Traços de Rebeca

Quando as linhas cobrem os pontos, e todos os sujeitos tomam suas damas, o vento mergulha dentro de todo seu desejo. Assim dizia Rebeca. Sua pele branca, macia que cobria todas as suas dores de menina que se culpa por sua desilusão. Eu daria mil francos mensais se pudesse curá-la. Porém isso nunca será possível. Hoje recebo essa lenta aprecia de dor. A mesma essa que seus cachos curtos encobrem. Ela está faminta de alegria, mas nunca poderá se entregar novamente. Rebeca conheceu Julian aos dezoito anos. E embora ele tivesse toda essa mágica lembrança de solidão e felicidade, eu poderia me entregar. Talvez essa verdade tivesses sido menos impactante, pois não existe amor que não seja coberto pela dor. Mas esse amor, assim seria válido se ambos amassem. Hoje tive dois desejos que se confrontavam: O primeiro tomou de mim toda a razão, pois a falta que Julian me faz, seria seriamente grave se me declare-se seu amor. Pois o mesmo não me ama, e sei disso. Ainda toco meus pés em seu quarto, cobrindo meu corpo com seu edredom, cobrindo minha cabeça com seu travesseiro e sufocando até a morte. Não há Julian nesse quarto. A segunda vontade seria de me alegrar sobre esse esquecimento, fantasiar essa história, deteriorar... Pois quando ouço seu nome, o ódio me toma e então isso significa verdade. Julian não é verdade. É solidão, desespero. Pois um dia se guardou a felicidade, e arrancada nunca pude recuperá-la.

Recebo alguns amigos, costuro, trabalho, mas não vivo. Não vivo por algum significado. Compreendo que seja a falta. Mas a outra vontade nunca o libertará. Não busco me sustentar desse medo, pois ele não existe mais aqui, não há razão, não me ama...

Pego meu carro e dou três voltas por toda a cidade. A gasolina acaba enfrente a uma Pub. Desço. Me liberto. Hoje está frio, então me sento perto do aquecedor. Tomo como álibi a verdade. Mas ela não existe, não agora. Nunca existirá. Ela não existe. Vou até o espelho e sombreio os olhos. Não há caras aqui, não há moças aqui. Eu não estou aqui. Volto até meu carro, tem um auto posto no fim da rua. Vou até esse auto posto, porque talvez eu consiga me libertar. Não há uma sombra na rua, os carros estão todos parados. É dia de festa, mas seus pais não sabem. Penso: Se eles soubessem, talvez pudessem interver. Não! Não quero que saibam, não quero que intervenham, não quero que o obriguem. Ele não me ama, nunca amará novamente. Eu não existo dentro de sua cabeça. Talvez eu tenha sido duro demais, porque tive medo. Sou medrosa, sou covarde. Estou longe do fim da rua. Vejo a luz do auto posto. As pessoas lá riem, não sabem o que se passa na minha cabeça. Estou coberta por um vestido de setim. Não existe algodão em meu apartamento. Não existe se quer Julian. Eu não existo, não estou lá. Estou aqui nesse auto posto. Todas as pessoas me olham, sou uma estranha, tenho uma aparência desértica, porque pertenço à solidão. Tomei o lugar do medo. Enquanto me enchem um galão eu acendo o cigarro. Preciso comprar mais cigarros, este é o ultimo. Como devo me sentir nesse dia de felicidade? Não sei, não me sinto nesse dia. Gostaria de converter todas as pessoas do meu prédio. As colocaria contra Julian. Sei de sua amantes. Sei que se tornou amado de outra. É assim que quer. E o desespero não vem, não mais, não o quero. Não aceito o desespero. As pessoas insistem em persistir no nome de Julian. Nunca mais o verei. Nem ele nunca me verá. Nunca estaremos juntos para sempre. Talvez eu não queira mais isso. É essa a verdade. Mas não entendo a infelicidade. Talvez eu estivesse bem se ele morresse, se eu morresse. Talvez alguém devesse morrer nesse dia de felicidade. Todas as pessoas não estariam mais felizes. Nunca deixaria de compreender a agonia das pessoas. Não suporto o modo como riem. Não estou atingida. Não estou só. Não estou infeliz. Me torno criativa. Vou até a cozinha e preparo meu chá. Odeio esse chá. Ele se tornou obrigação. Nunca mais verei Julian. Talvez eu o veja, mas com sua amante, aquela que lhe declarou fidelidade. Como se tivesse sido infiel. Estou constrangida. Tenho vinte e dois anos. Estou morrendo nessa idade. Há muito mais o que fazer nesse tempo, porque eu me considero fútil. Não o amo, não estou só.

