Mera Ilusão

Eu acordei e de início me assustei um pouco, havia dormido tão bem que só poderia estar dormindo em minha cama, com meu velho amigo de pelúcia, porém, ainda estava no rancho do sul de Minas Gerais. O tempo não parecia estar muito bom, mas mesmo com a preguiça de sempre, não conseguia mais ficar deitada após aquela noite bem dormida. Levantei-me e procurei vestígios de pernilongos pelo meu corpo, nada. Tudo estava muito bom, até então.

Saí da pequena casa, sem nem se quer ter noção ou curiosidade de saber o horário, mas a grama ainda estava molhada com o sereno da noite anterior, o galo não havia cantado, ninguém havia se levantado, o sol estava atrás de nuvens cinzas que o faziam parecer um tipo de lua matinal. Me sentei e esperei. Pelo o quê? Pelo meu sorriso acordar. Dizer que é o dono do meu sorriso não me soa muito bem. Ele era o meu sorriso.

Não suportava mais esperar, era angustiante. Estava tão inquieta que mal conseguia controlar minha própria respiração. Me levantei da cadeira de bambu da varanda e observei pela janela o quarto que ele estava. Cobertas dobradas. Mas como? Ele já havia se levantado? Aonde estaria? Minhas perguntas se calaram em minha mente e deram espaço para um sorriso. “Claro”, pensei.

De pantufas e pijama, desci pela pequena estrada de terra que despertava. Andava tentando disfarçar minha pressa, mas era quase impossível. No final da estrada, havia um grande gramado cercado por um lago. E claro, o meu sorriso... que pelo visto, me fez sorrir. Ele estava observando o lago, sentado com os pés na água. Eu caminhei até ele e me sentei na mesma posição.

- Bom dia – Ele disse sorrindo sem olhar para mim, com a voz de sono de sempre.

- Bom dia – Eu sorri – Me fez achar que havia acordado antes de todos.

- Mera ilusão... você é preguiçosa demais para conseguir essa façanha. – Ele riu baixo.

- Tem razão – Eu também ri.

(Silêncio)

- Você está linda

- Como pode saber? Ainda não olhou pra mim para poder dizer isto.

- Eu preciso?

- Creio que sim.

Ele respirou fundo, como quem se prepara para dizer algo, fechou os olhos e inclinou a cabeça.

- Você está com aquele pijama de bolinhas azuis e a pantufa que te dei há tempos atrás, claro que elas estão ao seu lado, pois está com os pés na água mexendo os dedos. Ah, e está com uma das mãos dentro da pantufa. – Eu me assustei por ter acertado e involuntariamente parei de mexer meus dedos e tirei minha mão da pantufa. Ele riu. – Está com o cabelo preso em forma de coque, está sem maquiagem alguma e ainda sim, suas bochechas estão coradas. Ah, isto é lindo! – Ele sorriu e parou por alguns segundos notando que o sol estava nascendo, ainda de olhos fechados – Agora o sol toca sua pede. Os primeiros raios de sol tocando seu cabelo. Huum, tocando as pétalas da flor? Sim! – Ele riu sozinho e me fez corar um pouco mais. Me virei em sua direção para melhor observá-lo – Agora a brisa, que ainda está meio gelada, desfaz seu coque e lhe provoca arrepios, certo? – Ele acertou – Sente frio por quê? Estou aqui. – Ele abriu os olhos e me observou com seus olhos verdes – Sempre estive. Sempre estarei...

Ele se levantou e se sentou atrás de mim, me colocando entre suas pernas e seus braços, me aquecendo, me confortando.

- Como sabia de tudo aquilo? – Perguntei.

- Nasci sabendo – Ele beijou o alto da minha cabeça.

Passaram-se alguns minutos até que ele quebrou o silêncio.

- Quem ama sabe.

(Silêncio)

- Eu também te amo. – Eu disse e me virei para ele.

- Eu te amo muito mais... – Sussurrou em meu ouvido.

Me observou durante algum tempo e tocou seus lábios nos meus.

Aquela era minha utopia... Tinha a impressão de não precisar de mais nada. Alimento, água, nada! Apenas aquilo sustentaria todo o meu mister.

E então, eu acordei...

Lu A
Enviado por Lu A em 27/03/2012
Reeditado em 27/03/2012
Código do texto: T3579543
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