De uma natureza, morta

“Quando cheguei no começo da rua, pude me deparar com toda aquela realidade depravada”

Era o ano de 1864, Paris estava vivendo uma era boêmia, todos se expressavam da maneira que queriam.

Eu precisava ir até a rua St.Lousuet, precisava de respostas, mas não era tão simples chegar até o meu destino. A rua St. Lousuet era famosa por sua aparência decadente, onde muitos chegavam ao chamado "fundo do poço”, onde os boêmios fracassados paravam para deliciar-se com um prazer barato de cortesãs esqueléticas viciadas em bebidas e qualquer tipo de droga que as levassem ao êxtase que não era mais alcançado com o sexo.

Quando cheguei no começo da rua, pude me deparar com toda aquela realidade deprava. Estava parado em frente a um hotel barato, quando uma cortesã claramente tuberculosa saiu e olhou-me, então veio em minha direção:

- Quer ter a melhor experiência de sua vida... é... duque, talvez? – ela disse com sua voz de quem tragava duas carteiras do mais forte cigarro, fazendo uma cara estranha. Tal prostituta realmente achava que estava me despertando desejo?

Arrumei meu terno, então disse firmemente:

-Não sou um duque, apenas um poeta e não, não preciso de seus serviços. Mas pode fazer um grande favor... – encarou-me desconfiada enquanto eu puxava de meu bolso uma foto. – Conhece esta mulher?

- Oh, sim... mas ela não tem mais essa aparência... Esse cabelo arrumado e essa face tão angelical, - ela soltou um risinho de deboche – mas o que eu ganho se contar-te por onde ela andas?

Pensei um pouco, então tirei do outro bolso, um charuto, que eu guardava para mais tarde.

- Este charuto ? – ela sorriu e então fez que sim com a cabeça.

- Ela estava no fim da rua, não é tão difícil de reconhecê-la.

- Garante-me que vou encontrar Alicia lá.

- Alicia ? esse é seu nome? – ela sorriu abruptamente, - que nome mais meigo. Não, não irá achá-la chamando-a por este nome, ela é conhecida como Charlie, - mais uma risada debochada, - mas não queira saber o codinome.

Voltei a andar, seguir o caminho, saber que minha Alicia poderia estar no pior estado me assustou. Cansado de andar, parei ao lado de um lampião, tirei do bolso esquerdo do terno um lenço, havia gotas de suor em minha testa... as enxuguei e respirei fundo – “por onde andas Alicia ? “ – pensei.

Levantei a cabeça, então me deparei com talvez a pior cena de minha vida, lá estava ela, Alicia... Já não parecia mais a mesma, seus cabelos cacheados haviam tornado-se crespos e sujos, seus olhos fundos e marcados pelas olheiras das noites provavelmente mal dormidas, sua boca seca e descascando, seguindo por suas mãos antes delicadas, ágoras encardidas com unhas cheias de sujeiras, minha Alicia se fora e eu não pude fazer nada para impedir...