A Dama de Preto

O vestido preto e o chapéu da mesma cor. Uma comitiva carregando um caixão e ela ao lado, com um lenço chorando as lágrimas falsas. Eu, Felipe Seixas, conhecia-a muito bem. Um amante sempre reconhece quem amou. Agora, ela deveria estar feliz. Eu presencio tudo e ela nem me vê, pois não pertenço mais a este mundo. Seu tão estimado marido agora era um simples cadáver pronto para ir a sete palmos do chão. A sociedade olhava para os dois e diziam que eram um casal bonito, perfeito. De fato, combinavam. Mas, ela amava a mim. Sempre amou e casou-se por dinheiro. O dote de Cecília Vargas era alto, mas os bens de Ricardo Amarante Vargas eram maiores ainda. E isso os uniu. Penso que ele a amava, mas não tinha consciência da cobra que criava em seu peito. Uma víbora. De olhos castanhos e lábios naturalmente avermelhados, pele branca e uma sagacidade pouco encontrada. Ricardo não sabia do que sua amada esposa era capaz, mas eu sabia. Era inteligente, calculista, fria. Um monstro coberto em pele de carneiro. Ela matou-o não duvido. E agora, todos choram pela morte do jovem advogado e marido.

A comitiva parou. Largaram o caixão para ser colocado na cova. Choravam ainda mais os presentes e Cecília forçava-se a chorar tanto quanto os familiares. Aos poucos, o caixão foi colocado e à medida que isto acontecia flores eram jogadas. Ela também jogou sua flor. De longe Felipe avistava o sorriso desenhado na sua face, um misto de alegria pura e sadismo. Virou e foi embora. Nada podia fazer, os planos dela haviam se concretizado e se estivesse vivo ficaria contente porque finalmente juntar-se-ia a ela. Ou talvez não. Sabia melhor que todos quem era Cecília e o quão mentirosa ela era acima de tudo. Começaram a cobrir o caixão de terra, ela chorou mais um pouco. Alguns foram ajudá-la, pois ameaçou desmaiar.

- És tão boa atriz, querida Cecília.

Continuou chorando, mas quem bem observasse veria o sorriso lá. De canto, um pouco tímido, mas ao mesmo tempo, tão evidente. Para quem analisasse com cautela, claro.