Detritos

Sinto sua falta. – Ela disse – Cada dia é mais fraca, mas é persistente. É o que me completa. Tua ausência, me torna quem eu sou hoje, se junta ao sentimento e preenche cada pedaço de mim. Não tenho como te dizer o que você quer tanto ouvir. Por que meu amor, não, eu não consigo esquecer você. Eu tentei, tanto e tão intensamente, mas você ainda é o único pra mim. Ainda é o único que eu quero do meu lado, o único que povoa meus sonhos e pensamentos. Todos esses meses e a única coisa que me manteve viva foi a esperança de mudar sua ideia. De te fazer ver outra vez aquela menina por quem se apaixonou, ver outra vez que temos um futuro que vale a pena ser trilhado. Por que pra mim isso vale a pena, amor. Nos. Para mim, vale a pena.

Ele ficou mudo ao ouvir suas palavras. No fundo, o coração de Daniel batia forte. Ele lutou, gritou por dentro. E aguentou calado cada uma das palavras de Emma. Ergueu bem o rosto, olhou no fundo dos seus olhos e proclamou um sonoro “sinto muito. Eu não consigo mais levar isso em frente.”

- Tudo bem, ela replicou. Seus olhos já cheios de lágrimas teimavam em não deixar transbordar as gotas de pura dor. Tudo bem meu amor. Eu não podia esperar que você fosse capaz disso. Eu só podia, e sempre vou continua tendo esperança. De que quem sabe, um dia, você sinta minha falta. Veja que se enganou e peça para voltar. E só o que eu posso esperar. – Ela se aproximou dele, deu-lhe um beijo no rosto, demorado e marcante. Deixou finalmente as lágrimas rolarem por seu rosto ao ir embora rumando seu caminho às costas de Daniel.

Já não existe mais um nos. Dizia a si mesma. Não existe mais nada. Apenas a morte eminente da melhor parte de mim. Da parte que só ganhou vida por ele estar comigo. E que agora precisa morrer. Colocou a mão sobre a barriga. Daniel nunca poderia saber o que existia ali. A que esperanças o coração de Emma recorria ao pensar sobre o futuro. Ele jamais poderia saber do pequeno feto crescendo dentro das entranhas femininas daquela mulher que cruelmente expulsou de sua vida. “Nunca diga nunca”, ele repetiu para si antes de pegar a mochila no chão e rumar em direção ao nada que se encontrava a sua frente.

Shriekes
Enviado por Shriekes em 09/05/2012
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