DORA

DORA

Secou o olho direito com o dorso da mão. Inútil. As lágrima teimavam em correr, saltar livres! Olhou-se no espelho que ladeava todo o corredor e desatou a chorar com ainda mais vontade, ou melhor, necessidade.

Por onde olhasse só conseguia ver traços do que fora sua vida nos últimos tempos ... luxo e lixo.

Luxo material, tudo o que ambicionara sempre. Uma linda casa, móveis escolhidos a dedo, objetos de decoração espalhados cá e lá, como que casualmente, mas todos milimetricamente pensados, planejados.

O contraste com o lixo que estava sua relação com Alberto, com seus pais, com seus valores. Desde a vinda para a Villa, percebeu que teria poucas opções de ser feliz. Mas insistira. As promessas do que poderia ser sua vida, falaram mais alto que seus medos. Calou sua angustia. Riu alto para abafar uma dor que gritava.

Alberto parecia não perceber, ou talvez, não se importasse. Parecia feliz.

Chegava sempre as 5. feiras, final de tarde, e se despedia na madrugada de sábado. Trazia presentes. Mimos caros e algumas vezes raros. Como na última semana, quando trouxera um casal de cisnes brancos. Lindos ! Sentira-se feliz por algumas horas.

Mas agora sábado, final de tarde, era novamente só tristeza! Nada, nem os cisnes, nem as jóias, nem as passagens sobre a cômoda a lembrar a viagem próxima ... nada parecia valer a pena.

Queria sim, e somente, a mulher que fora até pouco tempo atrás. Queria de volta a alegria dos sábados, a expectativa dos domingos e até o cansaço antecipado da semana na floricultura.

Até ler, que sempre fora uma paixão, agora a entediava.

Passar o dia entre a casa, o jardim, as ocupações com os empregados, parecia-lhe um peso quase insuportável.

Tornou a secar os olhos e vislumbrou uma possibilidade. Talvez ainda pudesse ser feliz nessa escolha ... se tivesse um filho quem sabe ...Alberto lhe devia isso ....

Abriu o jornal, procurou meticulosamente um anuncio que lhe agradasse e ligou. Estava no período fértil e estava decidida.

Ana Janete
Enviado por Ana Janete em 19/03/2012
Código do texto: T3564119
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