Ingratidão Parte I
Oliver havia esperado por esse momento a semana inteira. Um dia inteiro em uma chácara com piscina nos arredores da pequena cidade de Santo Inácio. O domingo prometia ser animado. Participariam cinco colegas do curso de Jornalismo da Universidade Estadual e seis meninas, todas estudantes de Letras da mesma instituição. Quando recebeu o convite de seu amigo Maicon, recusou.
Sempre muito recluso, entretido com leituras e filmes, é um jovem atípico. Prefere passar os feriados em casa, trancado no quarto lendo temas variados: história, literatura, filosofia, e é claro, jornalismo. É um estudante aplicado, tira boas notas, mas ainda tem dúvidas se será mesmo repórter de campo. Já estuda a possibilidade de fazer outros vestibulares. O pai o acusa constantemente de indecisão.
Mas o fato é que não pretendia ir ao banho, bastou ouvir Maicon citar o nome de Andressa para fazê-lo mudar de ideia. Seria ótimo! Uma oportunidade magnífica de estar perto de sua “musa inspiradora”, admirá-la, e o que é melhor, vê-la só de biquíni. Apesar de acalentar sentimentos puros, é um católico praticante, no seu íntimo não esconde a excitação que a visão da esbelta loira de cabelos lisos lhe provoca. Suspira.
Oliver a vê quase diariamente na universidade estudam no mesmo horário, noturno, e em salas próximas. Às vezes ela vai até a sua turma conversar com algumas das amigas que tem por lá. Ele apenas observa. Quando mais inspirado trocam cumprimentos superficiais, embora lhe pareçam acolhedores, pois Andressa tem um lindo sorriso. Combinando com a cor de sua pele. Os olhos castanhos claros combinando com os cabelos loiros amarelados. Estatura mediana, magra. Deve confessar que se apaixonou pela bela mulher à sua frente. Linda do alto de seus 20 anos, um ano mais nova que Oliver.
O dia chegou. Acordou cedo, tomou o café preparado pela mãe, sempre compreensiva. Ainda ouviu as chacotas do irmão cinco anos mais novo, mas que ainda sim demonstrava mais aptidão no trato com o sexo oposto. Felizmente o pai ainda dormia. Havia dado autorização para usar o simples Fiat Uno Mille de cor cinza, ano 2007. Pegou a mochila. Dentro levava toalha, uma muda de roupas, roupas de baixo, pente, escova de dentes e pasta, além do protetor solar. Estava ansioso com a oportunidade de conversar com Andressa, começar uma amizade, saber como é a menina que passou a admirar nos últimos meses, mas que ainda não conhece pessoalmente. Saiu de casa, sempre dirige cuidadosamente. Os amigos não pediram carona, tem seus próprios carros, mais possantes. Melhores. Preferem exibi-los. Também não lhe pediram para dar carona a nenhuma das meninas. Foi direto para a chácara.
Embora muito pontual e extremamente responsável com os horários viu que fora o último a chegar. Os demais veículos já se encontravam estacionados na entrada. Estavam em seis. A chácara era bonita à primeira vista. Verde, como todas têm de ser. Muitas mangueiras, umbuzeiros, cajueiros, até bambus podiam ser vistos, felizmente em pouca quantidade. Atravessou o portão e seguiu pela pequena trilha de terra até a casa, centro da chácara, esta carecia de mais cuidado. Não é a toa que tenham pedido tão pouco pelo aluguel no domingo. Precisava de reformas, mas não pretendia morar por lá mesmo.
Contando com ajuda do seu amigo Michel, uma das garotas cuidava de pequenos afazeres na pequena cozinha, cortando carne e guardando cervejas, em grande quantidade, no congelador. Mais um rapaz estava aquecendo a churrasqueira, usava carvão, folha, papel e álcool. Achou melhor não se aproximar deste. Foi cumprimentado aos gritos pelo Maicon e pelo Jonny. Este último o palhaço da turma, sempre com uma colocação desnecessária a respeito do defeito físico de alguém que leva todos a gargalhadas cruéis, menos o alvo da chacota.
Falava com todos, no entanto, seus olhos vasculhavam a área como um radar, à procura de Andressa. Ouviu os sons de pulos na piscina. Eram 9h00. O pessoal não estava perdendo tempo. Não era preciso ser inteligente para saber o que aconteceria naquele dia, não estava pensando nisso nem em mais ninguém apenas na bela menina. A sua musa. Tirou a camiseta e a bermuda ali mesmo no pátio. O calção de banho estava por baixo, queria ir à piscina rapidamente.
Quando foi saindo apressado o João, colega mais chegado saiu da pequena cozinha e pediu ajuda para mudar duas mesas de lugar. Muito pesadas. Tinham sido feitas de chumbo? Apesar de praticar exercícios físicos diariamente suou um pouco. Enxugou o suor da testa com as costas da mão direita, meio sem fôlego. Fez um sinal positivo ao amigo retardatário, se dirigiu rapidamente à piscina que ficava a 5 metros de onde estava, encoberta por algumas árvores. Ia a passos largos.
– Oliver! - Gritou Flávia.
Ele se virou.
- Pode levar esses pratos com carne para o Miguel que está na churrasqueira? – pediu a menina.
Oliver olhou para o lado e viu Miguel lutando contra o fogo, muito atrapalhado, outro poderia fazer aquilo. E aquele era o último lugar onde queria estar. Fez o que lhe foi pedido, pois no seu íntimo se considerava um cavalheiro e não ligava para as infames convenções sociais de nosso tempo. Atendeu ao pedido. Perguntou ao amigo se ele precisava de ajuda. Mesmo estando claro que precisava ser socorrido, Miguel recusou categoricamente. Orgulhoso. Nesse ritmo todos comeriam carne crua. Não insistiu. “Será que mais alguém me pedirá um favor?”, pensou. Então saiu furtivamente. Ás vezes tinha vontade ser como os ninjas japoneses do Período Edo, sobre os quais adora lê. Poderia agir sem ser visto.
Seguiu até a piscina. Esta se elevava a três metros de altura do chão. Subiu os cinco degraus correndo. O coração batia forte. Viu a linda morena Márcia, bastante “incorporada”, seios fartos, dentro da piscina beijando a boca do Marcos. Um jovem musculoso e de grande fama junto às meninas. Os jovens do século XXI não perdem tempo. Olhou mais adiante para a piscina e deitada em uma espreguiçadeira, se bronzeando, estava Andressa. Só de biquíni, como sonhou. Linda! Suspirou. O seu biquíni era de cor laranja. Caminhou até ela, mas não rápido o suficiente para conter o desapontamento que o dominou.
Continua...