Deluarar
“A liberdade se obtém experimentando”. G. Baremblitt
Porta-voz de um sem número de pessoas, lá eu estava a buscar melodiosamente naquela praça. O ar estava frio. Nada insuportável, apenas frio, com um sabor primaveril de inverno.
Muitos carros e vários transeuntes pela praça. Cadeiras espalhadas disciplinadamente. Pessoas disciplinadas dispersas.
Nas curvas daquela serra, um místico clarão. Era ela que se prenunciava diligente e sagaz: por de trás das curvas das nuvens, das curvas da serra com brilho intenso em místico clarão.
No palco, um pequeno show à parte. Os instrumentos se arranhavam afinando cordas, sopros e som. Prenúncio de riso e pranto, distinção de dor e alegria daquilo que se formaria harmônico e “canto”.
O vento estava perspicaz. Calmo e sereno produzia a junção de corpos, de mãos e dedos. Fazia daquela superfície uma esfera propícia para manifestação do amor. A paixão também passou por lá, mas preferi o amor a ela, e ainda que efêmero naquela atmosfera tornou-se infinito por fazer vibrar meu corpo, casa de um vivente.
Ela não aparecera. Parecia desconcertada com aquele concerto. As apresentações começaram. Verdi e sua obra “Aída: marcha triunfal” ressoou por aqueles territórios... cartograficamente, com Vila-Lobos e a “Melodia Sentimental” se pousou nas paisagens extremas dos corações distantes. Senti raspar as tintas pintadas sobre meus sentidos. De lembrar da forma como me ensinaram, nem quis nada.
Foi um mix de conexão. Paul Dukas agenciou novos aprendizados. A infância nunca esteve tão viva como naquele momento de “O Aprendiz de feiticeiro”. Faceira, ponto alto da apresentação, ela piscou para mim. Ainda à espreita. Escondida. Nas curvas de suas curvas, um beijo, estampido de quem ama em gozo. No palco os músicos davam vários estampidos com seus instrumentos. No céu, a lua e eu. Ela e com “Os caçadores da arca perdida” de Jonh Williams modificou todo aquele espaço de Ser.
E assim, me re-conecto. Meus sensamentos tão disformes viajam, vão para onde o acaso quer alijado por Tchaikovsky e sua magnífica obra “Abertura”. Cartografei-me. Conectei-me com a abertura de novos mundos. Enamorado não mais da lua, não mais do vento, não mais da praça... enamorado da Vida (com seus dispositivos) em sua potência disruptiva.
P.S.: Fato real.