8 Meses

Ela abriu os olhos lentamente, esperando encontrar os luminosos raios de sol invadindo seu quarto através das frestas da cortina. Porém, encontrou apenas a escuridão.

Esticou o braço para alcançar seu celular. Eram 3:20 da manhã.

Automaticamente seus dedos lhe guiaram para a "Caixa de Entrada". Parecia incrível que aquela mensagem ainda estivesse lá. Oito meses já haviam passado desde a última vez que falara com ele. Oito meses também desde aquele terrível dia que mudou toda a sua vida.

"Eu te amo e esperarei o tempo que você precisar"

Ela se lembrava tão bem daquela última conversa. Dissera a ele que não acreditava em suas palavras e declarações, que o melhor que ele devia fazer era deixá-la em paz. Ela havia sido cruel.

E o culpado por sua decisão era aquele senhor de aparência séria e simpática, embaixo de seus cabelos ralos e grisalhos. "Dois meses" ele havia dito.

Se passaram oito meses.

Oito meses desde o dia em que ela decidiu não acreditar no amor.

E foi essa decisão a responsável por seu constante ar de tristeza nos últimos 240 dias. Oito meses.

A palavra "Responder" brilhava na tela do celular com mais intensidade que as demais. "Talvez eu ainda tenha uma chance." Pensou consigo mesma, corando um pouco.

Não hesitou.

"Eu nunca duvidei de seus sentimentos. Eu sempre te amei, por mais que nunca demonstrasse isso, por mais que eu tenha negado. Eu não acreditava em mim mesma, mas agora eu acredito. Te amo muito."

Uma onda de tranquilidade invadiu seu corpo quando o celular anunciou "mensagem enviada".

"Não acredito que demorei oito meses para fazer isso." Ela pensou, rindo consigo mesma.

Fechou os olhos, o sono finalmente voltara.

Sentia-se tão tranquila agora. "Talvez finalmente as coisas comecem a dar certo...", ela se sentia tão feliz que seria capaz de pular, gritar, até mesmo cantar. Mas não agora.

Fechou os olhos, ainda sorrindo.

-

Alguns quilômetros dali, ele acorda com o bip do celular.

Lê a mensagem, e depois a xinga baixinho. "Que tipo de otário ela pensa que sou? Agora sou eu que não acredito".

Ele apaga a mensagem, e volta a dormir.

-

Na manhã seguinte, ele acordará e entenderá todas as razões dela.

Ela não acordará mais. Câncer terminal no cérebro. Os médicos dirão que ela foi um milagre, que seu corpo não dava sinal de resistência maior que dois meses, porém ela viveu aqueles seus últimos oito meses com toda a força e emoção que falta em tantas pessoas que vivem 80 anos.

Seus pais se comoverão ao ler a última mensagem enviada de seu celular.

E em seu epitáfio estará: Ela amou, ela viveu.

Débora O A Assumpção
Enviado por Débora O A Assumpção em 17/05/2012
Reeditado em 20/02/2013
Código do texto: T3672648
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