Ainda estou aqui

17

Foi deixando de lado todas as lembranças que Sara resolveu seguir em frente, voltou seu rosto para o espelho, como não fazia há tempos, prendeu o cabelo de uma forma exuberante, pôs nos lábios o batom que encontrou na bolsa da sua irmã e finalmente se sentiu preparada para ir ao lugar que tanto almejara.

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Antes de se levantar da cama, ela respirou fundo, lembrou-se de tudo pelo que havia sofrido, abriu seu livro de cabeceira e leu um bilhete encorajador que dentro estava, despejou as prováveis últimas lágrimas, logo as enxugando, ficou de pé, ligou o som no mais alto volume, mergulhou no chuveiro, penteou o cabelo decidida, nada mais a impediria de ser feliz.

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Há muito tempo não dormia feito uma pedra, não se mexeu durante toda a madrugada, deve ter sonhado com a realização de seus mais fortes e íntimos desejos, às 06:30 descerrou as pálpebras, percebeu a réstia de sol que adentrava pela janela entreaberta, sorriu timidamente, pensou no encontro estimulante que teve na tarde passada.

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Ela havia prometido pra si mesma que não comeria mais chocolate antes de dormir, mas não resistira, abriu a barra que ganhara de presente e devorou a metade sem culpa, bebeu um copo de água com gás, desvestiu-se, adentrou nos lençóis e num pedaço de papel escreveu alguma mensagem que parecia ser um recado para si mesma. Fechou os olhos.

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Ao desligar o telefone, sentiu-se tranquila ao saber que sua mãe estava bem, levantou-se do sofá, brechou pela janela e observou encantada um casal de jovens namorando no jardim da casa à frente, rodopiou e foi à cozinha, sobre a mesa estava embrulhado o presente que ganhara do Arnaldo, um amigo de longa data, quando abriu confirmou que era a sua sobremesa predileta.

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Estava preocupada com sua mãe, que passou uns dias doente da coluna, por isso resolveu telefonar pra ela, quando Dona Solange atendeu, já pareceu radiante, com uma voz animada, ela explicou à Sara que seu êxtase se devia ao fato de que além de estar melhor fisicamente, ela estava feliz por ter sido convidada por um casal de amigos a excursionar pela Europa gratuitamente.

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Após rever o filme que já assistira mais de 20 vezes, ela lavou as louças que havia utilizado, escovou os dentes ao mesmo tempo em que perambulava pela casa, verificou se as portas e janelas estavam trancadas, logo após fixou o olhar no nada, chegou a pensar que viu o nada, mas nada aconteceu. Repentinamente buscou o celular.

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Ao chegar em casa, respirou fundo, largou tudo o que estava em suas mãos e se deitou no chão gelado, sentiu o frio penetrar sua alma, até gostou da sensação. Quando olhou pro relógio da parede, notou que havia estado quase uma hora deitada, lentamente se ergueu, arrumou o que estava jogado, preparou uma limonada pra acompanhar um leve sanduíche, ligou a TV.

09

Andou apressada com passos descompassados, atentou que havia atravessado a pista sem observar se vinham carros, olhou pra cima e se sentiu bem por sua alma estar menos nublada que o céu, a imagem daquele ato impensado não saía de sua cabeça, tentou despistar o pensamento observando um grupo que marchava próximo à grande praça.

08

Assim que apanhou o táxi, tocou seus lábios com as pontas dos dedos, uma alegria queria explodir, mas Sara foi mais racional e decidiu se concentrar no agora, a decisão que tinha pra tomar iria definir os rumos da sua vida. O taxista parou o carro bruscamente e lhe disse que não poderia seguir, pois soube que algo o impediria mais à frente. Ela teve que ir a pé.

07

Quando entrou no elevador, se virou pois ainda não tinha coragem de mirar seu reflexo no espelho, desceu com duas colegas de setor que travavam um diálogo inspirado, quando chegaram ao térreo, sentiu-se aliviada, correu para verificar se tinha algum taxista livre, o único era um rapaz com quem ela nunca havia ido.

06

Passou a tarde toda desfocada dos afazeres incumbidos pelo chefe, o toque do telefone a assustou, era uma cliente desejando dirimir as dúvidas de um serviço de consultoria prestado pela empresa, ela respondeu objetivamente e disse que enviaria um e-mail com um relato pormenorizado. Suas colegas a lembraram da hora, ela desligou o computador e saiu.

05

Assim que Sara chegou na empresa aonde trabalhava, depois do intervalo do almoço, foi direto para a sua mesa, e lá encontrou um pedido escrito pelo coordenador do seu setor, leu-o, mas pareceu não se importar tanto, resolveu concluir umas planilhas que havia iniciado pela manhã, bebeu um copinho com chá de erva doce, logo após conferiu suas últimas mensagens no celular.

04

Depois da separação, nada tão parecido havia ocorrido com ela, começou a ouvir canções que só tocavam em seus ouvidos, enxergou cores que só existiam em sua visão, ela se perguntava se seria capaz de conseguir passar por cima das desilusões para trilhar um novo caminho, descobrir novos tons, permitir-se como nunca dantes. Pôs os pés no chão. Precisava voltar ao trabalho.

03

Começou a flutuar, esqueceu-se do mundo, esqueceu-se que um dia já sentiu angústia, era um dos melhores momentos de sua instável vida, quando se soltaram, parecia que aquilo havia durado uma eternidade, mas ao mesmo tempo queriam mais, ele repetiu a pergunta e disse que a esperaria naquele mesmo lugar, na paz daquele lugar que ele tanto gostava de estar.

02

Ao não ouvir uma resposta concreta à sua indagação, Danilo não titubeou em trazê-la para junto do seu corpo e colocar suas mãos por detrás dos cabelos dela, há mais de dez anos desejara fazer isto, os dois respiraram por igual, não queria mais convencê-la com palavras, queria que ela sentisse o seu amor através do beijo mais sincero que tinha pra oferecer.

01

Quando a viu chegar, ele não escondeu seu entusiasmo, foi até ela e beijou educadamente a sua mão, pediu-lhe que sentasse, mas ela não quis, continuaram a se olhar, ela perguntou pelo motivo de tê-la chamado, sem hesitar ele perguntou se ela estava disposta a começar um relacionamento com ele, que há tanto tempo esperava por ela.

18

Chegando ao Aras, ela ouviu o relinchar de um belo puro sangue inglês, mais parecia uma recepção orquestrada, procurou-o e avistou o dono da localidade perto de uma árvore frondosa e solitária, Danilo a esperava com um buquê de lírios azuis, da cor de seus olhos, ela se aproximou, agradeceu pela espera durante todo o dia, durante toda a vida, e disse sim...

Tchelo
Enviado por Tchelo em 15/03/2012
Código do texto: T3555736
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