Sob a luz do luar

A noite chegou sorrateira, feito gata no cio.

Tecia seus fios calmamente, tinha o pensamento distante. Por entre os dedos, deixava deslizar a linha, que juntando uma à outra, se transformaria na mais bela colcha de dormir.

Colocava ali, seu desejo mais íntimo de que, quando pudesse usá-la, aqueceria seu corpo pequeno e o de alguém, a qual esperava chegar.

Tinha nos olhos, o brilho refletido da lua, que iluminava os movimentos.

A moça apenas queria tecer e sonhar.

Com movimentos precisos , deixava formar desenhos, e aos poucos nova forma foi dando aos bem traçados fios.

A cadeira de balanço, rangia levemente, como quem festeja um novo acontecido. E dessa maneira, junto aos fios, o sonho ia acontecendo.

Via por entre os vagos espaços, o amor a passos largos.

Ele tinha forma de gente, quente......

Sorria, imaginando o leve toque das mãos.

Seu coração acelerava, pois o toque era tão preciso e entorpecedor, que mal podia se conter.

Fechou os olhos e apenas deixou-se levar por tal sensação.

Ah como era bom sentir. Desejo. Paixão.

Por um momento, desejou ser real.

Ele tinha que existir.

Precisava ver seu sorriso. Sentir o cheiro. Ouvir a voz.

Amava. E nem sabia quem era.

Só sabia que em algum lugar, sob a luz do mesmo luar que iluminava os fios, ele estava.

Quis gritar. Não conseguiu.

Chorou calada.

Era apenas imaginação.

Abriu os olhos e voltou-se para os fios.

Sorriu. Sorriu.

Nos fios, sem que soubesse, havia tecido o semblante daquele que o coração sugerira.

E pela primeira vez, teve a certeza, seu grande amor era vivo. Real.

Existia.

Apenas não sabia onde estava. Mas o encontraria.

Com esperança no peito, arrumou cuidadosamente a colcha tecida pela alma, e repousou sobre a cama delicadamente arrumada.

Sonharia mais uma vez.

Com uma grande diferença agora : conhecia aquele , que sob a luz do luar, a levara a tecer a mais linda colcha de amor.

AnaEliza
Enviado por AnaEliza em 18/04/2012
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