Tomo toda essa agonia. Volto para o carro, não há mais cigarros. Ligo o motor e o carro funciona novamente. Comprei coisas que me fariam felizes. Chocolates, filmes, essas coisas que os amigos indicam quando se termina um relacionamento. Mas não estou infeliz. Gostaria de dizer que não o amo. Repito isso todos os dias. Não consigo me olhar no espelho. Está frio, nesse vestido encontro o frio. Não estou só. Gostaria de dizer isso a Julian. Ele se vangloria da minha infelicidade. Não estou infeliz. Estou só, apenas isso. Não estou feliz também. Estou morna. Tenho traços de menina envelhecida. Teria sido toda a minha dedicação quando o tornei homem. Porque eu o curei de sua doença, eu não o deixei passar fome, eu o dei abrigo, e o consolei quando sentia saudades de sua família que estava do outro lado do mundo. Eu te abracei forte e tomei toda a sua dor. A dor é minha, ela é real. A amante nunca se importará. Ela jura amor, será eterno, o amor será eterno. Não sou ela. Sou Rebeca. Eu o levei até a rodoviária. Dei-lhe minhas roupas quando sofreu acidente. Tudo estava tão comprido. Sinto vergonha de sua necessidade. Estou fora dela, porque fui jogada fora. Estou fora desse jogo. Eu tomo o lugar de sofredora. E ela de amante e amada. Sou covarde. Me torno covarde na medida do tempo. Talvez eu devesse te denunciar. Me tornei uma delatora da infelicidade. Me torno cruel. Estou só.

Desço as escadas. Preciso de cigarros. O último fumei no auto posto. Aquela rua gigantesca... Tomou o lugar da minha serenidade. Não sou atriz como Julian. Eu tenho sentimentos. Gostaria de esquecê-lo, mas sou vaidosa. Ao menos fui algum dia. Não reencontro Julian, porque voltou para seu lugar de origem. Julian é um mentiroso.

Encontro seus cigarros. Te ensinei a fumar, a beber. Te tornei homem. Você não sabia fazer amor até me conhecer. Seu amor era infantil, não tinha vida. Não tinha força. Você era fraco. Sempre agiu como uma criança. Começo a criar nojo de você. Você faz amor com a metade do mundo. Seu amor é cruel. Seu amor foi dividido. Não quero parte alguma de seu amor. Você pode comer seu amor e cagá-lo da mesma forma que se sujou na rodoviária e eu te emprestei minhas roupas. Até nisso fui fraca. Você se veste como uma mulher. Age como uma mulher que se tornou nojenta. Não há o mundo atrás dela. Você é nojento. Tenho ânsia de vomito quando te vejo. Você voltou para casa, viajou quinze horas, nojento. Seu cheiro impregnou todo o ônibus. Todos troçam de você, porque você é nojento. Você não é feliz, nunca tomará meu lugar. Não sei como pude te tomar nos braços e desejar todo o meu amor. Você nunca terá meu amor novamente. Você é terrível, é nojento. O seu cheiro fede como sua bunda. Você é um porco. Você me dá náuseas. Nunca ensinarei sua filha a te amar. Ela não pertence a você, ela foi um projeto meu. Nossa filha jamais será nojenta. Quando ela crescer e souber o quanto você foi nojento, não sentirá vontade de ser sua filha. Nunca será sua. Nem ela e nem eu. Você não me terá de volta como planeja. Conheço sua mente porca. Me envergonho de ter me deitado com você, de ter feito planos que incluíam você. Jamais serei sua novamente. Mesmo que você exista nesses planos, e eles fiquem vazio, sempre estarão vazio. Porque você nunca voltará para mim. Você não quer assim. Você não me quer. Nem a mim e nem nossos planos. Me sinto nojento de ter curado sua doença. Nunca mais me verá.

