Déjà vu.
Uni-me a você ontem à noite. Os sinos da torre tocaram sua última badalada quando meus lábios tocaram os seus pela primeira vez ao tornar-me, oficialmente, sua. Nossas mãos, que, agora, possuíam o símbolo de nossa eterna união, entrelaçaram-se delicadamente, da mesma forma que nossas vidas haviam feito desde o quase-inverno daquele ano. 13 de junho de 2001, eu me lembrava. Seus olhos se fechando lentamente enquanto meu rosto se aproximava do seu. Meus lábios saboreando seu doce toque sabor mel. Meu corpo sendo inebriado pela sensação da sua presença tão próxima. Suas mãos acariciando meus cabelos rebeldes.
Jamais, depois daquele dia, quis experimentar outro toque, senão o seu. Jamais quis provar sabores alheios. Não mais quis entrelaçar meus dedos a outros que não fossem os seus, deitar-me ao lado de outro qualquer, viver-me em outro alguém. Não era suficiente, se não fosse com você.
Suas promessas fizeram-me enxergar novas cores. Arco-íris não possuem sete cores, quando se ama, afinal. O número da perfeição. Parecia certo quando meus sentimentos estavam perfeitamente organizados, engavetados, trancados em pequenas caixas. Mas você tinha a chave, e entrou sem avisar. Desorganizou-me, deu-me asas. Fez de mim amor e tornou-se amor para ser meu.
Sinto-me destinada a ser sua. Há muito, nossas histórias foram traçadas em páginas iguais, começando em cantos distintos e juntando-se ao chegar ao fim. Cheguei a sonhar com você antes de nos conhecermos. Nunca soube, ao certo, os seus mais superficiais detalhes. Seu rosto e pele permaneceram sendo um mistério. Sempre cruzei, no entanto, meus olhos com os teus nas minhas noites vagas de sono profundo. A magia no toque dos nossos lábios era forte demais para não ser reconhecida, também, no plano real. Quando te vi, soube que era você o frequente visitante dos meus sonhos. Era você o único que poderia roubar-me com um sorriso, conquistar-me com um simples olhar.
E, ainda assim, pergunto-me, constantemente, como pude sonhar com olhos nunca vistos, lábios nunca tocados, mãos nunca entrelaçadas, noites nunca vividas. Como pude, meu amor, me unir a você no plano imaginário, se, ao acordar, nada disso jamais havia acontecido? É encantador como nós dois fomos feitos para ficarmos juntos. Costumávamos ser metades vagando por esse mundo hostil, até que sua mão tocou a minha, e proporcionou-me a segurança necessária para seguir em frente inteira.
Como se já tivesse acontecido antes de vivermos, muito antes de nascermos. É como se estivéssemos, apenas, vivendo uma vida a dois que já fora vivida séculos antes da nossa pequena existência. É como se…
Não sei. O que está acontecendo? Que barulho é esse? Quem… Quem é você que tanto fala? Quem é você que não mais consigo ver? Qual a cor dos seus cabelos, da sua pele? Está difícil, sua imagem está se desfazendo aos poucos… Seus olhos… Não, não se vá. Diga-me seu nome, por favor. Espere, eu…
Ah. “Seis da manhã”, o relógio marca. Seis da manhã do mês de junho. 13 de junho de 1849.