gosto de sal

Coloque suas mãos sobre as minhas tetas. Aperte fortemente sobre elas. Aperte firmemente! Não tenha medo. Comprima minhas tetas até que o veneno dentro delas possa contaminar toda minha pele fazendo-me perceber embriagada. Pare, concentra-se sobre mim e continua a apertar minhas tetas até que eu não te queira mais.

Já era quase noite quando eu o ouvi dizer que estava na hora de ir embora. Como sempre, depois de dizer isso, havia mais uma meia hora de conversa com meu pai. Esperei. Esperei enquanto o sentimento de pânico tomava conta de mim. Medo e desespero entravam freneticamente em minha cabeça, e nessa tentativa louca de me proteger contra tudo aquilo que me enveredava, me percebi fascinada. Eu estava quase louca por aquele homem e tinha certeza que ele só me espera dizer que sim.

Eu estava completamente fascinada com aquilo que se acenava pra mim. Eu queria muito aquilo, embora tudo a minha volta me dissesse que não podia.

Fiz um esforço para não me deixar vencer pelo desejo daquele espaço, mas a covardia era, talvez, o sentimento que eu mais queria ter em mim. Fosse ela ou não a culpada depois, o fato é que eu precisava naquele momento, me assegurar que a culpa, caso eu tivesse depois do que a mim se acenava, pudesse a ela ser direcionada.

Toda vez que pressinto que vou sofre de culpa, arrumo um álibe para se tornar o culpado pelos meus atos e assim me liberto de tudo que possa vir eu a sentir. E nesta ilusão, quase verdade, me embriago, me perco, mas também me entrego.

Passou o tempo. Chegou o instante. – Até amanhã, disse ele a meu pai como fazia há anos. Só que desta vez, antes de sumir no escuro da noite, emendou uma derradeira pergunta: - Você não tem que esperar por sua mãe que volta do trabalho?

Completamente trêmula disse a ele que sim. A essas horas, talvez esse fosse o único momento que eu realmente sabia o que estava acontecendo.

Eu sabia que ao responder afirmativamente a pergunta, dela surgiria o convite, como de fato aconteceu: - Quer ir comigo e esperar por ela no caminho? Fato consumado. Não havia, ainda que eu tentasse acreditar no contrário, alguma possibilidade de voltar atrás. Eu sabia desde aquele momento que o que aconteceria comigo vinte ou trinta minutos depois dificilmente poderia ser evitado. Eu queria aquilo. Eu desejava aquilo. Eu não me covardiava. Eu queria, o tempo queria, os fatos, as luzes da noite, o cheio do mato e o cantar da mata se juntavam fatalmente e covardemente contra mim. Todos queriam. Não tive como resistir. Aceitei o convite dele e me parti a meio.

Por favor, coloque suas mãos sobre as minhas tetas. Aperte fortemente sobre elas. Aperte firmemente! Não tenha medo. Comprima minhas tetas até que o veneno dentro delas possa contaminar toda minha pele fazendo-me perceber embriagada. Pare, concentra-se sobre mim e continua a apertar minhas tetas até que eu não te queira mais.

Passaram-se anos de desejo meu e dele e aquele sentimento que de início se dava apenas de minha parte, porque eu não dava conta realmente do que acontecia em minha volta, estava desenfreado. Mas, agora, diante de todas aquelas evidências, era impossível não perceber o que sucederia entre nós dois poucos minutos a diante. Passava pela minha cabeça apenas um sentimento, o medo. Medo daqueles que vem mesclado docemente de prazer, e neste caso, carnal.

Havia um delicioso assombrar-se e ao mesmo tempo maravilhar-se com o fato, e com os sentimentos que eu não pude controlar porque a mim faltavam elementos. Deixei-me infantilmente levar por tudo aquilo e até acho que fui feliz naqueles momentos. As mulheres vivem felizes apenas em partes do tempo e nas entrepartes acabamos sobrevivendo pelas migalhas que nos sobra.

Sobe o calor por meu corpo, sobe a noite mata afora, baixa o diálogo cada vez mais entre nós dois. Se houvesse alguma coisa a ser conversada naquele momento, seria o que puxava sua pele para a minha. Seria o que unia fortemente seu olhar, ainda sem o vê-lo na escuridão da noite, ao meu, mas evitamos mutuamente entrar na mata. Evitávamos nos tocar. Desejamos nos tocar. Não resistimos.