Não sinto fome. Me cubro com o edredom de Julian. Estou lendo alguns livros que pertenceram a alguém, porque todos os fins são precedidos de felicidades. Estou só nesse apartamento. Minha filha não está aqui. Nunca estará. É um plano meu e de Julian. Ela não existe até que ele volte. Não quero que ele volte, nunca voltará. Não serei dele. Estou cansada mentalmente, porque não sei mais sobre a verdade. Me desfiz do piano, da mesa de jantar, do sofá. Me desfiz de todas as coisas postas por você aqui. Não voltaria ao lugar de origem, porque ainda sim pertenceria a você. Não quero que nada aqui te pertença. Nunca mais serei sua. Estou convicta disso. Você não se encontra com sua amante, então esse amor cresce. Deixa de ser infantil e se torna realidade. Esse amor durará, porque ela sempre vai lutar por você. Fará as mesmas coisas que eu fiz. Menos até, porque se cansará com facilidade. Nunca será fiel. Será até onde não suporta, e então te esquecerá. Você nunca mais precisou de mim, nunca precisará. Quando lembro de quando nos conhecemos. Acho que você vive dessa roda familiar. Não estou infeliz. Me tornei insuportável. Quando nos conhecemos você era infeliz. Você já era nojento, porém eu te amava. Nunca deixei de te amar. Me provoquei irreal, irregular. Não estou em seu pensamento. Nunca estarei novamente. Sua mãe aprovará sua nova amante, ela sempre faz tudo o que você quer. Ela retrucará um pouco, porque pensa na nossa volta, ela quer estar bem comigo e dizer que sempre me apoiou. Mas um dia quando ela desistir da nossa volta, ela te apoiará. Seu pai não reenvidicará. Seu pai está cansado. Nunca tomará a voz de sua mãe. Você terá vergonha e fará todo aquele cerco de pobre juventude. Tenho pena do seu futuro. Na ultima noite deixei de pensar no futuro. Tomei a bancada do Pub do outro lado da cidade e fiz um striper. Acho que meus amigos sentem pena de mim. Tirei todo o vestido. Todos viram meu novo conjunto. Eu estava limpa. Gostaria que você tivesse visto. Por outro lá... Se você estivesse lá jamais o perdoaria, tacaria mil garrafas em cima de você. Toso dizem que é o costume. Ouço todos os dias a mesma coisa. Cansei de dizer que não estou infeliz. Mas não estou! Estou me sentindo revigorada. Cansei de escrever história de que você voltará. Você nunca voltará, não se importa com a minha existência. Agora existe para você apenas a amante. Não o amo mais, gostaria de lhe dizer isso. Você saberia o que dizer e eu me machucaria. Gostaria de lhe dizer que não o amo mais, e depois então, escutássemos o silencio. Você se sentiria dolorido, e eu sairia vitoriosa. Imagino lhe dizendo que não o amo. Nunca o amarei novamente. Sou infiel. Encontrei Leonard nos meus sonhos. Você o odeia. Sempre o odiará. Você não me ama e o odeia. Não suporta a idéia de alguém me amar. Me torno surpresa. Sou infiel. O desespero vem no dia de domingo.

Todos querem me socorrer. Ligo para Maraysa Baldez. Ela sempre será fiel a nossa amizade. Ela se tornou minha família. Decoro seu número, o perco com o tempo. Nunca te ligarei. Sempre quis que você fosse embora. Minha mente desejava isso. Desejava a sua infidelidade. Eu pedia isso todos os dias. Apesar do desespero, eu desejei isso. Você sempre foi cruel e nojento.

