OUTROS OUTONOS!
Ele se sentava naquele banco da pracinha todas as manhãs de Outono. Eu o via pensativo, olhar vago, observando tudo e nada, ao mesmo tempo.
- Bom dia!
Cumprimentava a todos, sempre com um sorriso disfarçado. Quase ninguém respondia ao seu cumprimento, as pessoas iam e vinham, sempre apressadas e alheias ao que acontecia ao seu redor.
Sentei-me ao seu lado, numa dessas manhãs de Outono. O dia seria longo, o trabalho estressante e sua imagem me prometia (sei lá por que), um dia melhor do que aquele que me esperava no escritório.
- Bom dia... Cumprimentei-lhe com doçura na voz.
Ele lançou-me um olhar estupefacto, como se não acreditasse que alguém lhe dirigisse a palavra.
- Bom dia, moça! Como vai?
Olhei profundamente naqueles olhos que, mesmo sem dizer mais nada, dizia tudo! Rugas na face, rosto marcado, talvez, por sofrimentos incomparáveis ao longo de seus – aproximadamente - setenta anos. Indaguei-lhe:
- Eu vejo o senhor aqui, todas as manhãs, sentado, pensando, sozinho.O que o traz a esta praça, a este banco? O senhor não se importa de me contar?
Ele fitou-me, demoradamente, com aquele olhar ainda mais triste do que eu havia observado em todas aquelas manhãs.
- Ah, minha filha... É a saudade! O que me traz aqui nessas manhãs de Outono é a saudade e també um pouco de esperança. Aqui eu conheci minha amada há mais de quarenta anos. Nesse mesmo banco nos sentávamos para namorar – nos moldes daqueles tempos – e, nesse mesmo banco nós nos vimos pela última vez.
- Como assim, ela o deixou?
- Sim, deixou-me. Naquela manhã de Outono, caía uma chuvinha fina, as folhas já bem amarelecidas e o vento soprava timidamente. Eu saí para dar uma volta na praça, amparando-a com meus braços, pois a doença já tinha tomado conta de seu corpo.
Naquele mesmo dia Deus tirou-a de seu sofrimento, mas antes de partir, ela pediu-me que viesse a esta pracinha nas manhãs de Outono, pois ela sempre estaria presente. Desde aquele dia eu me sento aqui, neste mesmo banco, esperando por ela. Um dia ela virá buscar-me para ficar eternamente em sua companhia.
Segurei-lhe as mãos, emocionada, como se com meu toque, eu pudesse passar-lhe um pouco de esperança e alegria. A tristeza no rosto daquele homem me emudeceu.
Meu dia foi como eu previra, cheio de problemas para resolver, casos complexos aos quais eu, como advogada, deveria dar o meu parecer, justo e preciso.
Despertei feliz, cantando, sem aquele peso nos ombros de todas as manhãs. Eu estava exausta há algum tempo; precisava de férias, mas não poderia tirá-las, por ora.
No caminho do escritório, passei pela pracinha,
para cumprimentar meu mais novo amigo. Beber de sua sabedoria, encantar-me com sua história. Não o vi por ali. Procurei-o nos outros bancos da praça, mas não o encontrei.
Segui meu caminho em direção a mais um dia estressante no trabalho. À tarde, retornando para casa, passei novamente pela praça. Aquele banco onde ele se sentava estava cheio de folhas secas,
mas nada do velho.
Assim o tempo passou, o Inverno chegou, outros Outonos vieram e eu nunca mais pude ver o rosto triste e esperançoso daquele homem que esperava por sua amada. Certamente ela veio e o levou para se amarem em outro universo, emoldurado por muitos Outonos amarelados e belos.
- Bom dia!
Cumprimentava a todos, sempre com um sorriso disfarçado. Quase ninguém respondia ao seu cumprimento, as pessoas iam e vinham, sempre apressadas e alheias ao que acontecia ao seu redor.
Sentei-me ao seu lado, numa dessas manhãs de Outono. O dia seria longo, o trabalho estressante e sua imagem me prometia (sei lá por que), um dia melhor do que aquele que me esperava no escritório.
- Bom dia... Cumprimentei-lhe com doçura na voz.
Ele lançou-me um olhar estupefacto, como se não acreditasse que alguém lhe dirigisse a palavra.
- Bom dia, moça! Como vai?
Olhei profundamente naqueles olhos que, mesmo sem dizer mais nada, dizia tudo! Rugas na face, rosto marcado, talvez, por sofrimentos incomparáveis ao longo de seus – aproximadamente - setenta anos. Indaguei-lhe:
- Eu vejo o senhor aqui, todas as manhãs, sentado, pensando, sozinho.O que o traz a esta praça, a este banco? O senhor não se importa de me contar?
Ele fitou-me, demoradamente, com aquele olhar ainda mais triste do que eu havia observado em todas aquelas manhãs.
- Ah, minha filha... É a saudade! O que me traz aqui nessas manhãs de Outono é a saudade e també um pouco de esperança. Aqui eu conheci minha amada há mais de quarenta anos. Nesse mesmo banco nos sentávamos para namorar – nos moldes daqueles tempos – e, nesse mesmo banco nós nos vimos pela última vez.
- Como assim, ela o deixou?
- Sim, deixou-me. Naquela manhã de Outono, caía uma chuvinha fina, as folhas já bem amarelecidas e o vento soprava timidamente. Eu saí para dar uma volta na praça, amparando-a com meus braços, pois a doença já tinha tomado conta de seu corpo.
Naquele mesmo dia Deus tirou-a de seu sofrimento, mas antes de partir, ela pediu-me que viesse a esta pracinha nas manhãs de Outono, pois ela sempre estaria presente. Desde aquele dia eu me sento aqui, neste mesmo banco, esperando por ela. Um dia ela virá buscar-me para ficar eternamente em sua companhia.
Segurei-lhe as mãos, emocionada, como se com meu toque, eu pudesse passar-lhe um pouco de esperança e alegria. A tristeza no rosto daquele homem me emudeceu.
Meu dia foi como eu previra, cheio de problemas para resolver, casos complexos aos quais eu, como advogada, deveria dar o meu parecer, justo e preciso.
Despertei feliz, cantando, sem aquele peso nos ombros de todas as manhãs. Eu estava exausta há algum tempo; precisava de férias, mas não poderia tirá-las, por ora.
No caminho do escritório, passei pela pracinha,
para cumprimentar meu mais novo amigo. Beber de sua sabedoria, encantar-me com sua história. Não o vi por ali. Procurei-o nos outros bancos da praça, mas não o encontrei.
Segui meu caminho em direção a mais um dia estressante no trabalho. À tarde, retornando para casa, passei novamente pela praça. Aquele banco onde ele se sentava estava cheio de folhas secas,
mas nada do velho.
Assim o tempo passou, o Inverno chegou, outros Outonos vieram e eu nunca mais pude ver o rosto triste e esperançoso daquele homem que esperava por sua amada. Certamente ela veio e o levou para se amarem em outro universo, emoldurado por muitos Outonos amarelados e belos.