Eu preciso, por favor, que você coloque suas mãos sobre as minhas tetas. Aperte fortemente sobre elas. Aperte firmemente! Não tenha medo. Comprima minhas tetas até que o veneno dentro delas possa contaminar toda minha pele fazendo-me perceber embriagada. Pare, concentra-se sobre mim e continua a apertar minhas tetas até que eu não te queira mais.

Sobrava naquele momento o balbuciar de palavras tolas, murmúrios vagos, tão vagos como o poder de controlar aquele instante. Não suportei. Tentei de algum modo dar conta de tudo, porém, pela última vez, me faltou novamente recursos. Cedi. Em um pequeno cheiro de minuto ele lançou, com maestria, o grão, e eu, ave sedenta, faminta por demais, agarrei-o. Foi uma voz covarde, persuasiva, mas sedutora, quase inaudível. Foi uma frase pobre quase indecifrável, mas de uma força incomensurável: Porque você faz isso comigo?

Eu disse, faço sim! Eu disse sim! E por outras mil vezes diria o mesmo. Ele tinha muitos elementos para dizer não, mas eu não queria dizer não. Minha pele, por mais que eu tentasse, só dizia: Eu quero! E a mim faltavam todos os elementos da razão. A mim, cabia apenas o deixar me levar, e era exatamente isso que eu queria. Desejei aquele homem como qualquer caçador deseja sua caça embora eu não soubesse que naquele momento eu fosse a presa e ele o caçador

Parou a noite naquele instante. Parou meu coração completamente, porém eram as minhas mãos que freneticamente não paravam e se lançavam sobre ele. Em uma tentativa feroz de saciar-me, quase um assassinato de desejo, não deixei que nenhum daqueles pedaços de instantes pudessem fugir do meu controle. Era o que me restava. E eu assim o fiz. Devorei-o como um cão sarnento há dias faminto o faria. Como uma peste que vorazmente invade um corpo e o consome me lancei sobre ele e não deixei parte alguma daquela carne sem minha marca.

Eu só te peço que neste instante tu coloques suas mãos sobre as minhas tetas. Aperte fortemente sobre elas. Aperte firmemente! Não tenha medo. Comprima minhas tetas até que o veneno dentro delas possa contaminar toda minha pele fazendo-me perceber embriagada. Pare, concentra-se sobre mim e continua a apertar minhas tetas até que eu não te queira mais.

O possuí como uma onça selvagem diante da presa morta, agora despojada à minha frente para o meu deleite. Não tentei, porque não quis, fazer pausas, pensar no que acontecia. Apenas lancei-me sem causa, apenas cumprindo a profecia por mim mesmo realizada. Como uma assassina de aluguel, eu apenas tinha que cumprir aquilo que persistia vivamente em minha memória. Alimentei-me desse prazer.

Jogado ali no chão, provavelmente encostado em um tronco de árvore, a única coisa que se ouvia, além do barulho da mata, a essa hora da noite, era: Valentina, Valentina! Não pare. Me deixe chegar ao céu. Eu o tinha em minhas mãos e o levaria ao céu ou ao inferno dependendo de minha vontade. Eu acreditava que o dominava naquela hora.

Findo tudo e já de volta em minha percepção, e ao meu pouco juízo, além das poucas instruções que ele me passava: Você não pode dizer a ninguém o que houve com a gente. Você não pode fazer isso com mais ninguém porque eu não quero. Você tem que ser assim... só minha. Disse-me isto e tantas outras coisas mais que os homens dizem quando querem ratificar suas existências.

Eu ouvi. Eu as aceitei também, mesmo ouvindo o som que proveniente de minha pele me dizia que eu não me saciaria apenas com ele dali em diante, aceitei de faz de conta. Ele gritava que eu deveria ser digna, fiel e recatada e eu queria ouvi-lo, mas não tinha tempo de amá-lo. De minha parte acabara que ser lançada em mim a semente do desejo e eu queria cultiva-la. Eu queria saber o que era aquilo. Eu queria me testar com outros homens e para isto não havia em mim fidelidade e tampouco vontade de querê-lo do meu lado, sempre, tão somente e somente.

Levantei-me dali, como se de volta ao tempo, só que agora sem condições mínimas de me reenquadrar na órbita. Balancei a cabeça como se tentasse encontrar uma frequência para me restabelecer na sintonia, mas foi em vão. Dali em diante eu dificilmente voltaria a ser quem eu era. Dificilmente eu voltaria a ter uma alma pura.

