Noites de Tormenta (Lésbico)

Naquela noite Isabela estava aos prantos, com o corpo submerso na agua quente da banheira e cheia de espumas até o pescoço pensou se não seria melhor deixar de respirar, toda aquela angustia se fazia em seu olhar e nas lagrimas que escorriam sem reservas. Quanto mais tentava ser sensata, mais seu coração pedia para se afogar, mais sentia que viver não faria mais sentido.

Há seis anos atras naquela mesma banheira estava ela e seu grande amor, os corpos colados e cheios de desejos, as línguas se tocavam com ardor e nada mais importava. Seu coração pareceu se contrair, aquelas lembranças lindas de uma vida que parecia ter se dissipado tão rápido e imperceptivelmente. Ela ainda se perguntava como. Como tudo se perdeu.

Envolta em seus pensamentos deixou cair o corpo e se submergiu por inteira, alguns segundos se passaram e a vontade de levantar se esvaia, agora era só questão de tempo até que seu coração parasse de bater e tudo desapareceria... Era o que ela desejava, mas o destino não o quis assim...

Três dias antes...

Isa... Tudo bem? - Perguntou Fernanda

Hã? Ah sim está tudo bem, eu só estava com o pensamento longe.

Você anda muito assim ultimamente, é a Julia?

Fê, você é minha amiga há dois anos, e me conhece muito bem, sabe que eu não vou conversar sobre esse assunto.

Que assunto? Seu casamento? - Fernanda se sentou na cadeira de frente a mesa de Isabela – Nós duas sabemos que ele não é um mar de rosas, e você melhor do que ninguém sabe que eu não aprovo sua decisão. O divorcio nem sempre é a melhor saída.

Será? E se não for, por quanto tempo acha que vou conseguir sustentar isso? Você acredita que ela esqueceu nosso aniversário ontem... - sua voz agora embargada denunciou seu desespero. - Agente não se fala a pelo menos duas semanas, ela chega tarde em casa e nem se quer dá satisfação.

Isa sentiu a mão suave de Fernanda tocar duas mãos.

Você precisa tirar uns dias de folga, vá pra casa da sua mãe, vá descansar, você está precisando disso, pode ir, eu cubro você aqui.

Não é assim que funciona Fernanda, como é que eu vou sair por ai e deixar a empresa assim sozinha e além do mais eu... - Foi interrompida.

Para de arrumar desculpas pra tudo, eu já disse que seguro as pontas aqui... Vamos, limpa essas lagrimas e arrume as malas, dar um tempo vai te fazer bem e pro seu casamento também... Se é que você ainda pretende mantê-lo.

As coisas pareciam muito confusas, mas Isabela sabia que Fernanda tinha toda razão. Sair da cidade por uns tempos lhe faria bem. O problema agora era criar coragem para enfrentar sua mãe...

Julia... - Isa se aproximou da mulher sentada no sofá assistindo TV. - Precisamos conversar...

Se for sobre o cartão de credito eu já paguei – Disse sem desgrudar os olhos do programa que passava.

Não, não é isso... É que eu vou viajar na sexta-feira e não sei por quanto tempo irei ficar por...

Ok!

Ok? Só isso? Não vai perguntar pra onde vou, ou com quem...

Tanto faz, desde que você volte a tempo do jantar lá da empresa, temos que ir juntas, vai ser daqui há três semanas.

Isa respirou fundo e saiu da sala, aquela situação estava piorando a cada dia que passava. Antes as discussões eram continuas, e agora, nem discutiam mais, na verdade, nem se falavam mais.

Na sexta as malas já estavam prontas, Isa entrou no carro e se debruçou sobre o volante, ainda se perguntava se isso iria resolver alguma coisa, de qualquer forma de algo ela tinha certeza... Precisava disso.

Depois de cansativas quatro horas de viagem Isa chega à sua cidade natal, da ultima vez que esteve alí a situação era bem diferente.

Cinco anos atras...

