Imagem: Pousada Jardim da Chapada (Chapada dos Guimarães- MT)
TRECHO DO MEU LIVRO - 8
Passou toda a viagem pensando em tudo que lhe acontecera ultimamente. Desde sua última noite com Heitor – quando teve o sonho com o homem misterioso (ao pensar nele sentia o coração disparar), depois o sonho com seu pai, o encontro com Álvaro, a Loteria, a viagem à Chapada dos Veadeiros, aquela súbita paixão por Yan – que agora tinha absoluta certeza não ser amor. Ele era um homem muito bonito, forte, envolto em mistérios, e era um mestre na arte que ela tanto queria aprender. Um homem que exercera sobre ela, por todos esses motivos, um grande fascínio. Mas era só. Amar, amar mesmo, já amava alguém – apesar de jamais ter estado frente a frente com esse alguém.
Continuava sem saber se esse amor era loucura, mas se fosse só poderia ser uma loucura boa, pois amar é sempre bom – não importa a forma que se ama. Além do mais tinha plena certeza de que um dia o teria em seus braços...
Desembarcou em Cuiabá e tomou uma outra condução com destino ao município de Chapada dos Guimarães.
Chegando lá tratou logo de procurar hospedagem. Descobriu que não tinha muitas opções: as pousadas não eram muitas, e todas bem simples; mas isso não era problema para ela.
Não procurou muito. Rapidamente escolheu uma que achou interessantíssima: ela possuía chalés que ficavam dentro da mata. O dono, um simpático senhor de meia idade, perguntou se não tinha medo – não que houvesse perigo algum, mas é que estava sozinha.
Ela riu e respondeu:
– Não senhor, eu não tenho medo!
Depois de instalada em seu chalé, tomou um bom banho e descansou um pouco.
Foi avisada de que o jantar seria peixe com pirão. Não perderia por nada!
Depois do jantar – que estava simplesmente divino – voltou ao chalé. Havia um banquinho na porta, onde se sentou e ficou algum tempo olhando a noite.
A lua estava linda, mas foi dormir cedo: estava exausta da longa viagem.
O dia amanheceu esplêndido.
Acordou e logo pulou da cama. Lavou o rosto e se preparou para sair.
Deu uma última olhada no espelho, pegou os óculos escuros e o boné e saiu.
Depois do café o dono da pousada – que apesar de rústica era encantadora – perguntou-lhe se precisaria de um guia.
Betina recusou o guia, mas pediu-lhe que conseguisse para ela um jipe para alugar. Mas decidiu que só o usaria quando fosse realmente para longe. Gostava de caminhar e além do mais não queria ninguém com ela o tempo todo. Precisava ficar sozinha para meditar e ser encontrada pela pessoa indicada por Yan: seu novo mestre – que, segundo ele, iria até ela sem que o procurasse.
Estava ansiosa para conhecê-lo. Por mais que tentasse se fazer de forte estava se sentindo deslocada ali sozinha, meio perdida num lugar completamente estranho – mas isso jamais confessaria a ninguém. Esse era um dos seus defeitos: querer ser sempre uma fortaleza.
Saiu para fazer uma primeira inspeção no local. E logo de início viu que a cidade possui um encanto que faz jus à belíssima natureza que existe ao seu redor.
Ficou sabendo que ela cresceu e se desenvolveu ao redor da igreja de Santana, construída no século XVII. É sempre muito tranqüila – a não ser nos finais de semana, quando chegam os turistas – em sua maioria esotéricos.
Ficou sabendo também que em alguns meses do ano uma densa serração a envolve, tornando ainda maior a atmosfera de mistério que domina o local.
Pegou o jipe e saiu para conhecer os tão falados paredões, sobre os quais os turistas haviam comentado durante a viagem.
Constatou que realmente era um lugar deslumbrante, com uma paisagem de tirar o fôlego: haviam cânions verdejantes e paredões avermelhados altíssimos de onde despencavam, com uma beleza estonteante, inacreditáveis cachoeiras. Suas águas rolavam, espumantes, pelos leitos dos rios cobertos de pedras. E ali perto havia uma magnífica floresta, entrecortada aqui e ali por pequeninos rios cristalinos com inúmeras cavernas.
Disseram-lhe que nos dias bem claros, lá de cima dos paredões, é possível avistar as lagoas do Pantanal, que ficam a quase cem quilômetros de distância.
Betina já podia sentir que era um lugar impregnado de grande energia.
Os guias turísticos costumavam dizer que o tempo foi, sem dúvida, o maior responsável, o grande artista que tornou a Chapada, ao longo dos anos, no que é hoje. Graças à ação dos ventos e das chuvas as escarpas foram adquirindo, pouco a pouco, formas variadas. Tornaram-se verdadeiras esculturas naturais que encantam os visitantes. Betina achou todas, sem exceção, simplesmente impressionantes. Alguns moradores locais lhe disseram que chamam esse lugar de “cidades de pedra”.
Estudiosos afirmam que a Chapada dos Guimarães é um lugar que passou por uma transformação radical, uma verdadeira metamorfose no decorrer dos séculos. Dizem que há quinhentos milhões de anos ela vivia coberta pelo gelo. Há evidências de que mais tarde esteve no fundo do mar, já que ali foram encontradas muitas conchas fossilizadas. Após isso, acredita-se que tenha virado um deserto. Muito depois se transformou numa bela floresta. Até se transformar no lugar deslumbrante que é hoje.
Betina voltou para a pousada. E, enquanto dirigia, não se cansava de admirar a beleza do local. Teve a certeza de que devia ser mesmo uma pessoa muito especial, para ser enviada a lugares assim tão lindos, tão privilegiados pela natureza!