Minha infância e a minha inocência, que talvez nunca as tive, se acabaram ali. E esta foi a primeira vez que eu ouvi o barulho do silêncio. Esta foi a primeira vez que tive medo

Nas sucessivas vezes que eu tentei sair de casa, a presença dele era tudo o que eu procurava ter. Mais que isto, era uma busca inexplicável porque quanto mais eu o buscava, mais ele me ignorava. E isto me seduzia. Quanto mais eu tentava prendê-lo comigo, mais ao mundo ele pertencia.

É estranho como o desejo nos submete ao nada e nós docemente o aceitamos. Eu olhava para ele e ele desviava seu olhar de mim, e por mais que esse desvio fosse perceptível para ele e para todos aqueles, iguais a ele, para mim era uma prova clara de que tê-lo novamente era só uma questão de oportunidade. Eu não tinha pensado isto antes, mas agora eu queria amá-lo. Eu queria que ele me amasse. Eu queria me preencher com ele.

Os homens são vulneráveis demais quando querem alguma coisa. Eles não sabem e não podem disfarçar seus desejos. E, quando eles tentam assim fazer, mais evidenciam suas preferências. Os homens não conseguem perceber, e até mesmo entender, que a indiferença também tem valor psíquico e sentimental e eles sofrem com esses valores dilacerantes. Eu aprendi que eles, os homens covardes, são mais cheio de falhas que um queijo suíço.

Eu continuava a me alimentar daquele desprezo dele e a sedução de tudo aquilo me fascinava por dentro das veias. Creio que a solidão e o medo que se instaurava na órbita dele era o que de algum modo me fazia querê-lo tanto.

Quando estamos cegamente apaixonadas é o desprezo que se recebe a mais forte prova de que somos amadas. Na verdade o desprezo do outro é como uma forte pedra atirada diretamente em nosso peito,mas para nós é uma fecha de cupido acertando diretamente nosso coração. Na solidão somos frágeis tanto quanto um coelho na jaula da onça. Acostumamos-nos com a dor e com ela aprendemos a sobreviver. É por isso que somos fortes, perigosas e inescrupulosas. Da dor sabemos que podemos sobreviver, daí provém nossa desejo e nosso gozo, ainda que , mais tarde, isso sirva para destruir a nós mesmas, mas também aqueles com os quais aprimoramos nossa delinquência.

Quando eu saia de casa tentava procurá-lo por qualquer canto. Andando a pé, eu caminhava pacientemente como alguém caminha pela paisagem tentando absorvê-la como se ele estivesse ali mas pouco me importando com o que eu via. Eu caminhava e replanejava em mim cada palavra que pudesse proferir, numa tentativa de possuí-lo por elas. De nada adiantava. Eu planejava tudo, mas ao encontrá-lo eu nada sabia dizer, apenas, como fazia sempre, me submetia a ele como se fora qualquer ser desprezível a espera de um socorro.

Eu me comunicava pela flagelação e ele pela exploração. Ele se comunicava pela posse, pelo meu ter. Eu me comunicava pelo desejo dele, pela falta minha. Entendíamos-nos. Eu o queria e ele queria o que eu nunca tive, minha quirelas, mesmo que esta fosse apenas uma garrafa de cerveja roubada de pobres tão necessitados como eu.

Era esta pequena miséria que tornava a seu prazer acessível para mim. Ela era que autorizava o uso de seu corpo pela minha boca. Eu acendia uma esperança em mim e ele acendia uma arma e a colocava em punho. Eu entendia que aquilo era uma declaração de amor e ele dizia que aquilo era uma declaração de posse. Ao final ele deixava claro que eu não era suficiente a ele e que ele jamais deixaria de fazer aquilo talvez porque era a única forma dele também assegurar sua própria existência . E nesta violação mútua, seguíamos aos planos. Eu sem ele. Ele sem mim. Nós dois juntos.

Um dia, enquanto uma festa acontecia e eu a mantinha viva, porque trabalhava ali, e continuo a trabalhar ainda lá desde então, ele e seu amigo me procuraram para pagar a dívida que contraíra comigo. Um miserável sempre deve algo a outro. Além disso, eu nunca havia emprestado algo a ele, exceto meu corpo. Eu havia comprado seu gosto de sal e ainda não havia recebido. Como em nossas desgraças nos encontrávamos, ele me perguntou como poderíamos acertar nossas contas. Os miseráveis gostam de pagar suas dívidas para depois refazê-las novamente. Eu aceitei o pagamento proposto por ele, mas o seu amigo também me pagaria algo.