Vai ficar tudo bem meu amor, agora somos só eu e você – Julia abraçou Isabela com força e tentou acalmar seu choro – Vamos começar uma nova vida, te prometo que tudo vai dar certo. - Naquela noite fria e escura as palavras de Julia lhe cairam como um consolo, estar nos braços daquela morena de pele branca e macia lhe dava todos os motivos para enfrentar o preconceito. - Vamos? - Com um sorriso encantador Julia conduziu Isa até o carro beijando seu rosto e fechando a porta. Partiram dali com o objetivo de passar uma borracha no passado.

Atualmente...

Isa tocou a campainha da casa, aquele lugar lhe trazia belas lembranças, sua infancia foi bem aproveitada e parecia que tinha sido ontem que havia se balançado naquele pneu pendurado numa corda na arvore do quintal. Suas recordações foram interrompidas com a porta que fora aberta, e da entrada surgia aquela presença tão saudosa, uma mulher nos seus cinquenta anos, na face uma expressão mista de surpresa e decepção, que logo se transformou em um sorriso cálido e aconchegante.

O abraço com que foi recebida deixou Isa vulnerável. O motivo pelo qual estaria na cidade não poderia ser revelado, muito menos à pessoa que há cinco anos lhe havia avisado que este momento chegaria, mas com aquele abraço de mãe não pode segurar suas lagrimas. Seu corpo agora já não tinha mais forças, se deixou levar pela sensação de proteção e caiu em prantos.

Depois de alguns minutos de silencio nada precisaria ser dito, as palavras silenciosas trocadas pelos olhares já diziam tudo.

Mãe eu...

Shh!! - Dona Marta colocou os dedos sobre os lábio de sua filha – Não precisa dizer nada, eu já sei!

Tudo parecia mais tranquilo agora, sabia que ainda teria uma longa conversa com sua mãe, mas não naquele momento, ela só precisava descansar, descansar da viagem, do trabalho, dos problemas, enfim só precisava de algumas horas de sono.

Quando acordou Isa parecia tonta, não havia comida durante a viagem e desceu até a cozinha. Quando olhou no relogio assustou, já eram nove horas da noite, a casa estava silenciosa, mas não se importou, abriu a geladeira e tirou de lá um sanduíche que com certeza fora preparado pra ela, pois estava do jeito que sempre gostou... Pegou um suco de limão que estava na jarra e se serviu.

O silencio era cortado apenas pelo barulho do relogio de parede, tudo estava extremamente calmo quando ouviu a voz doce de sua mãe se aproximar.

Acordou bela adormecida

Dona Marta de sentou de frente para a filha e se serviu de suco.

Esse sanduíche está divino mãe, não sei como consegui ficar tanto tempo sem... - Se calou antes que começasse o assunto que tanto queria evitar.

O que te trouxe aqui? - Perguntou com a voz serena.

Estava com saudades...

Saudades você sente há cinco anos, perguntei o que te trouxe aqui.

Precisava de um tempo... Minha vida está de ponta a cabeça.

Por que demorou tanto pra voltar filha? Você não sabe o quanto eu pedi a Deus pra te trazer de volta.

Eu tive medo... Medo de te encarar de novo, medo de que você me rejeitasse... De novo.

Eu não te rejeitaria Isa... Não você... Não minha filha... Mas sim... Essa pessoa que você insiste em ser...

Mãe eu...

Tudo bem, apesar de tudo esses anos me fizeram repensar, não concordo com esse seu relacionamento, mas minhas atitudes te afastaram de mim. Não quero cometer o mesmo erro.

Eu senti sua falta...

E eu a sua...

Pensei que fosse me enxotar daqui.

Porque eu faria isso? Com que proposito? Esperei por esse momento todos esses anos... Você não sabe o quanto é bom te ter por perto e ouvir essa sua voz tão linda e olhar nesses olhos verdes que tanto me lembram seu pai.

Sinto falta dele...

Eu sei. Todos nós sentimos. - Marta se levantou e recolheu os copos e o prato e os levou até a pia. - Você ainda não me disse o que te trouxe aqui.

Não creio que você queira saber detalhes...

Acho que estou pronta pra ouvir... - se virou para a filha.

Só... Eu só não quero falar sobre o assunto, prefiro esquecer, pelo menos por enquanto.

Mas vai ter que se abrir, se não, não posso te ajudar.

Amanhã agente conversa, eu só quero... - ensaiou um sorriso - tomar banho naquela sua banheira enorme... ainda tem não é?

