ELZA E ADELAIDE
E L Z A E A D E L A I D E
Adelaide chovia-se em lágrimas vertendo-as sobre o corpo nu de Elza, sua íntima amiga que sumia-se do mesmo abandonando-o horizontalmente no leito do hospital.
A amizade, que sempre fora mais que amizade, agora jazia nas tristezas do adeus da vida à carne, morte ali mostrada no mais cândido pudor... Sincero amor.
Há pouco aquele corpo, ainda quente, se entregava a ardentes orgias deixando-se ao relento do sexo mais puro, sincero, completo. Sem leviandade oravam-se mutuamente em intensos, ilimitados prazeres nos diabólicos caprichos dos corpos nus a encontrarem-se; corpo com corpo, mãos com mãos, lábios com lábios... Às volúpias luxuriantes de seguidos orgasmos, mãos profanando as cavernas úmidas desses corpos... Esgotavam-se em sussurros, gemidos, gritos de ais abafados por beijos sensuais recheados com prazeres infindos...
Agora, Adelaide chovia-se em lágrimas vertendo-as sobre aquele corpo que já deixava saudades sem mágoas, incontrolavelmente esvaia-se em infindáveis orgasmos profanando o leito branco de morte, depositário do corpo de Elza, sensual, desejado... Sem brilho... Sem vida.
PEDRO LECUONA