Eu preciso pedira vocês que coloquem suas mãos sobre as minhas tetas. Apertem fortemente sobre elas. Apertem firmemente! Não tenham medo. Comprimam minhas tetas até que o veneno dentro delas possa contaminar toda minha pele fazendo-me perceber embriagada. Parem, concentram-se sobre mim e continuem a apertar minhas tetas até que eu não os queira mais.

Eu sei que não vejo mais como via antes, sei que não tenho mais a matéria que eu tinha antes, sei que não possuo o vigor que outrora tive. Sei que nem o meu olhar é mais como era antes,mas aprendi muitas coisas do que chamam amor. Aprendi que só sei o que é a falta dele. Do amor só entendo da sua falta. Do amor conheço apenas o buraco enorme que ele deixa quando não mora ali, mas não sei como eu seria se eu tivesse sido amada um dia. Sei sobre a falta do amor. Isso que eu já me cansei de perceber. Mas, eles não param para ver o que ganhei nestes anos todos. O que há dentro de mim, ninguém consegue ver, nem ele, nem os amigos dele e nem todos os homens que vieram depois dele. Sei sobre o medo, sobre a solidão e sobre a falta de amor e sobre sexo, mas eles só sabem sobre isso. Às vezes penso que nem mesmo eu consigo mais me reconhecer naquilo que sinto como mulher. Sinto que o gosto de sal que tanto me acostumei a tê-los entre os meus lábios seja verdadeiramente o gosto do amor.

Talvez normal seja que as pessoas sigam dizendo que são assim porque sempre foram assim, mas tenho certeza que elas estão erradas. O que sou hoje é muito diferente do que fui um dia. Tenho hoje parte daquilo que um dia fui e tive,mas eu queria ter amanha tudo aquilo que sonhei de um homem e nunca tive.

O que sou hoje já é uma velha, mas o que eu gostaria de ser renasce como uma criança esperando por ser amada. Talvez por isto não me assusto mais com o silêncio tampouco com o barulho. Eles estão comigo, me fazendo companhia e eu os quero muito. Os quero como quis cada minuto que tive com cada homem que me seduziu e não se prestou para nada mais que isto. Fico me perguntando qual é a diferença de amar um dia, uma noite, uma tarde ou cem anos.

Se o sentimento dura mais ou menos no tempo do relógio, bobagem. Quem faz o amor durar é o coração, as lembranças e a intensidade vivida por eles. Isto sim, é para sempre. O relógio é só um detalhe para aqueles que como eu ainda acreditam que o amor verdadeiro é aquele em que o tempo fez perdurar, embora ele nunca o tivessem mantido para mim. Não mesmo! Quem perdura o amor são as lembranças. Elas é que fazem o amor existir, simplesmente porque são eternas. E quem não consegue tê-las, desculpas, mas nunca amou de verdade. O amor é todo lembrança. O amor é todo vontade. O amor é todo saudade. Há tempos não o vejo mais. Fiquei sem vê-lo por muito tempo e acreditei não querê-lo mais

Mas acho que é esta saudade que faz estar em mim a presença viva dele. Sinto, a cada instante, que irei revê-lo. Tenho medo. Tenho muito medo. Eu posso não reconhecê-lo mais e isto significaria não me reconhecer também. Sentir a tortura que eu sentia quando o via é quase que uma dependência, mas eu não queria me livrar do meu vicio. Eu queria me embriagar pelo meu vício

O conheci pela fotografia. Claro que eu o havia visto antes. Ele era um ser que já habitava meus olhos. Quando o vi na foto tive a sensação de querê-lo e foi a primeira vez que tive inveja, doce inveja, podre inveja de quem tem alguém como se tem uma fotografia.

Eu o quis desde então e para isto tive que roubá-lo de alguém. Eu fiz isto. Me aproximei como um leão se aproxima de uma gazela. Fiz de conta que eu era uma doce língua, se é que isto seja possível. O amamentei, me fiz de mãe, me dediquei e o tive em função disto. Esperei cada minuto, segundo por segundo, até que eu pudesse atacar sua jugular. Eu assim fiz. Ataquei –o.

Passou uma eternidade e quando nós nos reencontramos, renasceu a semente que no passado fora semeada. Eu acha que esta planta se tivesse sido cortada e que suas raízes apodrecera, mas eu estava enganada. Ele ainda era presença certa em mim. Nele estava a parte de mim que agora eu poderia reconhecer e em mim estava o pior dele, a parte dele deixada em mim pelo seu gosto de sal. Sempre podemos reconhecer nos outros nossa pior parte, embora tenhamos medo e acatá-la,mas a verdade é que nos outros pode estar a pior parte de nós mesmos e nos assustamos com ela. Sabemos, embora não queiramos ver, que nos outros está justamente aquela parte que não conhecemos por completo ainda e, assim, ao reencontrar com ele tive a oportunidade de reencontrar comigo mesmo.