Maraysa me comunica que te viu na estação norte. Nunca quero saber seu nome. Tenho vergonha de conhecer seu nome. Peço para todos que nunca volte a pronunciar seu nome. Você não existe. Você foi um conto desesperador da minha mente. Confesso que amei a irrealidade. Você é insuportável. Gostaria de te dizer muitas coisas. Mas não posso mais ouvir tua voz. Algo que seja irreal não me diria nada. Você é nojento. AS pessoas me dizem que farão o mesmo com você. Todos te odeiam, menos sua amante. Vou até o centro universitário para levar as doações. Suas roupas não existem mais, foram todas doadas. Reencontro Leonard. Este cada vez mais bonito, sempre desejou seu lugar. Nunca seria meu, nunca o colocaria no lugar de alguém que não existe. Leonard diz que sente saudades, que estou emagrecendo, que você não vale tudo isso. Nada importa. Nada disso nunca será por você. Leonard não tem razão. Sempre dirá que sou infeliz. Este me convida para jantar, diz que preciso me alimentar além dos cigarros. Concordo, pois ando fumando muito e comendo pouco. Odeio ter que comer sozinha, então prefiro não comer. Voltei para casa. Leonard teve medo de me acompanhar, teve medo de que pensasse algo. Acho que preciso de alguém que não me acompanhe. Entrei no carro sem ele perguntar se precisava de sua companhia. Disse que o encontrava num restaurante a duas ruas daqui às sete horas. Eram duas e quinze. Odeio comer às sete horas. Mas essa seria uma ótima hora. Se não o agüentasse, diria que estou cansada, que preciso dormir, então logo iria embora.

Abro o armário. Não há mais vestidos que Leonard conheça. Sei que ele gosta quando uso vestidos conhecidos por ele, porque pode tocar no tempo em que estivemos juntos e então poderíamos rir um pouco. Visto qualquer coisa. Algo que pudesse contar alguma história em que não tocasse o nome de Julian. Não está frio esta noite. Quando cheguei as sete e cinco, ele já estava lá. Me recebeu com um sorriso e uma bela e leve margarida branca. Não pertenço aqui. Não pertenço a este lugar. Esqueço de Julian. Acho que não gostaria de esquecer. Sou sua refém. Gostaria de não me importar. Bebi um pouco, tomei o lugar de outra pessoa, conversamos durante três horas e rimos durante uma hora e meia. Gostaria de não ir embora, mas o restaurante fecha. Estamos só nós. Se me levantar daqui vou querer ir embora. Não quero que Leonard me acompanhe, se ele se deitar junto comigo naquela cama, eu corarei. Não quero chorar na frente de Leonard. Não quero ir para outro lugar. Gostaria de parar o tempo. Tenho quase certeza de que se nos levantarmos Leonard acará que agora é a hora, de que iremos fazer amor. Não posso fazer amor com ele. Não existe essa probabilidade. Começo a sentir vontade de vomitar, porque sei o quanto Julian é nojento e deve estar transando com alguém que conheceu na rua, ou alguém que foi indicada por amigos. Começo a ter nojo novamente. Tenho vontade de chorar, correr, chorar, vomitar. Não quero ir embora e nem ir a lugar algum. Quero derreter. Quero apagar essa existência dentro de mim. Tudo isso é irreversível. Leonard está confiante de que iremos nos deitar juntos. Não posso dizer mais nada, não posso rir, não posso continuar fingindo. Peço que ele se afaste, então começo a chorar. Mesmo com os sapatos altos, começo a correr. Não posso parar. Corro para sempre. Solto a margarida e corro até meu carro. Ele me segue e tenta compreender. Não reconheço a verdade. Me sinto estúpida. Ele gostaria de passar a noite comigo, então compreende que preciso dele sem os prazeres sexuais. Ele nunca seria meu amigo. Já nos deitamos antes.

Conto minha história da ultima noite. Todos dizem que quero viver um drama. Me envergonho de ter dito algo. Todos sentem ódio de Julian, todos amam Leonard. Este não dormiu aqui. Me deixou adormecer na sala e então foi embora. Fico feliz de que não tenha me posto na cama. Não pertenço a essa cama. Julian nunca voltará para ela.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 13/05/2012
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