Sim, está no mesmo lugar, pena que não uso... Não tenho mais idade pra me divertir como fazia com seu pa...

Mãae, pelo amor de Deus, não começa com isso...

Qual o problema, sua mãe não pode ter uma vida sexual saudável.

Mães não tem vida sexual... - Riram juntas.

Como acha que você nasceu?

Prefiro a versão da cegonha. - se retirou da cozinha e foi preparar o banho.

Seus pulmões já estavam suplicando pelo ar, seu coração batia em ritmo acelerado tentando suprir a falta de oxigênio, Isa estava disposta a superar seus limites, ou simplesmente desfalecer tentando, quando finalmente pensou ser o fim...

Filha... Te trouxe uma toalha – Marta entrou no banheiro e pendurou a toalha no suporte.

Estava sonhando acordada, mas sentiu vontade de por em pratica...

O dia amanhaceu tranquilo, os ventos de outono sopravam nos cabelos avermelhados de Isa, a pele branca maltratada pelo clima gelado que logo traria o inverno. Sentada em uma cadeira de balanço na varanda enrolada em um edredom fechou os olhos e tentou, em vão, por alguns segundos esquecer o que seus pensamentos insistiam em relembrar...

Toma, está quentinho e amargo, do jeito que você gosta – Sua mae lhe ofereceu uma xicara de chocolate quente

Mãe você vai acabar me acostumando mal...

Tudo pra você ficar aqui comigo. - Marta olhou para o nada e se lamentou – Aqui é tudo tão solitário.

Você não pensa em se mudar daqui?

Já pensei sim... Mas ir pra onde? Não tenho mais nada nessa vida à não ser você..

O silencio se instalou...

Bem... Vou começar a fazer o almoço, quer me ajudar?

Claro, mas por favor, não fica dando uma de Ana Maria Braga me ensinando pela milésima vez o segredo do seu arroz branquinho e soltinho. - Risos

Ok, eu prometo!! - Levantou a mão.

Logo depois do almoço Isa se aproximou de sua mae e a viu sentada no sofá com um laptop no colo.

A Sra. Está muito moderna pro meu gosto dona Marta.

Para com isso menina, só estou dando uma olhada nos resumos das novelas.

Vejo que esse vicio não acaba.

Velhos hábitos não passam. Quer usar? Preciso mesmo ir ao hospital , estou de plantão, assim você se diverte um pouco.

Não, tudo bem... Vou assistir um pouco de TV e tentar dormir um pouquinho.

Como quiser. - Se levantou e pegou as chaves do carro sobre a escrivaninha – Volto em algumas horas... Vai ficar bem?

Sim, Claro!

Isa, agora tentava se concentrar no que o apresentador do programa dizia, mas não deixava de pensar em sua atual situação. Há alguns meses começou a cogitar a possibilidade de divorcio, apesar de que a conquista do casamento não tenho sido muito fácil em se tratando de um casamento gay no Brasil, o divorcio lhe parecia ser ainda mais desgastante e problemático, já havia conversado sobre o assunto com o seu advogado que lhe deu algumas informações sobre a abertura do processo. Nada muito simples, muito menos barato, mas no momento lhe parecia a única saida.

Algumas horas envolvida em seus pensamentos lhe deixaram com a cabeça explodindo, ficou parada olhando o entardecer pela janela da sala e se encantou com a beleza do por do sol. Olhou para o lado e viu o notebook sobre a mesa, não hesitou muito, se sentou no sofá e o abriu. Na tela do computador uma foto de seus pais juntos. “Eles eram tão felizes, será que um dia vai ser assim comigo?”

Isa abriu a pagina da internet e começou a navegar por alguns sites sem muito conteúdo, só pra se distrair um pouco. Alguns minutos depois uma janelinha começou a piscar no canto inferior da tela, era a Fernanda conversando pelo messenger.

Fê diz: Oi Isa! Como vai?

Isabela diz: Bem...

Fê diz: Está na casa da sua mãe?

Isabela diz: Uhum!

Fê diz: Nossa... Animo garota... que baixo astral

Isabela diz: Não tem muito o que fazer aqui não, acaba que eu fico pensando de mais em coisas ruins

Fê diz: Não seja por isso... Entra nesse site aqui http://chat.libera.com.br/ Tem muita gente bacana, cria um perfil ai...