Ele ali estava e eu ali chegava. Nós dois ali nos juntávamos.

Olhei nos olhos dele e como se já o decifrasse há tempos, o encarei, e foi ai que vi nos olhos verde-mentira dele eu me perder completamente. Tive vontade de tomá-lo, de tê-lo e para isto ali eu estava. Suave como é o vento, delicado como é a pétala venenosa da rosa, mortífero como é a estriquinina, me aproximei dele. Ele me viu e me quis, eu o vi antes mesmo e tudo, o desejei como outrora.

Eu preciso pedir a você, pela última vez, recoloque suas mãos sobre as minhas tetas. Aperte-as fortemente sobre seu prazer. Aperte-as firmemente! Não tenha medo ou piedade de mim. Comprima minhas tetas até que o veneno dentro delas possa contaminar toda minha pele fazendo-me perceber enlouquecida. Porém, concentra-se sobre mim e continuem a apertar-me até que eu durma em seus braços, assim, pra sempre..

Depois disto pedi a ele seu telefone, seu novo nome e sua vida e ele me atende apenas em parte. Eu sorri pra ele como menina diante da nova boneca. Eu correria todos os dias para esperá-lo e até me adiantei dizendo isto. Adiantei-me mais uma vez em amá-lo. Eu o quero como sempre fiz.

Quando reencontrei, não importou quem, como, onde, quando tudo foi, eu o desejei novamente. A luz brilhou novamente em mim e era possível ouvir o medo que também de mim tomava conta. O medo faz barulho e o barulho não faz bem.

Ele tem exatamente a metade da minha idade hoje, mas talvez o dobro do meu juízo. Eu tenho o dobro do desejo dele e ele a metade da experiência minha. Somos duas partes que se completam. Almas gêmeas despedaçadas. Temos, os dois, exatamente a mesma vontade de ser feliz, embora não consigamos. Ou melhor, temos nós dois a mesma vontade de receber, do outro a felicidade. Eu o quero como sempre, ele me quer como talvez nem mesmo soubesse.

Mais uma vez nos encontramos, nos apreciamos, nos tocamos, nos devoramos. Tivemos medo. Ainda o temos. Tivemos vontades, ainda temos, nos desesperamos, ainda o fazemos. Queríamos estar juntos a cada instante só para nos perder naqueles olhos verde-mentira, mas o tempo, não me dava a chance. Contentamo-nos.

Passamos a ter-nos vez por outra, mas começamos a amar-mos vez em sempre.

Quando diante dele eu estava tocavam-se as sirenes do medo, batiam –se os sinos do anúncio eterno, tilintavam-se os corações do desejo. Foi ele também, possuído pelo amor que eu tinha pra lhe devolver. Ele me tem e me quer. Eu o quero, apenas. Não o ter pode até ser uma razão, percepção minha, mas vejo assim. Não sei se ele me quer? Duvido! Ele tem segredo, asseguro!

Seguimos, ambos sós, e a cada número que se ampliava no mostrador do relógio dele e meu se ampliava também o preço que eu tinha que pagar a ele. Eu o paga para que sua honra seja preservada. Ele recebe para que sua identidade seja garantida e assim, seguimos, dois solitários, juntos, lado a lado, separados.

Se o amor tem preço? A única mentira que contamos todos nós, sem que se quer tentemos nos culpar por ela. Uns se iludem dizendo que o amor cobra um preço, talvez subjetivo. O preço talvez fosse ao tempo, no abrir mão disso ou daquilo. Eu? Eu Prefiro dizer que desde quando aprendi a amar minha conta bancária nunca mais fora a mesma. Eu amo quando meu extrato bancário me permite.

Quando ele chega, eu escuto suas mentiras que por um instante acredito. Este instante dura o tempo equivalente ao tempo do amor, ao tempo do laço entre nossos corpos, ao tempo da noite, ao tempo dos corpos juntos, formando um só.

- Nos vemos amanhã durante a noite,... amanhã. Tchau!. E é exatamente durante a noite que eu permaneço irredutível na crença de que o amor está sim entre nós, embora eu esteja sozinha em minha solidão, acompanhada em minha solidão pela sua solidão.

Eu quero acreditar que sua solidão é sua condição. Eu acredito. Eu a vivo intensamente.

