MARINA

MARINA

MARINA contou os dias que faltavam. Lembrou do caminho percorrido até

então, vislumbrou seu futuro como atriz. Sonhos, sonhos e sonhos. Todos

elaborados sobre as tantas possibilidades de seu novo trabalho, um contrato

de 12 meses, que literalmente caíra do céu. Sorriu. Um salário de dar inveja,

aliás, toda essa nova situação estava causando as mais diversas reações. Alguns,

amigos de verdade, torciam; noutros, a inveja não permitia admirar a “sorte

grande” de Marina.

E ela mesmo, por vezes, não conseguia acreditar como tudo correra

tão certo, tão “plano” sem planos ...

Amarrou o cabelo num rabo de cavalo a La Brigitte e olhou-se longamente

no espelho. Frente, perfil, bumbum. Tudo certo. A profissão anterior

exigia, a atual agradecia. Repassou o texto pela décima quarta vez. Sorriu para

si mesma. Precisava concentrar-se mais na fala da segunda parte. Sentia que

precisava. Até porque nada do que iria representar falava de si, de seus

segredos, de seus anseios. O que parecia impedi-la de ser mais convincente,

ponderou.

- Tolices! Tudo o que preciso é “vestir a pele da personagem”, no caso, sentir,

agir, falar como Leopolda.

Ato contínuo a esses pensamentos sentiu frio, muito frio. O frio do medo.

O que faria se após representar Leopolda por 12 meses, resolvesse vive-la?

Se Leopolda se apoderasse dela? Se optasse por deixar tudo e todos e viver

a vida real da fantasia?

Pensamentos excitantes, conflitantes. Que lhe davam medo, ao tempo em

que a estimulavam. Precisava ler, ler até assimilar cada palavra, cada tom,

cada gesto. E depois comprar aquele terninho bege, que tinha a cara de Leopolda!

Ana Janete
Enviado por Ana Janete em 08/03/2012
Código do texto: T3543400
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