JOSÉ

JOSÉ

Pensar nela fazia-o quase perder o folego. Isso desde o primeiro momento em que a vira, um rosto de menina maquiado para parecer uma mulher. Um olhar doce, ingenuo, treinado para ser sensual. Gestos delicados, finos, quase virginais, numa profissão que nada tinha da pureza que toda ela transparecia. Lembra que foi nesse momento, entre aturdido e surpreso que se sentiu irremediavelmente preso. Soube no exato instante que seus dias de liberdade haviam acabado. Mas não foi exatamente a beleza que o impressionou. Trabalhava com ela todos os dias ... lindas atrizes, estonteantes modelos ...era seu trabalho como diretor... avaliar, escolher... não, a beleza simplesmente não o teria impressionado. Foi algo no olhar, na forma de olhar, um gesto ou talvez a falta dele, que o fez parar fascinado pelo turbilhão de emoções que sentiu.

E ainda era assim ...sempre que se encontravam...sempre que pensava nela. E agora, por um ano trabalhariam juntos. Ele iria dirigi-la e seus encantos seriam dele, exclusivos. A peça, inicialmente prevista para uma temporada de seis meses, foi o motivo que precisava para tirá-la da vida antiga, sem no entanto se comprometer em definitivo. Por precaução, preferiu fazer um contrato por doze meses, o salário era irrecusável ... por um momento sentiu-se como se a estivesse comprando ... e era o que estava fazendo, agora com exclusividade.

Ana Janete
Enviado por Ana Janete em 08/03/2012
Código do texto: T3543404
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