Na manhã seguinte, a luz se apaga, o sonho daquela noite chega ao fim e eu vou me deitar, sozinha. Sofrer? Não estava escrito que a promessa dele seria de amor irremediavelmente a mim. Não estava escrito que a mim ele estaria sempre que eu o quisesse. Mas eu sempre quero que isto, magicamente possa estar nas palavras poucas que estão, às vezes, em sua boa.

Os olhos verde-mentira dele se abrem, e, bom-dia! Eu preciso ir. É assim que o sonho finda. Quando seus olhos se abrem os meus se fecham. Não quero ver.

Eu vivi com ele cada um dos minutos, intimidade só nossa. Éramos um apenas. Eu o queria dentro de mim e ele queria ali estar. Nos invadíamos mutuamente como o rio e o mar se entregam um ao outro. Nos completávamos. Dentro dele tinha eu e dentro de mim ele morava.

Um dia ouvi-lo dizer que não havia nada melhor que estar, a dois, ali, ao mundo comigo. Não tinha nada melhor que aqueles momentos. E, acreditar que isto era verdade era somente a condição que a mim restava. Eu queria que tudo fosse mentira, mas me esforcei para acreditar que era simplesmente verdade. Eu sabia que tudo era mentira, mas ela jamais o abandonaria, como ele também nunca o fez.

Os covardes quando se reencontram, se reconhecem e se desejam novamente. Cada covarde tem seu defeito, e os defeitos são circunstâncias da beleza. É o defeito a beleza que buscamos e não a aceitamos. Na falha dele queria eu estar. Nas faltas sentidas por ele eu queria ser a presença. Fazer falta pra ele era a vontade minha. Eu o amava.Fizemos, ambos, verdadeiramente uma opção por amar assim.

Um dia, ao se aproximar dele, eu olhei para seus olhos verde-mentira e lhe diz que eu havia feito esta opção por amá-lo, e ele, no mesmo instante me diz com ar de deboche: que bom!

Foi o que e pude ouvir dele. Foi o que ele podia me dizer . Era tudo verdade. Ele já havia me dito algo parecido quando eu disse a ele que o amava. Naquele dia ele olha para mim, com olhos verde-mentira-assustados e disse-me: eu já sabia disto! Que pena! Penso que ele nunca mentiu para mim, assim como eu nunca mentiu para ele. Respeitávamo-nos um ao outro em nossas covardias.

Quando ele diz que já sabia, creio que ali estavam escancaradas as condições daquele amor. Ele poderia me amar dentro daquele micromundo que nós havíamos simulado. Nesta simulação ele tinha um papel, eu outro e nós dois nos acertávamos quanto a isto. Para a simulação acontecer tinha que haver um motivo e os dois tinham: eu a solidão e ele a covardia. Aceitamos pagar para ver nossas atuações e ambos brilhantemente aceitamos os papeis e os desafios . nos entendemos. Fomos felizes.

Naquele mundo verde-mentira era a flor esperando na janela. Eles eram as gotas que corriam por meus dedos magros e tudo estava completamente no seu lugar.

Doávamo-nos, sentíamo-nos sós. Criamos um mundo simulado que tanto a ele como a mim fazia falta. Corríamos a qualquer hora da manhã, da noite, da madrugada só pra dar a cada um o pouco de vida do outro. Fazíamos de tudo para ver o que ao outro se provocava naquela dedicação e assim seguíamos em frente vivendo, de mentira, um amor verdadeiro.

Quando tudo ruiu, ele não estava comigo. Ele nunca veio me dizer que não me queria mais. Ele nunca voltou para me dizer que estava indo, que nunca mais voltaria ou que um dia pudesse voltar. Exatamente como no primeiro dia, ele não me disse nada antes, não me deu explicações, não me disse adeus e tampouco me pediu para esperá-lo. Não precisava. Ainda guardo em mim a presença dele em cada momento que preciso ter suas mãos tocando minhas tetas, nesses momentos, sinto que ele me toca ainda com mais calor, suas mãos percorrem centímetros de minha pele doida e seus cheiro me apavora ainda como outrora sempre o fez. Peço freneticamente para que ele não deixe de me beijar e sempre tomo o cuidado de me certificar de que ele tem suas mãos trêmulas e fortes sobre cada uma de minhas tetas para que no momento certo eu , por fim, possa pedir a ele: Pare!

geraldo peçanha de almeida
Enviado por geraldo peçanha de almeida em 13/04/2012
Código do texto: T3610416