Nada valioso.
Minhas mãos se fechavam em forma de concha, naquela noite vazia, como se segurassem algo de grande valor que não podia ser largado nunca. Não conseguia dormir. A preocupação de soltar o nada valioso era maior que meu cansaço adquirido ao longo das noites mal-dormidas. Não era possível fechar os olhos e permanecer assim por um pouco mais que efêmeros instantes. A dor de perdê-lo gritava em meu peito.
E perder o quê?, eu perguntava para um alguém que nunca iria me ouvir, só para quebrar aquele silêncio gélido que reinava dentro de mim. Perder o quê?, se, em minhas mãos, não havia pedaço algum, inteiro, quebrado, jogado, perdido? Não era nada, mas, ainda assim, insistia em ser tudo. Sem significado algum, ou, talvez, com significados tão complexos, que nem minha mente, perita em entender o difícil, foi capaz de desvendá-lo.
Eu precisava adormecer. O dia seguinte começaria cedo, e eu precisaria do máximo de disposição possível para enfrentá-lo. Fechei os olhos e decidi que faria o possível para mantê-los assim. Repousei minhas pálpebras vencidas pela fadiga. Abri minhas mãos que, antes, seguravam o nada com tanta força e proteção. Num suspiro cansado, deixei-o ir para onde quisesse ir, voar com suas próprias asas, ser livre para todo o sempre. Uma despedida inaudível saiu de meus lábios tristes. E adormeci.