Encontro no ônibus

Perdi o ônibus que sempre pegava. Fiquei com raiva, nervoso por não poder chegar cedo a minha casa. Ao entrar no ônibus seguinte, que ia ao meu destino, encontrei você logo na primeira vista. Morena, alta, intelectual, me apaixonei de cara quando vi seu sorriso ao despedir-se de uma amiga.

Sentei um pouco longe, com medo de me aproximar, mas notei que se não conversasse contigo, talvez não a visse nunca mais. Fingi que ia descer e sentei ao seu lado. Quase desisti, mas levantei toda coragem que tinha e lhe falei um "oi", meio que abafado ou sussurrado. Você não escutou, meu rosto começou a corar. Tive medo de lhe falar algo mais.

Virei meu rosto para encontrar o seu. Meu coração não parava de saltar. Quando seus olhos vieram de encontro aos meus, fingi olhar por entre a janela, o mundo afora sem ao menos piscar. Neste momento o mundo parou, minha respiração, minha mente, meus olhos. Nem ousei piscar. Então você voltou a ler o seu livro.

Ao cair, sem querer, o seu estojo, corri para buscar. Quando lhe entreguei, e nossas mãos se encontraram, passei por um mundo que nunca tinha visto antes, senti um calor diferente, meus sentidos voltaram-se apenas para o seu perfume doce, seus lábios expressando a gratidão pela gentileza prestada, a brisa do vento lambendo seus doces cachos, os gentis piscar de seus olhos. Naquele momento o mundo se reduziu apenas a nós dois.

Antes que pudesse notar, você se preparava para descer em seu ponto, e eu nem cheguei perto de lhe perguntar o nome. Ao levantar e deixar você passar foi como ter que me despedir de algo muito importante para mim, fui vendo você se afastar e o grito incessante dentro de mim se manifestar.

Juro que perdi outros ônibus propositalmente esperando este reencontro, lutei por mais dois meses até ir lhe esquecendo aos poucos, a única prova que tenho que não esqueci completamente de você, é este conto, e através dele deixo que realmente me apaixonei por você.