Romance proibido do casal sem libido (e distraído) II

Ela se tranca na salinha do computador.

“Ele” não estava online. Uma espécie de raiva, pensando na vida. Não era bonito aquilo que tentava fazer. O que está havendo, dona maria? Levantou-se, passou pela porta do quarto, ouviu o ronco do marido, abriu a geladeria, tomou água. No escuro, olhando para a luzinha azulada do monitor refletindo na parede, pensando. Ficou com pena de si mesma. Depois ficou sem saber se estava construindo ou descontruindo alguma coisa. O marido, mal existente na cama. E na vida. Os olhos emocionados não dormiram até as duas da manhã, para acordarem no outro dia vermelhos, afogando em xícaras de café um desgosto sem motivo aparente.

Ela e o marido nunca falaram em se separar. Se pensaram nisso alguma vez, o cotidiano ia forçando a barra, levando com a barriga. Mas está tudo bem. Os meninos com saúde, a casa quase quitada, o emprego dele seguro. Teve uma época em que bateu a crise braba, briga de foice no escuro, aquieta e arreda, coisas de casal. Passou, como passaram as doenças dos meninos, as traições fortuitas do marido, a depressão pós parto e os apertos financeiros. Agora, tudo estabilizado, formam um casal, na maneira como vivem, como se comportam em público. Ela com suas roupas desleixadas, sem idade, pecinhas feitas em casa para ficar em casa. O marido com seus ternos discretos, modos idem.

Duas da tarde, voltou à salinha do computador. “Ele” estava na tela do MSN. Começaram momentos deliciosos e intensos.

ELA: “fico feliz c/ seu restabelecimento, tudo vai terminar bem, vc vai ver. Sonhou comigo? É mesmo? Então conte com todos os detalhes, ta? Quando eu sonhar, eu conto. Espere as coisas acontecerem naturalmente. Gostei do beijo de paixão, idem! Paixão virtual. Beijo puro e sem censura. Não, faz tempo que não dou uma trepadinha. Problema meu, mas tudo bem...”

ELE: “Nunca houve, em todo o passado do mundo, alguém que fosse como você. Até o final dos tempos, não haverá alguém igual a você. Tenho pensado muito em você, doce criatura. Odeio a ideia de que é casada. Terei alguma chance?

ELA: “Vivo me equilibrando na delicadeza da ideia de que tenho um amante virtual. Não me force a escrever mais confissões do que permite nossa situação. Sobre a foto que me pediu, você ta doido! Como vou tirar fotos sensuais? Nem sei manejar uma câmera. Não tenho amigas para repartir minha felicidade clandestina. Nosso bate papo virtual em toda sua verdade e seu complicado fascínio é um universo só meu. Preciso de tempo para trabalhar essas novas emoções.

O computador transformou-se em detonar de vulcão vaginal. Ela se via agora no espelho sedenta, insaciada, desejosa, agitada, querendo sem ter coragem, imaginando uma espécie de adultério cerebral. Ele prometeu surpresas nos próximos dias. Ela quedou-se esgotada. Saiu da salinha, recapitulando as mensagens. Arrepiando-se de vez em quando. Ele digitava com precisão, alisando seus cabelos, apertando-lhe as coxas, tocando nos seios, queimando o pescoço com beijos de paixão. Essa coisa nova só fazia lembrar o marido há tanto tempo afastado.

Ainda fervendo, ela recapitulava as frases picantes, apalavrando-se para futuros embates mais audaciosos.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 14/04/2012
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