A Morte de Heloísa,

A Morte de Heloísa

Já se aproximava da meia noite. Heloísa sabia que não chegaria a ver o sol nascer novamente, e invadir o quarto com sua luz. Febril, ela suava muito e estava demasiadamente fraca, entre uma tosse e outra, chamava por Jorge, seu marido, que havia ido até a senzala pedir a seu escravo de recados para ir chamar Doutor Luiz, que morava num vilarejo vizinho. Chovia muito, e cada vez mais Heloísa sentia que sua hora estava chegando. A dor que lhe atacara o pulmão á 6 meses, naquela noite estava insuportável, e nem mesmo o cuidado das 4 de suas 5 criadas lhe amenizava aquela maldita dor.

Todas estavam lá, menos Rosa que estava no porão chorando, arrependida de não poder estar lá com sua sinhá. Jorge volta da senzala e fica ao lado de sua senhora, que agora segurava forte sua mão, e sem saber o que dizer, apenas lhe beijava a testa e enxugava-lhe as lágrimas que vagarosamente escorriam dos seus olhos. Jorge nem mesmo desconfiava, mas já fazia dois meses que Heloísa descobrira seus chamegos com Rosa, sua criada. Mulata de pele clara, era forçada a se deitar com seu senhor, que lhe comia com os olhos até mesmo na presença de Heloísa, e por esse motivo, por ser culpa do marido, Heloísa não mandava castigar a criada.

A dor já lhe consumia o corpo inteiro, queria que aquilo acabasse o mais rápido possível, mas sabia que ainda existia algo que seu extinto feminino desejava fazer, antes da morte. Pediu então para que os criados se retirassem do quarto, que a deixasse só com o marido. Quando sós, Heloísa pediu ao marido que a ajudasse a se despir, pois queria partir da mesma maneira que veio ao mundo, e assim o marido a fez. Depois de despida, Heloísa pediu que Jorge chegasse mais próximo á ela, queria lembrar do rosto do marido, que foi seu primeiro e único homem, por toda a eternidade. Jorge aproximasse, Heloísa pega sua mão e Poe sobre seus seios, pequenos e macios seios que há tempos não eram amaciados.

Jorge pergunta á esposa, se existe algum ultimo desejo que ele pudesse fazer por ela ali no leito de morte, e Heloísa com meio sorriso no rosto, diz que sim, que existe um em especial. Então pede ao marido que faça amor com ela pela ultima vez, e dessa vez, bem devagar. Jorge não escondeu a expressão de surpresa, mas diante daquele pedido, naquela situação, não se viu com outra saída a não ser atender o ultimo desejo de sua senhora. Tirou suas vestes e deitou-se ao lado da amada, que há tempos já não se sentia assim tão amada. Sentiu seu corpo quente, e pouco a pouco, foi realizando o ultimo pedido de Heloísa, que já o agarrava forte pelas costas, lhe deixando marcas com as unhas. A chuva ficava mais forte, no mesmo compasso que a tensão entre o casal.

Heloísa já não podia esperar mais nem um minuto, e ali, entre a dor e o prazer, com corpos suados e já cansados, mas sem parar nem mesmo 1 minuto, levantou um pouco a cabeça e sussurrou no ouvido do marido: - Eu te perdôo...Jor...ge !

Jorge manteve toda a relação de olhos fechados, pois diante do pedido da esposa, já sentia culpa pelas varias e varias noite que saíra de sua confortável cama para ir deitar-se com Rosa, sobre a palha do moinho. Naquela hora, soube que a esposa o descobrira, e na mesma hora que tirava um peso de suas costas, sentia-se um monstro por ter deixado a esposa morrer com um sentimento tão infeliz.

Com os olhos fechados, sentiu Heloísa indo embora, ainda os dois no ultimo ato sexual, ele ali ainda a possuindo em seus braços, sobre os lençóis encharcados de suor e culpa. Chorando, deitou-se ao lado da esposa que jazia morta agora, e nem mesmo teve tempo de lhe pedir desculpas. Beijou os lábios de sua senhora pela ultima vez, fechou-lhe os olhos e a cobriu com um lençol branco. Jorge morreu 36 anos depois do acontecido, porém, a ultima noite de Heloísa também foi sua ultima noite, pois daquele dia em diante, ele ouvia todas as noites antes de dormir a mesma voz dizendo : - Eu te perdôo .

Alex Costa
Enviado por Alex Costa em 12/04/2012
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