Chegou e foi direto para o chalé. Tomou banho, deitou e dormiu logo.
TRECHO DO MEU LIVRO - 8
Passou toda a viagem pensando em tudo que lhe acontecera ultimamente. Desde sua última noite com Heitor – quando teve o sonho com o homem misterioso (ao pensar nele sentia o coração disparar), depois o sonho com seu pai, o encontro com Álvaro, a Loteria, a viagem à Chapada dos Veadeiros, aquela súbita paixão por Yan – que agora tinha absoluta certeza não ser amor. Ele era um homem muito bonito, forte, envolto em mistérios, e era um mestre na arte que ela tanto queria aprender. Um homem que exercera sobre ela, por todos esses motivos, um grande fascínio. Mas era só. Amar, amar mesmo, já amava alguém – apesar de jamais ter estado frente a frente com esse alguém.
Continuava sem saber se esse amor era loucura, mas se fosse só poderia ser uma loucura boa, pois amar é sempre bom – não importa a forma que se ama. Além do mais tinha plena certeza de que um dia o teria em seus braços...
Desembarcou em Cuiabá e tomou uma outra condução com destino ao município de Chapada dos Guimarães.
Chegando lá tratou logo de procurar hospedagem. Descobriu que não tinha muitas opções: as pousadas não eram muitas, e todas bem simples; mas isso não era problema para ela.
Não procurou muito. Rapidamente escolheu uma que achou interessantíssima: ela possuía chalés que ficavam dentro da mata. O dono, um simpático senhor de meia idade, perguntou se não tinha medo – não que houvesse perigo algum, mas é que estava sozinha.
Ela riu e respondeu:
– Não senhor, eu não tenho medo!
Depois de instalada em seu chalé, tomou um bom banho e descansou um pouco.
Foi avisada de que o jantar seria peixe com pirão. Não perderia por nada!
Depois do jantar – que estava simplesmente divino – voltou ao chalé. Havia um banquinho na porta, onde se sentou e ficou algum tempo olhando a noite.
A lua estava linda, mas foi dormir cedo: estava exausta da longa viagem.
O dia amanheceu esplêndido.
Acordou e logo pulou da cama. Lavou o rosto e se preparou para sair.
Deu uma última olhada no espelho, pegou os óculos escuros e o boné e saiu.
Depois do café o dono da pousada – que apesar de rústica era encantadora – perguntou-lhe se precisaria de um guia.
Betina recusou o guia, mas pediu-lhe que conseguisse para ela um jipe para alugar. Mas decidiu que só o usaria quando fosse realmente para longe. Gostava de caminhar e além do mais não queria ninguém com ela o tempo todo. Precisava ficar sozinha para meditar e ser encontrada pela pessoa indicada por Yan: seu novo mestre – que, segundo ele, iria até ela sem que o procurasse.
Estava ansiosa para conhecê-lo. Por mais que tentasse se fazer de forte estava se sentindo deslocada ali sozinha, meio perdida num lugar completamente estranho – mas isso jamais confessaria a ninguém. Esse era um dos seus defeitos: querer ser sempre uma fortaleza.
Saiu para fazer uma primeira inspeção no local. E logo de início viu que a cidade possui um encanto que faz jus à belíssima natureza que existe ao seu redor.
Ficou sabendo que ela cresceu e se desenvolveu ao redor da igreja de Santana, construída no século XVII. É sempre muito tranqüila – a não ser nos finais de semana, quando chegam os turistas – em sua maioria esotéricos.
Ficou sabendo também que em alguns meses do ano uma densa serração a envolve, tornando ainda maior a atmosfera de mistério que domina o local.
Pegou o jipe e saiu para conhecer os tão falados paredões, sobre os quais os turistas haviam comentado durante a viagem.
Constatou que realmente era um lugar deslumbrante, com uma paisagem de tirar o fôlego: haviam cânions verdejantes e paredões avermelhados altíssimos de onde despencavam, com uma beleza estonteante, inacreditáveis cachoeiras. Suas águas rolavam, espumantes, pelos leitos dos rios cobertos de pedras. E ali perto havia uma magnífica floresta, entrecortada aqui e ali por pequeninos rios cristalinos com inúmeras cavernas.
Disseram-lhe que nos dias bem claros, lá de cima dos paredões, é possível avistar as lagoas do Pantanal, que ficam a quase cem quilômetros de distância.
Betina já podia sentir que era um lugar impregnado de grande energia.
Os guias turísticos costumavam dizer que o tempo foi, sem dúvida, o maior responsável, o grande artista que tornou a Chapada, ao longo dos anos, no que é hoje. Graças à ação dos ventos e das chuvas as escarpas foram adquirindo, pouco a pouco, formas variadas. Tornaram-se verdadeiras esculturas naturais que encantam os visitantes. Betina achou todas, sem exceção, simplesmente impressionantes. Alguns moradores locais lhe disseram que chamam esse lugar de “cidades de pedra”.
Estudiosos afirmam que a Chapada dos Guimarães é um lugar que passou por uma transformação radical, uma verdadeira metamorfose no decorrer dos séculos. Dizem que há quinhentos milhões de anos ela vivia coberta pelo gelo. Há evidências de que mais tarde esteve no fundo do mar, já que ali foram encontradas muitas conchas fossilizadas. Após isso, acredita-se que tenha virado um deserto. Muito depois se transformou numa bela floresta. Até se transformar no lugar deslumbrante que é hoje.
Betina voltou para a pousada. E, enquanto dirigia, não se cansava de admirar a beleza do local. Teve a certeza de que devia ser mesmo uma pessoa muito especial, para ser enviada a lugares assim tão lindos, tão privilegiados pela natureza!
Chegou e foi direto para o chalé. Tomou banho, deitou e dormiu logo.