Imagem: Caminho de Pedra (RS)


TRECHO DO MEU LIVRO - 4


Partirá agora em direção a coisas novas, situações jamais experimentadas por você. Não tenha medo de aceitar desafios, de assumir riscos. Crie motivações cada vez mais fortes. Com certeza essas motivações a impelirão a seguir, a ir cada vez mais longe. Uma dessas motivações será, certamente, algumas pessoas que encontrará pelo caminho, e que precisarão muito de sua ajuda. Precisará, não raro, usar toda a sua criatividade, sua força de vontade e até muita coragem e ousadia para ajudá-las. Com o passar do tempo, à medida que as coisas forem acontecendo em sua vida, irá entendendo tudo isso. E ousando cada vez mais. Encontrará tantas respostas e soluções tão admiráveis que descobrirá que nem sequer imaginava que possuía tamanha capacidade!
Procure sempre que puder ficar em silêncio, meditar. Isso é muito importante. Procure treinar sua mente cada vez mais; não se esqueça jamais que a força da imaginação é poderosíssima. Procure, aos poucos, se superar.
Em seguida pôs as duas mãos em seu rosto, de modo que olhassem dentro dos olhos um do outro. Disse, finalmente:
– Estarei esperando.
Yan perguntou quando estaria preparada para partir. Ela pediu três dias. Precisava demitir-se do emprego: não queria ir embora sem se despedir dos amigos. Precisava também comprar algumas coisas e arrumar tudo.
Ele disse também que as passagens seriam por conta dele. Ela ainda tentou argumentar dizendo que não era necessário, que agora tinha dinheiro, etc...
Ele respondeu sorrindo:
– Eu sei!
Ela também riu: é claro que ele sabia! Era mesmo uma tonta! – pensou.
Nos três dias que se seguiram Betina tratou de arrumar tudo. Comprou roupas e calçados novos e confortáveis, pagou pequenas dívidas, pediu demissão do emprego – um pouco triste, pois gostava muito de trabalhar na pousada – e tirou algum dinheiro do Banco para levar consigo.
Mais tarde, deitada em sua cama, pensou em como seria sua vida dali por diante. Uma pontinha de apreensão a invadiu. Era tão estranho abandonar tudo assim! Afinal, ali tinha uma vida estável, seu emprego, o namorado, os amigos, sua casa! Iria deixar tudo para trás – pela segunda vez – e partir! Só que dessa vez não escolheu, não sabia ao certo para onde iria! Tampouco quais caminhos deveria seguir. Tudo era ainda um mistério para ela. Mas sua intuição lhe dizia que deveria confiar cegamente em Álvaro e agora também em Yan. Que havia uma força superior que os havia colocado em seu caminho. Sabia que seus novos caminhos eram desconhecidos e seriam, por vezes, difíceis de seguir. Mas, era ela própria quem queria ir, não estava sendo forçada a nada. Tinha um objetivo, um sonho. E não iria se desviar dele por nada desse mundo. Seria forte. Seguiria sempre em frente, ainda que fossem caminhos distantes, cheios de pedras e obstáculos. Mas estava disposta a enfrentá-los. E certa de que Deus estava do seu lado. Sua fé seria sempre sua arma mais poderosa. Daria o melhor de si. Não decepcionaria seus mestres. E, com certeza, um dia chegaria ao seu destino tão esperado. Um dia, depois de passar pelos vários obstáculos que estavam por vir, encontraria enfim as respostas que tanto desejava. E encontraria, afinal, sua alma gêmea! Esse pensamento enchia seu coração de otimismo e força para seguir em frente.
Decidiu escrever uma carta para Heitor explicando tudo. Sabia que se ficasse frente a frente com ele terminariam brigando, e mais uma vez não conseguiria dizer nada. Ou, se dissesse, sabia que ele não entenderia. Terminou a carta desejando, de todo coração, que ele fosse muito feliz.
À tardinha se encontrou com Álvaro e Yan para se despedir de Álvaro e combinar tudo para o dia seguinte.
Álvaro a abraçou com força, passando-lhe aquela energia já tão necessária. Nenhum dos dois disse nada: já haviam dito tudo. Ele disse apenas que esperaria suas mensagens. E começou a descer o morro, devagar.
Betina e Yan ficaram olhando. Lá embaixo ele se voltou e acenou para eles.
Betina chorou. Sempre chorava em despedidas.
– Agora vá também – disse Yan. – Amanhã sairemos cedo.
Ela obedeceu e foi para casa.
Por incrível que pareça dormiu como uma pedra. Só acordou quando o relógio despertou às quatro horas da manhã.
Arrumou-se, fez café e torradas. Preparou-se para partir.
De sua casa não levaria nada. Comunicou a sua senhoria que uma família pobre que conhecia viria pegar todos os móveis, algumas roupas que ficaram, enfim, o que lhes servisse. Depois disso ela poderia alugar a casa para outra pessoa. Levava apenas três malas de roupas, documentos e objetos pessoais, além de sua coleção de duendes – da qual jamais se separaria.
A viagem, apesar de longa, foi muito tranqüila. Betina não poderia contar praticamente nada a respeito dela, pois dormiu quase o tempo inteiro...