Isabela diz: Fernanda... por favor né, sala de bate papo? Você entra nessas coisas?

Fê diz: Ih, para com isso, é muito interessante... tenta vai... vai te fazer bem.

Isabela diz: Tá... perai...

Fê diz: Oi... Cadê você?

Isabela diz: Calma, to criando o perfil aqui.

Isabela diz: Kkk... Fernanda, onde você me meteu? Olha só isso aqui: Gostosa_mm diz: Oi ruivinha tá afim de tc?

Fê diz: Kkk responde ai...

Isabela diz: Que que eu falo?

Fê diz: Ah sei lá, diz que sim wé.

Isabela diz: Olha isso: Gostosa_mm diz: Me amarro em ruivas, você deve ser bem quente na cama...

Fê diz: KKKKKKKKK

Isabela diz: Isso que você chama de conteúdo inteligente?

Fê diz: Não mandei você entrar em GLS...

Isabela diz: Não... Eu entrei em Astrologia...

Fê diz: Então é pior do que eu pensava... Vou indo tá... amanhã eu levanto cedo, minha assistente preferida tirou uns dias de folga...

Isabela diz: Você só tem uma assistente....E foi você quem insistiu

Fê diz: Tá bom... agora vou te deixar a sós com a gostosa_mm

Isabela diz: Que amiga você é heim...

Depois que Fernanda ficou offline, Isa ainda ficou na sala de bate papo se divertindo com as coisas que estava lendo...

Morena_27 diz: Boa noite Ruivinha_26, me daria a honra de tc com vc?

Isa não soube bem o porquê, mas aquela tal morena_27 lhe chamou a atenção. Talvez fosse o pseudônimo, ou simplesmente a maneira como foi galantemente abordada, enfim, naquele momento isso não faria muita diferença, estava ali pra conversar um pouco, mesmo que com uma desconhecida.

Ruivinha_26 diz: Boa noite... Falando assim... Nem vou negar..rs

Morena_27 diz: De onde vc tc?

Ruivinha_26 diz: SP

Morena_27 diz: Bem pertinho

Ruivinha_26 diz: E vc?

Morena_27 diz: Também.

Ruivinha_26 diz: Capital?

Morena_27 diz: Sim. Quer ir pro reservado?

Ruivinha_26 diz: Por mim tudo bem...

A conversa perdurou por longas horas... A tal morena dizia se chamar Alessandra, mas Isa não quis revelar seu verdadeiro nome, disse que seu nome era Paula. Isabela estava achando tudo aquilo muito divertido, há tanto tempo não conversava sobre tudo com alguém, ainda mais uma pessoa que acabava de “conhecer”. No fim da noite quando ouviu sua mãe chegar se despediu de Alessandra e combinaram de se falar no outro dia no mesmo horário, não trocaram telefones nem mencionaram a possibilidade.

A noite foi regada de sonhos confusos. De um lado a tal morena aparecia como um escape lhe permitindo esquecer os momentos de tormenta, sem nem mesmo um rosto, mas isto não impediu que sua imaginação criasse asas lhe proporcionando um prazer fora do comum ao se imaginar em momentos íntimos com Alessandra. Do outro, Julia com seu arrogante jeito de ignorá-la, e até mesmo nos sonhos fazia questão de magoá-la.

Amanhecendo o dia Isabela despertou de um jeito diferente, há tanto tempo não sentia toda essa disposição. Foi até a cozinha e não encontrou a mãe, percebeu que estava só, comeu qualquer coisa na geladeira e foi até o centro da cidade tomar um ar. Durante toda tarde nem se lembrou de Julia, já estava se acostumando com a ideia de que o que havia entre elas terminaria de um jeito ou de outro.

Isa não via a hora da noite chegar e poder conversar novamente com Alessandra, não que estivesse interessada em uma desconhecida, mas afinal, que mal tinha deixar os problemas de lado pra se divertir um pouco... E ponha divertimento nisso... As duas passaram a noite toda conversando sem se darem conta das horas que passavam... O interesse de Isa pela morena não passava despercebido o que as instigava ainda mais.

