E ANA LIZ ERA LINDA...
E ANA LIZ ERA LINDA...
E Ana Liz era linda... Cabelos cacheados, olhos azuis muito vivos, pele rosada, boca carnuda, sensual... Apaixonei-me logo no primeiro instante em que a vi!
Dia após dia procurava motivos para estar a seu lado... Mas hoje eu sei que ela nem me via!
Não foram poucas às vezes em que chegava à escola com flores roubadas de um jardim que ficava em uma praça próxima... Não foram poucas às vezes em que as flores iam parar na lixeira mais próxima de mim, por falta de coragem de entregá-las á Ana Liz...
Ficava só olhando, entre olhos, com quem ela falava, pensando, querendo, que sua atenção estivesse só direcionada para mim...
Súbito arroubo de ciúmes eu senti, quando vi Ana Liz conversando mais demoradamente com o Carlos... O que ele tinha que eu não tinha? Éramos da mesma idade, mesmo tamanho, iguais!
Descobri depois, bem depois, que ele vinha da parte sul da cidade, área nobre onde havia gente com grana, grana alta, diga-se de passagem... Olhando bem, vestia-se melhor do que eu, mais alinhado talvez... E falava umas coisas difíceis de compreender... Até língua estrangeira...
Fui me achegando ao Carlos, que sem perceber as minhas verdadeiras intenções foi dando-me alguma atenção...
Pude ficar sabendo de onde o Carlos vinha, do que gostava e o que fazia...
Pude perceber entre nós um abismo se abrindo... Pois, as diferenças entre nós se apresentavam...
Na região sul do bairro, além de ótimas casas, clubes, ficam as melhores escolas, e Carlos havia estudado em algumas delas...
Lembro-me de que meu pai trabalhava lá de pedreiro, até que caiu de uma laje e perdeu os movimentos dos braços... Lembro-me que cheguei a morar lá também, até que veio uma imobiliária e comprou o nosso terreno para construir o condomínio “Paraíso dos homens”.
Assim, Carlos transformou-se em meu algoz...
Primeiro estava roubando a atenção que deveria ser minha, de Ana Liz, depois mora no condomínio “Paraíso dos homens” no qual meu pai trabalhando como pedreiro veio a perder os movimentos dos braços, e mais, este condomínio dele fica em parte no terreno que era meu, que sempre foi de minha família... Carlos roubava-me tudo, e sem ao menos saber...
Os dias iam passando, Ana Liz e o Carlos, cada vez mais grudados,e eu cada vez mais entristecido, cada vez mais abrutalhado, correndo o risco de perder o juízo...
Em um momento de extrema loucura, entrei na sala de aula mais cedo, e trêmulo escrevi com giz cor de rosa no quadro negro; - Ana Liz, eu amo você! Com todo o meu coração... E coloquei sobre a carteira em que Ana Liz sentava as mais lindas flores que colhi apressadamente no jardim...
E neste dia Ana Liz nem veio!
Ruborizado, encolerizado, louco mesmo, debrucei na carteira, e chorei! Acudiram-me colegas, professora, fui parar até na diretoria... Um escândalo só!
No outro dia Ana Liz chega à sala, de mãos dadas com o Carlos, toda risonha, e entre sorrisos disse para Maria Sonia; - Você viu o que o Carlos fez para mim ontem em sala de aula? Tiraram fotos, mandaram para mim...
A Maria Sonia toda sem jeito, olhando de soslaio para mim, disse confiante para Ana Liz; - Olha, eu vi! Mas não foi ele...
Desgraçado, o Carlos se aproveitando de mim, de meu gesto de amor e de loucura!
Ana, olhando para a Maria, para o Carlos, para a sala, só não olhou para mim... Eu era um nada!
Nervosa começou a olhar no celular, e num dado momento com olhos fixos no Carlos, mexendo nos cabelos, disparou: - Eu tinha que saber que o autor das frases de amor não era você...
Seu louco! Mentiroso...
A caligrafia é péssima... Parece garrancho...
E enquanto eu me recolhia em um canto, triste, mas vingado, pude ainda ouvir a voz de Ana Liz, com um timbre irado:
- E as flores ainda estavam murchas!
Edvaldo Rosa
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27/03/2012