Por ela, terceira parte.
Eu tentava pensar nela. Pensar no seu corpo, no seu rosto e nos seus ditos. Tentava afugentar-me nas lembranças, mas, meus olhos não fechavam.
Já não ouvia os ruídos da lareira que antes sonorizavam o ambiente, agora me acompanhavam no silêncio. Eu sentia muito frio, apesar de estar com um cobertor bem vultoso. Mas, o que mais eu temia, era meu medo. Eu sentia muito, muito medo.
Nunca havia percebido como meu quarto era escuro. Todos os móveis e o piso de madeira escura, os cobertores escuros, e eu escuro.
Queria muito que ela chegasse. Choramingava clamando seu nome, a esperança que minha dama amada desse-me um alivio. Queria muito, por favor, venha meu bem.
- Otto?
Meus olhos falharam mais uma vez comigo. Eu a ouvia, mas não conseguia mais responder. Em minha mente eu estava sentado na mesa de escritos, ela chegava com perfume de lavanda. Eu sorria e ela reclamava de dores. Sempre reclamava. Ou, pelo menos do que consigo relembrar recentemente.
- Otto?
Meu corpo tremia, meus dentes batiam. Isso poderia ser meu fim, mas ao menos quem estivesse falando comigo saberia que estaria vivo. Alguém passava a mão sobre mim. Suas mãos eram delicadas, o que me fazia chegar a mais uma evidencia: era minha dama.
- Catharina...
Finalmente conseguir falar algo. Falei aquilo que mais amava. Falei aquilo que meu coração efervescia em meio peito. Meu amor, minha amada e querida Catharina. Ela deveria me ouvir, ela deveria.
- Não Otto. Não...
Não? Senti lágrimas em meu rosto e minha respiração mais ofegante ainda. Sentia medo irreconhecível. Como aquele medo daquele maldito dia. Não podia ser alguém que não fosse ela, Onde está você, Catharina?
Então eu lembrei tudo. O lobo, o sangue, as lágrimas, a morte. Catharina não estava mais comigo. Ela me deixou sozinho. Tempos que não podia sentir seu corpo, seu perfume de lavanda, nada seu eu sentia. E, desde então, refugiei-me nas boas lembranças daquela magnífica mulher.
Por ela eu vivi, e por ela irei de morrer. Minha saúde não me acompanha mais e minha vontade vital também não. E eu, como todos os outros, nos últimos suspiros de vida, não agradeci, e, egocentricamente, pedi.
Oh Deus, por favor, lhe imploro que nesse novo jardim, nesse novo bosque cheio de mato e cheiros, eu possa ter sua companhia. Possa ter comigo, a mulher que aqui, mais amei. Oh Deus, lhe imploro.
Tudo estava escuro. Eu não sentia mais frio. Não sentia mais nada. Estava extasiado, mas aliviado.
- Otto?
Inconfundivelmente, era ela. Sorrimos um ao outro. Por ela, eu estava feliz. Por mim, estava completo. Novamente.
Fim.