Alguns dias se passaram e o encontro na net era marcado e nunca faltavam, de um lado uma mulher casada que já não lembrava que seu grande amor estava à alguns quilômetros de distancia, nem mesmo o motivo que a levou aquela cidade distante. Do outro uma outra interessada na ruiva do lado de la da tela do computador que roubava suas noites de sono e seus mais intimos desejos.

Já não se via Isabela chorando pelos cantos, ou lamentando a atual situação de seu casamento, em pensamento já cogitava a possibilidade de conhecer Alessandra, e quem sabe, poder viver uma nova vida com ou sem a antes desconhecida ainda não tao familiar morena.

Isabela se pegava imaginando como seria a morena... Imaginava se seus olhos eram tão castanhos quanto lhe havia dito, se seus cabelos eram sedosos e cheirosos, se seu corpo era tão quente na cama quanto insinuou tantas vezes em suas inumeras tentativas de “aprofundar” o assunto. A ruiva já não pensava em mais nada que não se chamasse Alessandra.

Nas semanas que se seguiram o assunto entre Marta e Isabela se resumiam em lembranças da infancia e as vezes somente as vezes perguntas sobre como andava a vida amorosa de Isa sem respostas plausíveis, Isabela não estava disposta a se abrir com a mãe, não agora que tudo estava tão bem e tão tranquilo, não seria ela quem iniciaria um assunto tao constrangedor para Marta e tao doloroso para ela.

Na manha de sus partida Isa deixou a casa da mãe com a promessa de que voltaria no mês seguinte. Desta vez a despedida não fora como da ultima, não haviam lagrimas de rancor, nem mesmo de arrependimentos, elas se abraçaram e selaram a paz que há tanto procuravam. Um ultimo beijo na face e Isa se distanciou dos olhos daquela que tanto amava.

Ao chegar em seu apartamento Isabela desfez as malas e respirou fundo... “Voltei pra realidade” - Pensou.

Depois de um banho relaxante Isa se vestiu com o roupão e se deitou na cama gelada e vazia, antes compartilhada com Julia e agora... Tão solitária. Ficou um tempo olhando para o nada e percebeu o notebook sobre a escrivaninha... O relogio do criado mudo marcava Tres horas da tarde, sabia que Alessandra não estaria online, mas não custava nada arriscar...

Morena_27 diz: O que faz aqui tão cedo princesa?

Ruivinha_26 diz: Oi Alê... Não imaginei que estaria aqui, isso são horas de entrar na net?

Morena_27 diz: Ainda estou no trabalho, mas saio daqui a pouco... E você o que faz aqui?

Ruivinha_26 diz: Cheguei não tem muito tempo

Morena_27 diz: Olha não me leve à mal, mas... Já que está na cidade o que acha de nos encontrarmos?

Ruivinha_26 diz: … Não sei Alessandra...

Morena_27 diz: Porque? Está com medo? Agente se encontra em um lugar publico, à luz do dia... Não vou te sequestrar. A menos que você queira... : P

Ruivinha_26 diz: Ta bom... Onde?

Morena_27 diz: Na praça do centro pode ser? É publico o bastante? Rs

Ruivinha_26 diz: Que horas?

Morena_27 diz: Daqui há uma hora...

Ruivinha_26 diz: Já?

Morena_27 diz: Muito cedo?

Ruivinha_26 diz: Não... é que... Ok, daqui há uma hora.

Morena_27 diz: Vou estar de calça jeans e blusa vermelha...

Ruivinha_26 diz: Entao... Vou estar de Branco.

Morena_27 diz: Tudo bem... Na praça ás Quatro e meia.

Ruivinha_26 diz: Bjuh...

Isa se precipitou demais aceitando o encontro, não sabia quais as intenções da outra, nem mesmo as suas... agora já era tarde, já tinham combinado tudo, não poderia dar pra trás... “Não é nada de mais, é só um encontro... de amigas”, repetiu isso a si mesma pelo menos vinte vezes, até se convencer do contrário.

A praça estava movimentada, numa sexta-feira ensolarada, tao próximo ao inverno um dia razoavelmente quente era perfeito para curtir o feriado. Isa estava sentada no banco próximo aos brinquedos e procurava por qualquer pessoa de vermelho, pareciam estar em milhares e nenhuma parecia procurar alguém.

