamente negros, encantadores.
-quem é essa garota?- perguntava Will a si mesmo – é tão linda!
Era uma moça simples, porém, linda, charme e encanto dos pés a cabeça. Bom ao fim do espetáculo, Will quis saber quem era a tal moça, mas ninguém lhe soube responder, nem os maquiadores, nem o mordomo, ninguém.
Os dias foram se passando, e com os dias... Meses, ao fim de mais ou menos cinco meses, Will já estava apaixonado por aquela garota, mesmo sem a conhecer, apenas por vê-la passar pelo corredor de seu quarto. Seria possível, que num palácio tão grande, ninguém conheceria aquela garota?
Um dia Will saiu de seu quarto, sem maquiagem, sentou-se no degrau mais alto da escada, centrou seus olhos numa janela, e ali ficou por horas e horas. Em um minuto, encostou a cabeça na parede, ao encostar a cabeça na parede, seus pensamentos foram longe, foram nos olhos e cabelos negros da garota amada. Enquanto Will pensava na amada, saltou-lhe dos olhos algumas lagrimas, por alguns minutos, no meio destes minutos, subiu pela escada uma espécie de anjo, a garota amada. Ao deparar com rapaz chorando, ela se sentou para saber a causa de seu pranto, mas Will apenas virou sua face para a parede, no intuito de esconder as lagrimas de um palhaço, pois se uma gargalhada faz muitos sorrirem, suas lagrimas podem afogar multidões sem ao menos tocar- lhes os pés.
- olha para mim!- disse a garota- porque você não olha para mim?
Will enxugou as lagrimas às escondidas, voltou sua face sorrindo para a garota dizendo: por tal grandeza, onde meus olhos querem enxergar, com sua imensa beleza, apenas amor tem a ti dar.
-Nossa! Você é poeta?- perguntou a princesa.
Will deu uma leve risada, segurou as mãos da garota e disse:
-Desculpe-me, mas não sou poeta, sou amante louco, mas não poeta.
Ela sorriu, Will perguntou seu nome, e ela respondeu...
-Silvana! Sou a princesa Silvana, filha do rei Antonio. E você quem é?
-eu sou Will, todos aqui me conhecem como Will. Bom eu sou o bobo da corte.
Ao dizer isto, a princesa começou a sorrir, Will abaixou a cabeça tristemente.
Ela pediu desculpas, sorriu porque bobos sempre eram símbolos de alegrias e nunca de tristeza.
Ao terminar de se desculpar, Will se viu num estado hipnótico onde a frase “fim de jogo” se repetia milhares e milhares de vezes.
Pois uma princesa se casaria certamente com um lorde, no mínimo com um plebeu, mas com um palhaço... Jamais.
Will retirou do bolso da camisa um Lenço de seda, cor de escarlate, o entregou a princesa, perguntando:
-Descreva este lenço?
Ela respondeu meio sem entender:
- bom a cor é bem viva, dá certo encanto ao observador, e como dizem... Vermelho, é a cor da paixão.
- bom- disse Will- eu faço isso, eu encanto, dou vida às pessoas que me ouve.
A princesa devolveu o lenço ao bobo, ele o beijou e a entregou novamente dizendo: - agora é seu... Tome, e sempre se lembre de mim, este lenço escarlate significa meu coração que sempre estará contigo.
Ele se levantou e saiu. A princesa Silvana continuou na escada por horas e horas. De vez em quando, beijava o lenço sorrindo.
Estaria à princesa Silvana apaixonada por um bobo? Será que ao receber um lenço escarlate, ela o entregou um coração? Atos de amor! Mas será que a pequena sorria apaixonada?
O tempo passou... E um dia quando juntos sentados no jardim, Will disse a garota:
-Silvana, você gosta de mim?
-claro- respondeu ela.
-Mas eu quero saber se você seria capaz de... Amar um palhaço?
Silvana o abraçou dizendo que sim, e se aquele palhaço a fizesse feliz ela o amaria sem problema algum.
Ao cair à noite, festa no palácio, o reino todo havia sido convidado. Will estava se apresentando em um de seus números, após algumas piruetas, Will passou os olhos sobre a janela, e do outro lado, avistou a amada beijando outro. Os céus caíram para aquele palhaço, mas teve que continuar. Pois os outros não eram culpados de sua má sorte.
Ao fim do espetáculo, Will foi para seu quarto, lá ficou por vinte e cinco dias. Sem se levantar da cama, sem comer ou beber, sem... Sem viver.
Ao sair do seu quarto, passando pela porta do quarto da amada, ouviu dizerem: “como você esta linda!”. Will olhou rápido, e viu a amada vestida de noiva, e novamente uma mulher diz: “vai ser a noiva mais bela de todos os tempos” frase para suicídio, talvez pensasse Will.
- que graça há na vida se aquela que mais ama vai se casar com outro?- pensava Will.
Poderia ele, ali naquele momento, entrar no quarto, e implorar, implorar que ela não se casasse, pois é isso que os que amam fazem, Simplesmente imploram, para que o amem também. Mas pelo contrario, Will não se manifestou, apenas fechou a porta silenciosamente, no intuito de não ser descoberto.
O fim estaria próximo, a pequena se casaria com o plebeu em cinco dias, mas o que fazer? Se os pais dela estavam de acordo com a união dos jovens.
Os dias correram, e no dia do casamento, todos já estavam no salão real, menos Will e a princesa Silvana, ao descer, a pequena o encontrou sentado na escada, à pequena sentou-se junto a ele dizendo:
- você não vai ao meu casamento? Está todo mundo La!
-melhor não!-disse Will, cabisbaixo.
Will estava tão triste, que a princesa não conseguia sair dali, mesmo se quisesse, as magoas do palhaço a detinha.
- vamos!-disse a princesa- eu iria entrar sozinha, mas agora irei entrar contigo, e não aceito não como resposta!
Will se levantou querendo recusar, mas ela insistiu tanto que ele acabou cedendo. Will entrou no quarto, Will se maquiou, pintou todo o seu rosto, saiu do quarto, pegou da Mao da pequena, e a levou ate o altar. Ao chegarem à porta do salão, todos pararam para vê-la. Que bela estava a princesa! Ao seu lado, estava um bobo, um autêntico bobo, de maquiagem e tudo, mas diferiam-se as roupas, passaram de macacões vermelhos, para terno preto. Ao chegarem ao altar, Will passou a Mao da amada para o plebeu, o maior dos golpes já recebidos. Depois de todas as formalidades, Will se retirou dos salão, voltando para a escada. Lá recordou de todas as cenas vividas naquela noite. “como estava linda!” sussurrava Will.
Ele levantou- se, quis ir ate o salão, e interromper o casamento. Mas parou na porta, e pensou, “melhor não, ela está tão feliz, e eu... é, melhor não, melhor ficar e encarar minhas derrotas.”
Will voltou para a escada, depois de algumas horas, Will se debruçou na janela da frente. Era no fim da cerimônia, a princesa havia se casado com o plebeu, e todas as esperanças haviam morrido. Ela o beijou novamente, e se foram.
Will começou a chorar... Lagrimas de palhaço, tão cruéis, tão tristes quanto a lagrima da mãe de Deus. Ali jogado debaixo de uma janela, acabava-se em lágrimas, abandonado, pobre Will, tão jovem, e já sendo atacado pelo cruel jogo da vida, não foi à toa que o pobre palhaço se jogou ao suicídio.
Alguns “palhaços” nasceram para viverem sozinhos, e nada mais.
“as alegrias de uns, nunca são motivos de graças para outros, sempre existem dois lados.”
FIM
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