“Calma Alessandra, é só um encontro como outro qualquer... você vai, conhece a garota, dá uns beijinhos, se diverte um pouco e some... simples assim” A morena tentava se convencer de que Paula era apenas mais uma... Uma garota que ela enganava na sala de bate papo, o problema é que a tal ruivinha não saia dos seus pensamentos, e pior... estava envolvida com a garota até demais... Não conseguia parar de imaginar como seria tocá-la, beijá-la, abraçá-la... Estranhamente um sentimento estava envolvido naquele enredo... só não sabia de que tipo.

Ao se aproximar da praça ela viu de longe os longos cabelos avermelhados esvoaçados sob o vento, os movimentos sutis das mãos tentando contê-los, os óculos de sol sendo colocado sobre a cabeça na inútil tentativa de manter os fios longos e lisos alinhados... Então a ruiva se levantou... E aquela criatura de corpo escultural se dirigiu até o outro lado do parque em movimentos sensuais e majestosos de uma forma tão bem conhecida que se assustou... Todo aquele charme e todo aquele jeito de andar já passava diante de seus olhos há cinco anos... Então se lembrou... da voz, da doçura, da textura da pele e sentiu saudades de tocá-la, de abraçar e tê-la em seus braços até que o mundo caísse sobre ambas...

Naquele momento o mundo parecia ter caído, desmoronado... O amor que sentia pela mulher com quem estava casada todo esse tempo parecia ter revivido em seu ser... Não soube explicar quando, ou porque o deixou se perder... Mas talvez não fosse tarde, talvez ainda pudesse tomá-la em seus braços e dizer que...

Julia não esperou mais, se aproximou da mulher que a esperava e viu em seu rosto uma expressão de surpresa...

Julia? Tá fazendo o que aqui?

Julia permaneceu em silencio, não soube por onde começar... como diria que não era quem ela estava esperando, ou que era... e como diria que a estava traindo... com ela mesma... como diria que aquela não fora a primeira vez... e como a convenceria de que a amava acima de todas as coisas e que não saberia explicar como chegaram aquela situação e porque deixou que acontecesse. Como explicaria tudo sem magoá-la?

Isa olhou no relógio que marcava quatro e trinta e cinco, olhou em volta disfarçadamente procurando pela blusa vermelha... ao voltar os olhos para sua mulher...

Sou eu quem está procurando.

Não entendi – Olhou a confusa.

Sou eu – segurou uma parte da blusa vermelha.

Isabela não entendeu... ou não queria entender... Não sabia ao certo o que fazer com aquela informação, ou de que forma interpretá-la... Alessandra era Julia? Estava traindo sua mulher com... ela mesma? Ou era Julia que...

Você... É por isso que você chegava tão tarde da noite em casa?

Isa, eu posso explicar é que...

Explicar o que Julia? - Saiu pisando firme encontrando o carro no estacionamento sendo seguida por Julia.

Isabela espera... Vamos conversar...

Conversar??? Agora você quer conversar? - Bateu a porta e acelerou o carro.

Ao chegar em casa Isa se trancou no quarto. Se sentou na beirada da cama com a cabeça a mil e as lagrimas escorrendo pela face. Ouviu o barulho da porta da frente se abrindo e Julia gritando seu nome do outro lado da porta do quarto.

Isa... Abre a porta.

Silencio

Isa... por favor, vamos conversar abre essa porta.

Nada se ouvia.

Pelo amor de Deus meu amor... me escuta... eu... eu não sei o que aconteceu, não sei porque, mas aconteceu... agente tava brigando tanto e... eu só queria me distrair um pouco, não imaginei que fosse acabar assim... Vamos conversar... abre a porta.

Isa estava confusa com tudo aquilo... inúmeras vezes colocou a culpa em si mesma pelo fim do casamento, achava que já não despertava interesse em Julia, imaginava se a causa de tudo não seria ela. Agora... já não sabia mais em que pensar, não sabia o que fazer ou o que dizer... Preferiu permanecer calada.

Nao se ouviu mais nada de nenhum dos lados da porta. Elas já haviam perdido a noção do tem e o resto da noite foi de insonia para ambas as partes. Julia foi até o quarto de hospedes e se deitou na cama tentando entender o que havia acontecido, não viu que passou a noite toda por lá.

Embora a raiva tivesse tomado conta de Isabela seu coração suplicava para ouvir o que Julia teria a dizer, mesmo que fosse o que não gostaria de saber.

O sábado amanheceu frio, o corpo de Julia estava dolorido pela posição em que provavelmente cochilou... Já Isa não havia conseguido pregar o olho um só minuto e se levantou da cama para tomar uma ducha bem quente, mas antes foi até a cozinha preparar um sanduíche sem se preocupar de Julia a abordaria no caminho. Depois de comer rapidamente Isa foi até o quarto e se despiu, foi até o banheiro e ligou o chuveiro em uma temperatura razoavelmente quente. Deixou a água cair sobre seu corpo e molhar os cabelos, fechou os olhos e passou as mãos na face tentando amenizar a dor insuportável que sentia na cabeça. As lembranças dos acontecimentos atuais a deixaram ainda mais abalada, recostou o corpo na parede e abaixou a cabeça deixando derramar as lagrimas que já não conseguia conter. O seu choro era desesperador e ecoava pelo banheiro, Julia se aproximou do quarto na tentativa de conversar com Isabela e ouviu o barulho que vinha de dentro, não pensou em mais nada, abriu a porta do banheiro e encontrou Isabela aos prantos encostada na parede. Entrou com a roupa que estava e abraçou a mulher por trás tentando acalmá-la.

Vai ficar tudo bem meu amor, agora somos só eu e você. Vamos começar de novo, te prometo que tudo vai dar certo.

Isa respirou fundo ainda em soluços, se deixou abraçar pelos braços firmes e delicados de Julia, era tudo o que queria, já não importava o antes ou o depois, apenas aquilo era suficiente. Os olhos se encontraram e toda a raiva passou, só existiam as duas, nada mais, ninguém mais.

Me perdoa – Sussurrou Julia

Os labios se encontraram e todo aquele amor adormecido veio a tona... Nao havia como negar, eram feitas uma para a outra. Julia a abraçou ainda mais forte tentando fundir seu corpo ao dela, o beijo se tornou urgente e suplicante, as mãos de Isabela deslisavam pelo pescoço da amada e descia até a cintura apertando a contra si e o desejo se fez presente, Julia arrancou com dificuldade a camiseta molhada e tirou o restante das peças, os corpos agora nus se colaram e uma onda de eletricidade passou de uma para outra selando o reencontro há tanto esperado. Julia deslisou suavemente as mãos pelas costas de Isabela depositando uma delas em seu quadril, apertando, trazendo-a para si, devorando a com os lábios, sugando a língua e tirando o ar da mulher em seus braços. O mundo ao redor já não existia, agora a única coisa que fazia sentido era os corações acelerados e o intimo implorando por um contato mais profundo, e assim Julia o fez... penetrou, invadiu, se apossou do que era seu... Isa não pode fazer nada além de se deliciar com o prazer proporcionado, gemeu sem censura ao sentir os dedos firmes de Júlia dentro de si... As estocadas se tornaram mais intensas e firmes a deixando sem forças para se manter em pé. Júlia a pegou no colo ficando entre as suas pernas e se dirigiu até o quarto deitando Isa carinhosamente na cama. O que veio a seguir quase as levou ao êxtase, Julia de deitou sobre a ruiva e a penetrou ainda mais profundamente, sugou seu pescoço, mordeu seus labios, desceu para os seios e abocanhou o mamilo mordiscando de leve. Ao ouvir o gemido gostoso de sua mulher Julia investiu ainda mais na intensidade da penetração num ritmo ainda mais rapido acompanhando os movimentos de Isabela que rebolava sob ela e a levou ao mais intenso orgasmo.

Isabela relaxou sob o corpo de Julia e fechou os olhos deixando escapar uma lagrima de emoções mistas. Abraçou Julia e sussurrou em seu ouvido...

Eu te amo!

E assim adormeceram sentindo a paz que tanto procuravam...

Samantha Keith
Enviado por Samantha Keith em 10/05/2012
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